Em 2003 o Parque Estadual de Vila Velha – PEVV – passou por
um minucioso processo de revitalização: a unidade de conservação foi então
reconhecida na sua função de proteção integral da natureza, e muitos dos
despautérios que antes lá eram cometidos foram corrigidos. Entre eles, o
funcionamento do elevador na Furna 1, a maior do parque. O elevador só não foi
retirado porque se alegou incapacidade técnica de fazê-lo sem provocar riscos
ambientais ainda maiores do que manter o passivo ambiental. Um monstro a
recordar uma época de total incompreensão da razão de ser do parque, a proteção
ambiental, um local de singular patrimônio natural: os arenitos, as furnas, a
Lagoa Dourada, a vegetação de campos e floresta com araucária, plantas e
animais, alguns ameaçados ou endêmicos, como o cacto bola, a suçuarana, o lobo
guará, os peixes nas águas do fundo das furnas e na lagoa.
Em 2003 compreendeu-se que, antes de ser uma atração para
lazer e turismo, o PEVV é, pela sua excepcionalidade, um local de preservação,
onde é possível aprender o funcionamento dos processos naturais na região, e
compreender os serviços que a natureza nos presta, facultando o milagre da vida
saudável. Vila Velha é para ser protegida, é lugar que deve ser tratado como
santuário, laboratório de estudos e de Educação Ambiental, não como fonte de renda.
Em 2003 reconheceu-se o impacto do elevador: óleos
lubrificantes derramados nas águas da furna, ruído, vibrações, dejetos. Tudo
isso impacta os andorinhões, os peixes, as águas, a estabilidade do maciço
rochoso. Reativar o elevador é o clímax do retrocesso desde 2003. O PEVV não é
lugar para festivais, feiras, eventos esportivos, espetáculos. Lá é lugar para
preservar, estudar, aprender, respeitar, reverenciar. Como vivem os andorinhões,
qual seu papel ambiental? Como funciona a diferenciação dos peixes endêmicos
isolados nas furnas? Como são as águas do Aquífero Furnas? Como são os
arenitos, que em profundidade, longe dos olhos, podem ser reservatórios de água
ou hidrocarbonetos? Quais são e como vivem os peixes da Lagoa Dourada e do Rio
Guabiroba? Como funcionam os campos nativos e a floresta com araucária? Como os sistemas naturais da região ajudam a equilibrar o ciclo hidrológico, o controle de pragas, a polinização, a retenção de carbono, o clima? Como os
processos intempéricos modificam e moldam os arenitos e sua função como
aquífero?
Em 2003 compreendeu-se a razão de ser do PEVV:
disciplinou-se a visitação, desativou-se o elevador. O erro foi não removê-lo
definitivamente quando daquele laivo de bom senso. Desde então, os gestores do
parque pouco a pouco vêm substituindo a função ambiental por uma predatória
função de atrativo turístico. O PEVV não tem tido uma gestão ambiental; tem
tido uma gestão financeira. A reativação do elevador é uma decisão que ignora o
que seja uma unidade de conservação de proteção integral, quais suas funções.
Falta o PEVV ter um comitê gestor adequado.
Lamentável! Com as singularidades naturais do PEVV
poderíamos estar aprendendo com a natureza, que nos concede a vida. Entretanto,
transformando-o num produto turístico, estamos violentando quem poderia nos
ensinar.
De retrocesso em retrocesso, vamos envenenando a vida que ainda nos resta. Será que esse é um mal crônico para alegria dos cômicos???
ResponderExcluir