O ditado popular diz “água
mole pedra dura, tanto bate até que fura”. Este adágio pode ter vários
significados, vamos ver alguns deles.
O portal Pauta
Ambiental do Curso de Jornalismo da UEPG (ver em https://www2.uepg.br/pauta-ambiental/ponta-grossa-ambiental-entra-com-novo-pedido-para-construcao-de-aterro-sanitario-em-area-da-escarpa-devoniana/)
revela que a empresa Ponta Grossa Ambiental tem intenção de retomar o projeto
de construção de aterro sanitário na margem direita do Rio Verde, próximo à
Fazenda Escola da UEPG. É a insistência em projeto apresentado em 2009, que foi
barrado por irregularidades e injustificadas agressões ambientais. Em 2016 a
PGA e seu presidente chegaram a ser condenados por crime ambiental pela 1ª Vara
Federal de Ponta Grossa. Impedida de fazer o aterro em Ponta Grossa, a PGA
construiu e atualmente opera o CTR Vila Velha, no vizinho município de Teixeira
Soares, bem próximo de Ponta Grossa.
As inadequações do pretendido aterro nas margens do Rio
Verde são muitas. Começam por falhas no projeto original, que omite a presença
no local de nascentes e veredas, áreas de proteção permanente protegidas por
lei. Ademais, o terreno do projeto está dentro da Área de Proteção Ambiental da
Escarpa Devoniana, na influência do Parque Nacional dos Campos Gerais e dos
mananciais hídricos da cidade.
A insistência da PGA em viabilizar o projeto que já foi
condenado é a teimosia dos empreendedores que não cedem aos argumentos legais,
técnicos e ambientais que interditaram seu intento. É a obstinação da ânsia de
fartos lucros que quer suplantar a sensatez, mais do que a perseverança da “água
mole” a desagregar o rochedo. No caso, a “pedra dura” é a lei, a cautela
ambiental, que empreendedores desdenham.
Mas o principal motivo que condena a localização do
pretendido projeto da PGA nas margens do Rio Verde remete a um dos principais
dilemas que já começamos a viver na época da emergência climática: o
abastecimento de água. Estudos de 2010 já mostravam que os poços tubulares
profundos, denominados “poços artesianos”, abasteciam de água do Aquífero
Furnas indústrias, hospitais, postos de serviços automotivos, supermercados,
granjas, escolas e outros empreendimentos em Ponta Grossa. A área que recarrega
o Aquífero Furnas é justamente a área a leste da cidade, onde a PGA quer
construir seu projeto. Toda legislação ambiental e normas técnicas relacionadas
à implantação de aterros preconiza que tais áreas são proibitivas.
O Aquífero Furnas é muito especial, produz água de boa
qualidade e em quantidade. Nele, a água mole, perseverando ao longo de milhões
de anos, dissolveu alguns minerais constituintes e criou vazios subterrâneos
que, na superfície, vemos na forma de furnas, túneis e outras feições, como no
Buraco do Padre. A pedra dura furou. Se por um lado este atributo qualifica o
aquífero, por outro o fragiliza. Ele é mais vulnerável à contaminação, que
condenaria definitivamente o manancial subterrâneo.
A emergência climática agrava os riscos de crises hídricas.
A água subterrânea evita esse risco. Ela é farta, de boa qualidade, prescinde de
redes de distribuição, não depende das imprevisíveis chuvas. É um manancial
estratégico.
Colocar em risco o Aquífero Furnas é um crime contra uma
fonte com uso crescente. É incúria com o ambiente e desfaçatez com a população
da cidade.