Publicado no Jornal da Manhã em 18/03/2021.
Um consenso atual é que estamos em crise.
Ambiental, econômica, sanitária, política, social. Estão também em crise as
religiões, os valores éticos e morais. Tememos o futuro, estamos
desesperançados, fazemos guerra por motivos econômicos, religiosos, étnicos,
políticos e por não suportarmos a paz. Em suma, a civilização está em crise. Não é
uma constatação pessimista, é uma realidade. Que nos faz pensar em oportunidade
de encontrar novos caminhos, mais adequados para o presente estágio de evolução
da humanidade, superpopulosa e com tanta tecnologia e conhecimento.
Por certo transformar a crise atual em
um passo evolutivo não vai ser tarefa fácil. Vai ser um árduo desafio, que vai
colocar à prova a capacidade de avançarmos na evolução. A pandemia de Covid-19
está agudizando questões essenciais: economia ou meio ambiente, saúde e vida;
educação e trabalho presencial ou virtual; estatização ou privatização? Por
trás destas questões mais evidentes, outras mais nebulosas: os seres humanos
acreditam ou não na ciência; são naturalmente individualistas, ambiciosos e
egocêntricos ou são capazes de ser cooperativos e solidários; somos seres
realmente sociais, no sentido mais amplo da palavra, ou somos egoístas,
prepotentes, agressivos, enfim, fascistas e ditatoriais?
O sistema econômico segregacionista, injusto,
elitista e promotor da exclusão, o meio ambiente explorado à exaustão,
comprometendo a capacidade de sustentar a vida, as guerras infindáveis, as
recorrentes pandemias, os sucessivos golpes obscurantistas que reinstalam
governos tirânicos e fascistas, tudo é resultado da natureza humana, que se
manifesta na sociedade, na civilização que vivemos. Não é algo peculiar de um
povo ou país, é global. Só para citar alguns exemplos recentes, Itália, Rússia,
Alemanha, Espanha, Portugal, Israel-Palestina, Chile, Camboja, Ruanda, EUA,
Brasil... A lista é enorme, independente da situação econômica e cultural dos
países. A origem dos problemas é o ser humano, as crises só o refletem.
O desafio somos nós, os seres humanos.
Temos como superar a agressividade, o egoísmo, expressões instintivas de nosso
cérebro reptiliano, e evoluir para algo mais civilizado? Por certo que temos! O
cérebro límbico (dos mamíferos) e o neocórtex (dos humanos) já nos capacitaram o
afeto para cuidar da prole e a racionalidade para nos comunicarmos,
calcularmos, planejarmos, inventarmos.
Muitos já afirmam que a hipófise, a
glândula relativamente pequena situada na base do cérebro, constitui o correlato
encefálico da criatividade, liberdade, compaixão, intuição, clarividência,
espiritualidade, altruísmo. Parece então que, se a evolução do réptil para o
mamífero dependeu do crescimento do cérebro límbico, a evolução do mamífero
para o humano atual dependeu do crescimento do neocórtex, então a evolução do
humano atual para o humano evoluído dependeria do avanço da atividade e das
manifestações da hipófise.
Ao que tudo indica, o progresso da
manifestação da hipófise e o surgimento do novo humano é questão de tempo, uma
regra evolutiva. Resta saber se nossos recalcitrantes instintos reptilianos não
vão truncar bruscamente a evolução natural.