quarta-feira, 7 de maio de 2025

O poder corrompe?

 

A todo momento recebemos confirmação desse aforismo. Desde o poder – ainda que irrisório – do porteiro ou do síndico do prédio, até o poder do presidente do império global, o mando corrompe e até enlouquece. Mas vamos refletir um pouco sobre isso: será mesmo o poder o vilão dessa história?

Parece mais que o poder, seja ele de que natureza for – hierárquico, político, econômico, pela força bruta, pelo saber –, faculta ao poderoso dominar e explorar seus oponentes sem o risco de retaliação ou punição. O poder coloca quem o detém acima das leis, da ética e da moral. A maioria tende a se beneficiar desse privilégio da impunidade, usa-o perpetrando injustiças e crimes. Felizmente nem todos são assim, há aqueles que empregam o poder para o bem coletivo.

Mas não é o poder o criador do ditador que aflora quando as normas e princípios são burlados. O ditador corrupto não é criado pelo poder; ele já existia, só é liberado pelo poder. Tem-se afirmado que temos dentro de nós o anjo e o demônio, o cordeiro e o lobo. Sem o contrato social que o contém, o lobo fica à vontade para devorar todas as presas ao alcance, e transgredir todas as regras que o impeçam de extravasar suas selvagens ânsias.

Tudo tem mostrado que temos dentro de nós o lobo e o cordeiro. Nenhum dos dois parece ser o ideal. Há que domar a ferocidade bestial do lobo, e há que despertar o cordeiro para que supere sua mansuetude e submissão. O melhor seria juntar o pacifismo do cordeiro com a assertividade do lobo. Oxalá o ser humano fosse ao mesmo tempo ferozmente engajado e angelicamente justo.

Mas não é assim, infelizmente. O vácuo de regras firmes corrompe e desatina a maioria. Por que é assim? O que podemos fazer para nos tornarmos seres mais lúcidos, equitativos e solidários, imbuídos do propósito da prosperidade coletiva?

Talvez o principal motivo de sermos corruptíveis é que, embora racionais, somos animais; e como tal ainda preservamos na nossa natureza os primitivos instintos de sobrevivência e competição do lobo. Ademais, a qualidade de zelo e proteção, característica dos mamíferos, parece que ainda não foi devidamente compreendida e cultivada entre nós. Veja-se por exemplo as religiões: no início imbuídas da intenção de compreender, aceitar e acolher, tornaram-se instrumentos de dominação, de comércio de promessas e indulgências, de extravasamento de impulsos de intolerância, ódio e crueldade.

Cultivar e fortalecer o anjo existente dentro de nós não é tarefa fácil. Mas é essencial! Uma educação humanista e não dinheirista, um sistema econômico inclusivo e justo, um sistema governamental guiado pela justiça social, uma religião que recuperasse os princípios de compreensão e amorosidade, seriam passos no rumo de resgatar a humanidade no ser humano.

Mas não é o que temos visto no mundo. O lobo é voraz. Não quer deixar o cordeiro crescer. Prefere logo devorá-lo, mesmo que ele ainda seja só um sonho.

2 comentários:

  1. Quer conhecer alguém? De-lhe poder! Alguém já disse isso. E é a mais pura verdade!

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  2. Concordo que o poder mostra que é lobo e quem é cordeiro. Falso ou humilde .

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