segunda-feira, 2 de junho de 2025

Encruzilhada humana

 Publicado no Jornal da Manhã em 03/06/2025.

Estamos vivendo o momento em que a humanidade encontra-se diante de uma encruzilhada crucial: mais de oito bilhões de almas que somos hoje, aprenderemos a conviver com os limites da Mãe Terra e da psicologia humana?

Os sinais de que já ultrapassamos os limites da Mãe Terra são muitos: o aquecimento global, a degradação da camada de ozônio, a poluição das águas, o esgotamento dos solos cultiváveis, a contaminação dos alimentos com agrotóxicos, as condições pandêmicas que criamos, as ilhas flutuantes de descartes plásticos nos oceanos, a degradação das florestas, a extinção recorde de espécies, são só alguns sintomas. As resistências às tentativas de acordos para diminuir estes sintomas revelam que ainda não estamos convencidos que estamos destruindo as condições que suportam a vida humana no planeta. Não são só os países e governos que dão prioridade para a economia e para o poder; muitos indivíduos ainda desdenham quando são alertados que é preciso aprender a cuidar da casa comum, a Terra. Ela é mais vital que o dinheiro e o prestígio, mas a cupidez e a incúria têm mais força.

E os limites da psicologia humana? Nunca antes na história do planeta o atributo que nos distingue das demais espécies – a inventividade – assumiu tamanha importância no equilíbrio – ou desequilíbrio – ambiental e social. Além de sermos hoje mais de oito bilhões – o que por si já causa um impacto incalculável –, criamos tecnologias que permitem que salvemos, ou destruamos, o mundo todo. Gastam-se mais recursos para construir armas – capazes de destruir todo o planeta várias vezes – do que para acabar com a fome, as doenças, a miséria, a ignorância. Somos capazes de enviar o homem à Lua e sondas mapeiam Marte e Júpiter, mas não somos capazes de solucionar conflitos enlouquecidos, que conduzem a segregações, perseguições, guerras e genocídios.

Duas criações mais recentes do engenho humano constituem desafio sem precedentes para testar nosso equilíbrio psicológico: a comunicação digital e a inteligência artificial. A comunicação digital – que possibilita o contato global em tempo real – está se mostrando mais útil para a desinformação e o logro do que para a disseminação do conhecimento e da informação verdadeira. Ela tem sido a principal artimanha usada para manipular o ser humano e convencê-lo a consumir, sejam bens supérfluos, convicções, crenças, preconceitos, ideologias, ódios... Também mostramos não saber lidar com a inteligência artificial. Assim como a comunicação digital, se não soubermos usá-la ela poderá, ao invés de auxiliar-nos, idiotizar-nos, escravizar-nos ou comprometer a criatividade, a originalidade e a identidade humanas. Somos seres passíveis de serem condicionados – assim como os cães de Pavlov –, corremos o risco de termos nossas escolhas dirigidas pela desinformação e pela artificialidade.

Comunicação digital e inteligência artificial não são males sem remédio. Pelo contrário, podem ser bênçãos incomparáveis. Mas, assim como já temos feito com a agricultura, os combustíveis fósseis, a energia nuclear, benesses podem tornar-se fatais. Ter consciência do limite de uso dessas benesses é o desafio maior. Todo remédio é também um veneno, pode ser letal se descuidamos da dose.

Um outro aspecto essencial da natureza humana é a religião. Ela, como religação com o divino, que reconforta e inspira, é fundamental. Mas as igrejas estão deturpando a religião em doutrinas supremacistas, de prosperidade e dominação. É o Deus celestial sendo substituído pelo deus dinheiro e seu vassalo, o mercado. A religião autêntica, formadora de princípios éticos e solidários, também precisa ser recuperada.

O desafio maior da humanidade é conhecer os limites: do próprio ser humano, da natureza. A euforia, a soberba, a ambição, podem ser devastadoras para a espécie humana. É o momento de encará-las, e superá-las.

2 comentários:

  1. Olá,
    Esse mundo é maravilhoso, o problema é o ser humano, vimos na pandemia as incríveis recuperações da natureza sem a nossa presença.
    Antes culpavamos as religiões por alienar os homens, mas na verdade eram bons tempos em que se temia a Deus 🙏

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  2. Nessa altura dos acontecimentos, melhor é agradecer pelos bons momentos da vida por aqui...

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