sexta-feira, 3 de maio de 2024

O despertar do universo consciente

 Publicado no Jornal da Manhã em 14/05/2024.

O despertar do universo consciente – um manifesto para o futuro da humanidade” (Editora Record, 2024) é o título do inspirado e inspirador livro do internacionalmente renomado físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser. Nele o autor historia nossa ideia de mundo desde a Antiguidade até os dias atuais, passando pela Terra como centro do universo, depois o heliocentrismo, até a consciência de um sistema solar periférico de uma galáxia entre incontáveis outras, cada uma delas com incontáveis estrelas e planetas.

A consciência de que não somos o centro do mundo teria dessacralizado o planeta que acolhe o mistério da vida, da qual somos, talvez, a manifestação mais evoluída. E dessacralizou-se também a espécie humana, a partir de então encarada como a reles população de um ordinário corpo celeste orbitando uma vulgar estrela de quinta grandeza. De acordo com Gleiser, a Terra teria começado a perder seu encantamento no Século XVI, com o modelo heliocêntrico de Nicolau Copérnico. A novidade revoltou a Inquisição, crente do geocentrismo e do ser humano como a criação divina à imagem do criador, situada no centro do universo.

O livro nos conduz ao longo da evolução do conhecimento do universo, da Terra, da proliferação da vida em nosso planeta e da, até agora, nossa solidão cósmica. Estaremos de fato sozinhos nessa imensidão de mundos? Contrapondo-se à decepção da igreja com a revelação científica de que não somos o centro do mundo, Gleiser nos alerta da singularidade de nosso planeta, e do inusitado da vida que aqui grassa.

Nas palavras do autor, um planeta que abriga a vida é um planeta sagrado. Mas o conhecimento, a ciência e a tecnologia parecem ter-nos conduzido a uma falência moral. A civilização atual dessacralizou a natureza, subvertendo o sublime e o místico que os povos originários atribuem à criação do mundo que sustenta a vida. Em sua religiosidade, o mundo e os seres vivos interagem como um organismo único, são a manifestação de fenômenos sagrados.

Atualmente monetarizamos tudo, colocamos preço na natureza e na vida: a terra, o bucólico, o ar puro, a água, o alimento, a liberdade, o conhecimento, a saúde, a alegria, o lazer, a arte, o amor, o sexo, a criatividade, a paz, a religião... Escolhemos trilhar um caminho que arrisca conduzir-nos à extinção de nossa espécie. Talvez até mesmo de toda a vida no planeta. De toda a vida no universo?

Após nos sensibilizar mostrando-nos como a Terra é única no cosmo que conhecemos, e como a vida é um inexplicável e fantástico mistério, o autor nos convoca para o reencontro com o sagrado que se manifesta no mundo e nos organismos vivos. Para as pessoas por demais urbanizadas, sugere, para iniciar esse reencontro, ações bem simples: cultivar um jardim e árvores, frequentar parques com lagos e bosques, caminhar ao longo de rios e das praias, observar os pássaros, os animais, o próximo, o céu, as estrelas...

Não somos superiores à natureza e à vida, mas somos um fenômeno único no universo. Nas palavras de Marcelo Gleiser, “precisamos ressacralizar o mundo”.

5 comentários:

  1. Marcelo Gleiser é uma das referencias que sigo desde sempre.
    Genio da raça.
    abs.
    Carlos SA

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  2. Sim, a modernidade não cumpriu suas promessas, Resta agora ressacralizar o mundo.

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  3. Sempre que venho aqui aprendo algo. 🙏

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  4. "Tudo que é sólido desmancha no ar". A atual aventura da modernidade nos amedronta com os impactos da natureza.

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  5. Em poucas palavras, Mário, você conseguiu nos advertir de que temos uma tarefa importante a fazer. E não podemos perder tempo. Imperdível a leitura desse livro. Vou à procura.

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