A todo momento recebemos confirmação desse aforismo. Desde
o poder – ainda que irrisório – do porteiro ou do síndico do prédio, até o
poder do presidente do império global, o mando corrompe e até enlouquece. Mas
vamos refletir um pouco sobre isso: será mesmo o poder o vilão dessa história?
Parece mais que o poder, seja ele de que natureza for –
hierárquico, político, econômico, pela força bruta, pelo saber –, faculta ao
poderoso dominar e explorar seus oponentes sem o risco de retaliação ou
punição. O poder coloca quem o detém acima das leis, da ética e da moral. A
maioria tende a se beneficiar desse privilégio da impunidade, usa-o perpetrando
injustiças e crimes. Felizmente nem todos são assim, há aqueles que empregam o
poder para o bem coletivo.
Mas não é o poder o criador do ditador que aflora quando as
normas e princípios são burlados. O ditador corrupto não é criado pelo poder;
ele já existia, só é liberado pelo poder. Tem-se afirmado que temos dentro de
nós o anjo e o demônio, o cordeiro e o lobo. Sem o contrato social que o
contém, o lobo fica à vontade para devorar todas as presas ao alcance, e
transgredir todas as regras que o impeçam de extravasar suas selvagens ânsias.
Tudo tem mostrado que temos dentro de nós o lobo e o
cordeiro. Nenhum dos dois parece ser o ideal. Há que domar a ferocidade bestial
do lobo, e há que despertar o cordeiro para que supere sua mansuetude e
submissão. O melhor seria juntar o pacifismo do cordeiro com a assertividade do
lobo. Oxalá o ser humano fosse ao mesmo tempo ferozmente engajado e
angelicamente justo.
Mas não é assim, infelizmente. O vácuo de regras firmes
corrompe e desatina a maioria. Por que é assim? O que podemos fazer para nos
tornarmos seres mais lúcidos, equitativos e solidários, imbuídos do propósito
da prosperidade coletiva?
Talvez o principal motivo de sermos corruptíveis é que,
embora racionais, somos animais; e como tal ainda preservamos na nossa natureza
os primitivos instintos de sobrevivência e competição do lobo. Ademais, a
qualidade de zelo e proteção, característica dos mamíferos, parece que ainda
não foi devidamente compreendida e cultivada entre nós. Veja-se por exemplo as
religiões: no início imbuídas da intenção de compreender, aceitar e acolher,
tornaram-se instrumentos de dominação, de comércio de promessas e indulgências,
de extravasamento de impulsos de intolerância, ódio e crueldade.
Cultivar e fortalecer o anjo existente dentro de nós não é
tarefa fácil. Mas é essencial! Uma educação humanista e não dinheirista, um
sistema econômico inclusivo e justo, um sistema governamental guiado pela
justiça social, uma religião que recuperasse os princípios de compreensão e
amorosidade, seriam passos no rumo de resgatar a humanidade no ser humano.
Mas não é o que temos visto no mundo. O lobo é voraz. Não
quer deixar o cordeiro crescer. Prefere logo devorá-lo, mesmo que ele ainda
seja só um sonho.
Quer conhecer alguém? De-lhe poder! Alguém já disse isso. E é a mais pura verdade!
ResponderExcluirConcordo que o poder mostra que é lobo e quem é cordeiro. Falso ou humilde .
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