sexta-feira, 27 de setembro de 2019

O mea-culpa do PT e o bode expiatório



Impressionante! Até o governador do Maranhão, que é do PCdoB, quando entrevistado foi cobrado pelos jornalistas: ─ Quando é que o PT vai fazer o necessário mea-culpa?
Com certeza é bom que se faça um mea-culpa, uma autoavaliação para tentar compreender como o Brasil chegou à situação em que se encontra no que diz respeito à economia, ao emprego, à segurança, à educação, aos valores republicanos e humanitários, aos cuidados com o meio ambiente, à imagem internacional, à moral do povo. E ao PT, que governou o país por mais de uma década, cabe uma parcela de responsabilidade nesse necessário mea-culpa. Mas, lembremo-nos, na primeira década de governo do PT o Brasil viveu seus melhores momentos dos últimos tempos. A economia ia bem, o povo tinha trabalho e prosperava, o país crescia, era soberano e respeitado internacionalmente.
O que aconteceu então? Foi a corrupção imputada ao partido que travou e fez retroceder o país? Sem dúvida a corrupção é uma doença crônica que tem debilitado o Brasil, mas ela tem existido desde sempre, não foi criada nem aprofundada nos anos do PT. Já nos esquecemos dos colossais escândalos do Banespa em São Paulo, do Banestado no Paraná, da chamada “privataria tucana” em que bancos estatais foram utilizados e falidos para desviar fortunas descomunais resultantes de fraudes na privatização de empresas igualmente estatais.
Cobrar que o PT faça o mea-culpa pela situação do país é um caso típico do bode expiatório que acaba levando a culpa de todos aqueles que se recusam a reconhecê-la em si mesmos. A começar, qual a culpa dos jornalistas, da mídia, que hoje cobra o PT? O jornalismo brasileiro é comprometido com a verdade, é informativo e isento? Ou é manipulador e partidário? E os legisladores, têm legislado em prol do interesse do país, do benefício coletivo? E o judiciário, tem julgado com firmeza e imparcialidade, sua ação tem coibido abusos e violências? O que foi feito de Eduardo Cunha, de Paulo Preto, do Queiroz, dos mandantes do assassinato de Marielle, dos responsáveis por Mariana, Brumadinho, os incêndios na Amazônia? E o povo, que escolhe pelo voto direto os legisladores e os governantes, quais critérios tem utilizado em suas escolhas? E como tem se engajado para fazer com que os eleitos depois permaneçam fiéis a compromissos assumidos mas esquecidos? E os partidos de oposição ao PT, que têm os mesmos vícios, se não piorados, mas que os imputam ao adversário e que deliberadamente minaram o governo Dilma? E o empresariado, que assustado com a ascensão de parcelas significativas da população antes excluída sabotou os investimentos necessários para o crescimento e o emprego? E a nossa soberania, como anda? Não nos damos conta que, agora que somos autossuficientes e exportadores de petróleo, depois das descobertas do pré-sal, os preços dos derivados oscilam no Brasil à mercê de cotações internacionais ao bel prazer do cartel das gigantes do óleo que não relutam em provocar guerras e destruir países na defesa de seus ganhos?
Sim, o Brasil carece de um urgente mea-culpa. Mas se queremos de fato reconhecer erros para repará-los, não podemos começar cometendo o grave erro de transferir a culpa para o bode expiatório PT. Isso só faria perpetuar os erros. Todos temos que nos repensar, repensar o Brasil. Nosso país é por demais grandioso, que imenso fracasso o nosso se o deixarmos malograr.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Decidindo o futuro da nação (uma ficção verossímil de humor)


O maior estatístico do país, bem como o engenheiro mais renomado e o político líder do governo no congresso foram chamados às pressas ao gabinete do presidente. Ele tinha uma questão urgente e embaraçosa que precisava de solução imediata, os assessores mais diretos não estavam conseguindo respondê-la.

Assim que os chamados reuniram-se na sala do palácio com o presidente, este fez os auxiliares se retirarem, só ficaram os quatro homens.

- Senhores, convoquei-os porque o futuro da nação depende de uma decisão que não estamos conseguindo tomar sem a ajuda de especialistas com a as vossas credenciais.

Silêncio, suspense. Todos aguardavam ansiosos, imóveis.

- A questão é a seguinte: quanto é dois mais dois?

O estatístico sacou de seu tablet, calculou por um bom tempo usando fórmulas complicadíssimas, por fim pronunciou-se:

- Excelência, o resultado é 3,9999999999999999999...

O presidente, aparentemente insatisfeito, encarou o engenheiro. Este sacou possante calculadora que trazia ao cinto, e pôs-se também a dedilhá-la. Após algum tempo, respondeu:

- O resultado, levando-se em conta fatores de segurança, certamente situa-se entre três e cinco!

O presidente, ainda insatisfeito, com ares de quem tentava a última chance, encarou então o político. Este pediu para retirar-se por um instante, precisava fazer algumas consultas sigilosas. Logo voltou, aproximou-se do presidente e sussurrou:

- Senhor presidente, qual o número que V. Ex.ª precisa?


"Piada" ouvida de um consultor internacional italiano em 1985. Na ocasião, as profissões dos três convocados eram outras.


terça-feira, 17 de setembro de 2019

Quanta ignorância!

Publicado no Jornal da Manhã em 19/09/2019.

O desfile de 15 de setembro em comemoração aos 196 anos de Ponta Grossa causou furor entre as velhas oligarquias da cidade, que ainda não se deram conta de que não estamos mais no tempo das sesmarias nem da monarquia. Os velhos oligarcas conservam ideias que parecem voltar aos tempos de fundação da cidade. Escandalizaram-se com a Professora secretária da Educação que desfilou de preto e com frase de Paulo Freire estampada no peito.
Mais uma pérola a dar funesta notoriedade à cidade. A Professora manifestar em público seu repúdio ao governo que trata com desprezo a Educação no país revela coragem e discernimento. Ao homenagear em sua camiseta o brasileiro que é considerado mundialmente um dos maiores educadores dos últimos tempos a Professora revela que se mantém lúcida, não se deixou levar pela onda de imbecilização que varre o país.
Sim, nós seres humanos, infelizmente, ainda nos comportamos como as bestas imbecis das quais somos descendentes. Ainda somos idiotizados por mentiras e fantasias que instigam nossos instintos e reflexos condicionados. Comportamo-nos como cães amestrados. No caso, treinados para discriminar, para odiar, para temer, para não refletir.
Felizmente, e é o que faz a Humanidade progredir ao longo da História, já temos um cérebro capaz de raciocinar, é ele que nos ajuda a superar os instintos de sobrevivência e consanguinidade. A Professora mostrou que ainda há gente, como ela, em que o raciocinar está além do instinto e do reflexo condicionado.
Por outro lado, uma boa parcela da população não logra emergir do pântano dos instintos primitivos, não logra ser capaz de fazer funcionar o neocórtex que a evolução e Deus nos deram. Parecem fazer questão de manter o neocórtex adormecido, ou entorpecido. Não compreendem que a educação emancipa. Não sabem o significado de emancipação. Não conseguem deixar de temer o próximo. Não conseguem deixar de discriminar e de odiar. Não conseguem deixar de ser autoritários, violentos e iníquos. Não alcançam a grandeza do significado das palavras liberdade, igualdade, fraternidade.
São vítimas da falta de uma boa Educação, e assim tornam-se agentes em prol da deseducação, perpetuando sua triste realidade.
Quanta ignorância!
Mas todos somos equipados com o neocórtex, que nos dá capacidade de pensar. A natureza no-lo deu. Basta querer despertá-lo, e utilizá-lo. Vamos lá?