Esse aforismo decerto tem sido praticado desde os tempos
pré-históricos. Mas é ao longo da história conhecida da humanidade que se
constata a eficácia dessa ancestral estratégia de dominação: dividir os povos
dos territórios a serem dominados, insidiosamente lançando tribos contra
tribos, povos contra povos, etnias contra etnias, religiões contra religiões,
culturas contra culturas, homens contra mulheres... Atualmente, nacionalidades
contra nacionalidades, classes sociais contra classes sociais, ideologias
contra ideologias, até o clímax da cizânia, irmãos contra irmãos.
Certamente há na índole humana teimosos resquícios do
instinto de competição e dominação, inerente à nossa natureza animal e sua sujeição
aos princípios da sobrevivência e da seleção natural. Mas desde que nossa
inteligência tomou ciência de que somos esses seres naturalmente competitivos,
esse traço primitivo tem sido manipulado com o fim de dominar-nos. É assim para
assanhar a ânsia de consumir da sôfrega civilização atual. Possuir é
sobressair-se, ambicionar faz íntima ligação entre a posse de bens e a
ostentação da supremacia dos dominadores. Tornamo-nos consumidores compulsivos,
à mercê de quem lucra com nossa compulsão. E, vítimas da guerra cognitiva,
competimos com nosso conterrâneo, nosso vizinho, nosso irmão. Um instinto tão
forte que nos cega para a compreensão de que, alhures, alguém nos manipula,
dividindo-nos, enfraquecendo-nos, enquanto nos controla e nos explora.
A fraqueza que nos é incutida não o é só na nação, na
etnia, na classe socioeconômica. Manifesta-se também na tibieza do caráter. A
guerra cognitiva é vitoriosa quando subjuga a mente do inimigo. Implanta nela a
desinformação, a ignorância, o negacionismo, a intolerância, a segregação, o
medo, o ódio, a incapacidade de refletir, de discernir, de dialogar, de ter
sensibilidade e empatia. Os subjugados reagem como animais acuados.
Será que seremos capazes de quebrar esse ancestral
arquétipo? Seremos capazes de perceber quantos fantasmas nos são imputados para
que, amedrontados, transformemos nosso próximo num inimigo visceral? Desde a
cuca que vem pegar a criança inquieta, monstro fictício inventado para
assustá-la e controlá-la, até o apregoado perigo, não menos fictício, da outra
ideologia, da outra religião, da outra cultura, são muitas maldosas criações
para nos provocar medo, nos dividir e dominar.
Dominação não é só de um país sobre outros, como temos
constatado hoje com a ânsia estadunidense de submeter hegemonicamente todo o
mundo. Tão perversa e tão global quanto ela é a dominação econômica, num
arranjo universal onde uma elite usufrui dos benefícios da riqueza produzida
pelo trabalho de uma imensa maioria excluída e empobrecida.
Na verdade, todas as formas de dominação – territorial, cognitiva,
econômica, racial, de gênero – estão ligadas. São expressão única do impulso
primitivo, agora manipulado por moderníssima tecnologia, com apurados métodos
científicos. Se quisermos escapar da dominação de quem nos divide, para
alcançarmos a emancipação e a liberdade pessoal, e a soberania de nosso País, é
essencial que deixemos de ter nossos instintos manipulados. Isso é possível.
Basta cultivarmos e cuidarmos de nossos princípios e convicções – nossa cultura
– com mais força que o nosso inimigo invisível da guerra cognitiva que já nos
foi declarada.
Nossa consciência, desde que apelemos a ela, é muito mais
poderosa que esse inimigo estranho que quer nos dominar.