quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Feliz 2017, Brasil

Publicado no Diário dos Campos em 28/12/2016

Que em 2017 tenhamos um ano melhor que 2016!

Que o futebol volte a ser a autêntica expressão do povo brasileiro. Um esporte em que nem sempre o time melhor e mais caro vence, mas em que a garra e a ginga podem superar os fabulosos investimentos. Que continuemos ganhando títulos felizes, como o ouro na Olimpíada. Que as tramas que fabricam resultados e enriquecem investidores fraudulentos afastem-se do nosso futebol. Que os craques voltem a jogar pela camisa, pelo país, e não pelos dólares. Que futebol continue sendo sinônimo de alegria, de descontração, de jogo de equipe e de identidade de um povo que emergiu do complexo de vira-lata graças às conquistas da seleção canarinha nos idos de 1958 e 1962. Que times que são exemplo de êxito, de administração competente, parcimônia nos gastos e empatia com sua torcida e cidade não sejam dizimados por colossais negligências aeronáuticas que causam comoção mundial. Que os estádios encham-se de famílias e torcedores pacíficos em busca de um sadio lazer. Que o futebol seja o esporte do povo, livre da manipulação de gigantes midiáticos e de interesses escusos. Que o horário dos jogos não tenha de competir com o horário dos doutrinadores jornal e novela. Que as torcidas violentas extingam-se.

Que o povo volte a ser alegre, amistoso e hospitaleiro, características que já foram marca mundial do brasileiro. Que discordâncias sobre o futebol, a política e a religião não sejam motivos para intrigas e muito menos para iras inexplicáveis. Nossos avós já diziam que não se acirram discussões de tais assuntos com os amigos se não queremos perdê-los. Que voltemos a confrontar nossas opiniões firme mas pacificamente, aceitando e respeitando a diferença, que ela é justamente a maior riqueza do povo brasileiro. Basta dos ódios que estão sendo cultivados no seio de nossa gente amistosa, seja por coisas mais complexas como ideologias e religiões, seja por coisas mais banais como o time de futebol. Ideologias mais inclusivas prosperarão se aceitarmos debatê-las com serenidade.

Que nunca nos esqueçamos do privilégio que é vivermos no Brasil. Um país continental de riquezas e belezas naturais vastíssimas, que faz inveja a todo o mundo. Que saibamos cuidar de nosso país para que essa inveja não se transforme em pilhagem. E tenhamos orgulho do privilégio de fazer parte do povo brasileiro. Dizem alguns que o Brasil é um esforço dos céus para o congraçamento de raças, credos, culturas... Desta mistura que é o nosso povo deverá emergir o cidadão do futuro, tolerante, solidário, ciente das bênçãos que vêm com a compreensão da alteridade.

Que qualidades de caráter tais como a honestidade, a tolerância, a solidariedade, a responsabilidade, a ética, a perseverança, a serenidade, a sabedoria fortaleçam-se na alma e na identidade do povo brasileiro. E que estas qualidades façam com que nossos sonhos e esperanças de um país grandioso deixem de ser adiadas para um futuro incerto, e realizem-se no presente.

Que os dirigentes, os tomadores de decisão de nosso país, sofram todos de uma misteriosa epidemia que os metamorfoseiem e os façam valorizar mais interesses públicos, coletivos, que seus interesses pessoais. Que eles passem a ser inspirados pelas personalidades iluminadas que já passaram pela nossa história global, Cristo, Buda, Maomé, Mahatma Gandhi, Indira Gandhi, Mandela, Chico Mendes, John Lennon, Cora Coralina e tantos outros, e encham-se de urbanidade e patriotismo. Que coloquem acima de tudo a honestidade, o espírito público, a inclusão social, a distribuição da renda e a justiça social, a defesa da soberania nacional, o respeito ao patrimônio público construído ao longo de décadas.

E que nós, cidadãos comuns, nos preparemos, ao longo de 2017, para as escolhas de novos dirigentes que vamos fazer em 2018. Que até 2018 já estejamos sabendo reconhecer quem são os ainda obstinados oportunistas, e saibamos distinguir os estadistas que saberão defender o país da sanha dos falcões que estão vigiando para rapinar a identidade, as riquezas e as empresas brasileiras.