sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Feliz 2022, Brasil!

 Publicado no Jornal da Manhã em 29/12/2021.

O que desejar ao Brasil e aos brasileiros em 2022?

Em primeiro lugar, que superemos a pandemia e tudo o que ela nos impôs nos últimos dois anos: medo, reclusão, perdas, luto, angústias, recessão, desemprego, açodamentos, discórdias... Que, com a pandemia, aprendamos a enfrentar crises com serenidade e sabedoria. Dons que nos serão necessários em futuros enfrentamentos.

Que os ensinamentos da pandemia nos façam ver o que significa o negacionismo: o escárnio da realidade, da verdade, da compreensão, reveladas pelo saber alcançado pela humanidade. Que deixemos de negar quem somos, de onde viemos, onde estamos, com quem estamos, aonde vamos. Que abandonemos as convicções vazias e espúrias. Que nos tornemos capazes de olhar para o mundo fora de nós mesmos. Que nos encantemos com a diversidade, a novidade edificante. Negar o negacionismo será o dizer sim para a tolerância, o diálogo, a humildade para reconhecer que todos estamos nos construindo, uns com os outros. E que aceitemos que a ciência é sempre a melhor aproximação que temos da realidade, a soma milenar dos esforços para elucidar. E que o saber é sempre incompleto, provisório. Estamos sempre aprendendo.

O negacionismo é irmão da irracionalidade, da mentira e do ódio. Eles andam de mãos dadas. Se não formos capazes de enxergar além de nossas crenças, não seremos capazes de discernir entre o real e o inventado, nem de aceitar as percepções de mundo que diferem da nossa. E não toleraríamos quem pensa diferente das nossas esquisitices. Se irracionais e odientos, estaríamos negando as maiores bênçãos que a providência e a evolução natural nos concederam: a razão e a compaixão.

Que ultrapassemos o estágio de fascínio com as novas tecnologias. Que tenhamos discernimento de ver que elas podem nos aproximar ou nos alienar; nos libertar ou nos escravizar; nos enternecer ou nos embrutecer; nos esclarecer ou nos manipular. Que as tecnologias sempre estejam a nosso serviço, e não nós delas a mercê. Que nunca sejamos transformados em deslumbrados, hipnotizados e cegos consumidores de coisas e enganosas convicções.

 Que logremos ver e nos comover com o milagre da natureza e da vida. Uma fantástica combinação de virtudes faz a Terra ser um planeta povoado por uma miríade de espécies, que se multiplicam, evoluem, interagem. Que esse milagre seja reconhecido, venerado e protegido pela mais ameaçadora e promissora dessas espécies: o ser humano.

Que as eleições de 2022 sejam uma oportunidade de exercitar a ética, a solidariedade, a amorosidade, a esperança. Se formos bem sucedidos neste exercício, enfim poderemos deixar de ser o país do futuro, e tornarmo-nos uma grande nação. Estaríamos então fazendo jus a duas dádivas que nos distinguem na Terra: a riqueza natural de nosso país e a mestiçagem de povos e raças que aqui sucedeu.

Que o Brasil se torne uma nação soberana, e o brasileiro um povo íntegro, liberto e feliz, identificado com a grandeza de sua pátria.

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

“Não olhe para cima” – um filme perturbador

Foi recentemente lançado na Netflix o filme “Não olhe para cima” (2021, direção de Adan McKay, com Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Strip e Cate Blanchett nos papéis principais). O filme é classificado como comédia, e realmente faz rir em muitos momentos. Aquele riso que nos escapa insubmisso quando nos damos conta de quão patéticos somos, nós os seres humanos, mesmo quando se trata de assuntos vitais, como o futuro do planeta e a sobrevivência da espécie.

O filme consegue a proeza de ser, então, uma comédia perturbadora. Ele nos segura incomodados muito tempo depois de vê-lo, fazendo-nos refletir sobre as insólitas verdades que nos escancara. Comédia realista satírica talvez fosse uma classificação mais fiel, se ela existisse. Trata-se de dois astrônomos, interpretados por DiCaprio e Jennifer Lawrence, que descobrem, seis meses antes do impacto, um apocalíptico cometa a caminho da Terra. E as peripécias dos dois lidando com sua descoberta, tentando alertar a humanidade para a inevitável catástrofe e a destruição total, e colhendo, em resposta, as atitudes desencontradas dos governantes, da grande mídia, dos mercadores de tecnologia, da população em geral...

É impossível não comparar a trama do filme com a realidade que vivemos hoje, o incrédulo comportamento da humanidade frente às evidências de agudas crises ambientais, econômicas e sociais: aquecimento global, mudanças climáticas, extinção de espécies, pandemia, poluição da água e do ar, bancarrotas financeiras, concentração de renda, exclusão social, negacionismo, intolerâncias, fanatismos, criminalidade... O filme tem a vantagem de poder reduzir o intervalo de tempo, seis meses, até que a hesitação e a negligência humana possam, eventualmente, conduzir a um desfecho terminal. A realidade é diferente, as crises verídicas são mais insidiosas, disfarçam e diluem na lentidão seus efeitos devastadores.

Este é um daqueles filmes que, por outro lado, ainda nos dão esperança de que a humanidade possa encontrar um caminho de salvação. Afinal, Hollywood é, no geral, uma monstruosa fábrica de ilusões, que visa manter a humanidade submissa à fantasia que tudo vai bem com a desordem mundial atual, que os EUA são o exemplo de sucesso a ser seguido pelo resto do mundo, o país do glamour, da abundância, da liberdade, da justiça e dos direitos humanos. “Não olhe para cima” nos revela que o cinema continua cumprindo seu papel de sétima arte, e como tal é capaz de ir além da fantasia, do logro e do entretenimento. Ainda nos comove e faz-nos refletir sobre a crua realidade.

O título “Não olhe para cima” (no original em inglês “Don’t look up”) não poderia ser mais oportuno. Olhar para cima, no filme, seria olhar para o céu e ver o cometa aproximando-se da Terra. Seria dignar-se a levantar os olhos para enxergar a realidade, o que grande parte da população nega-se a fazer, por motivos diversos: interesses políticos e econômicos, medo, misticismo, ignorância, negacionismo...

Um filme imperdível. Não deixem de olhar para ele. Será um olhar para um retrato cinematográfico da realidade.

 

sábado, 18 de dezembro de 2021

Leonardo Boff – “Passos para derrotar o fascismo e a política do ódio”

De https://leonardoboff.org/2021/12/17/passos-para-derrotar-o-fascismo-e-a-politica-do-odio/ - 17/12/2021.

Este artigo é dedicado aos que lutam pela democracia ferida e pelo resgate da nação devastada.

"Forças políticas, inimigas da vida, se aliaram ao Coronavírus e estão favorecendo a dizimação de mais de 600 mil vidas. Seu objetivo consiste em nos conduzir aos tempos pré-modernos, desmantelando nossa cultura e nossa ciência, suprimindo direitos trabalhistas e previdenciários, difundindo mentiras, ódio covarde aos pobres, aos indígenas, aos quilombolas, aos afrodescendentes, aos homoafetivos e aos LGBTI.

Ideologicamente tais forças são ultraconservadoras com cariz nitidamente fascista. Galgaram o mais alto poder da república. O representante-mor destas forças quer, por todos os meios, mesmo ao arrepio da lei, se reeleger. Como parlamentar magnificou torturadores e defendeu ditaduras. Como chefe de estado foi leniente com as grandes queimadas da floresta amazônica, com os madeireiros e com a intrusão das mineradoras e do garimpo, inclusive em terras indígenas. Cometeu crimes contra a humanidade por seu negacionismo em relação aos imunizantes do Covid-19 e se mostrou insensível e sem nenhuma empatia face ao sofrimento das milhares de famílias enlutadas e aos milhões de desempregados e famintos.

Infelizmente constatamos a fragilidade, até a omissão de nossas instituições oficiais ou jurídicas e a baixa intensidade de nossa democracia que, medida pela justiça social e pelo respeito aos direitos, se parece antes uma imensa farsa oficial. Nada ou pouco se fez para afastar esta figura sinistra, autoritária e fascistoide. Não lhes é permitido assistirem, impassíveis, ao esfacelamento populacional, cultural, político e espiritual de nosso país.

Face a esta tragédia histórica, precisamos, pela via eleitoral, frear a pulsão de morte, presente no poder executivo e em seus auxiliares. Impõe-se infligir uma derrota eleitoral fragorosa a este que se mostrou insano, indigno, malévolo e incapaz de governar o povo brasileiro. Ele merece ser, legalmente, varrido da cena política e pagar por seus crimes, para que, enfim, possamos viver com um mínimo de desenvolvimento justo e sustentável, com paz social, com franca alegria e com felicidade coletiva.

Para concretizar esta diligência política e ética, nos limites da Constituição e da ordem democrática de direito, importa, ao meu ver,  percorrer os seguintes passos:

Primeiro, garantir, se possível, já no primeiro turno, a vitória para presidente, de alguém com carisma, com confiança das grandes maiorias e com capacidade de nos tirar do poço escuro no qual fomos lançados. Ele já mostrou anteriormente que é capaz de realizar esta redenção. Não carece revelar seu nome pois já despontou, vitorioso, nas pesquisas eleitorais.

Segundo, não basta eleger um presidente com tais características. É fundamental garantir-lhe uma bancada parlamentar numerosa para que o presidencialismo de coalizão não comprometa os ideais e propósitos, presentes nas origens e resgatáveis, como a opção por políticas sociais que atendam às grandes maiorias empobrecidas e oprimidas, com transparência, com a ética da solidariedade a partir dos mais vulneráveis e com e soberania ativa e altiva. Fazer alianças com partidos afinados com propósitos sociais e populares. Igualmente é importante garantir a eleição de governadores e, a seu tempo, de prefeitos e de vereadores que nas regiões e na base deem sustentação ao governo central com sentido de justiça social e de cuidado da vida do povo e da natureza.

Terceiro, – o mais importante – reforçar e, onde for preciso, retomar o trabalho de base, organizando comitês populares de  toda ordem, para que participem e se articulem com as organizações já existentes como da saúde, da educação, da igualdade de gênero e de outros, criando consciência cidadã. Não basta garantir a inserção no sistema vigente, perverso e antipopular, mas criar consciência mudancista, apontando para um outro tipo de sociedade com democracia participativa, social e ecológica.

Esse trabalho de base é imperativo se quisermos criar as condições para uma transformação que vem de baixo e criar movimentos progressistas e libertários que traduzem os sonhos em práticas viáveis e cotidianas. É nesse nível, rés do chão, que começa a se ensaiar o novo e se alimenta a energia necessária para continuar a refundação de um novo Brasil, contra o prolongamento da dependência histórica, contra o vira-lata, presente nas elites do atraso e contra o oligopólio dos meios de comunicação, braço ideológico da classe dominante, herdeira da Casa Grande.

Estamos convencidos de que este sofrido caos destrutivo irá passar e será transformado em promissor caos generativo de uma nova ordem, mais alta, mais justa, fraterna e cuidadora de toda vida: enfim, de um Brasil no qual teremos alegria de viver e conviver com justiça, onde será mais fácil a amorosidade e a jovialidade que caracterizam o melhor de nós mesmos."

 

Leonardo Boff é ecoteólogo, filósofo e escritor e escreveu: Brasil: concluir a refundação ou prolongar a dependência, Vozes 2018; Habitar a Terra: qual o caminho para a fraternidade universal? Vozes, 2021.

 

 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Academia de Letras – outra fogueira de vaidades?

Muito se fala que agremiações de celebridades amiúde funcionam mais como vitrines de egos, redutos de convicções conservadoras e de guerras de vaidades, e não para cultivar interesses coletivos e transformadores. Seria assim com as universidades, os sindicatos, os conselhos profissionais e científicos, os comandos militares, as diretorias públicas e privadas e mesmo os parlamentos, supostos de “representantes do povo”. O egocentrismo seria um onipresente e intransponível traço da natureza humana.

Nas academias de letras parece não ser diferente. O exemplo da Academia Brasileira de Letras, e por certo também das congêneres europeias que a inspiraram, parece confirmar isso. No início de sua história, a ABL condenou o mulato e hoje consagrado Lima Barreto a um “silêncio implacável”, interditando-o em razão de seu senso crítico e atuação combativa. Aos alterosos a verdade incomodava. Viviam a certeza de que a mentira desgasta relacionamentos, a verdade não; a verdade devasta! E assim perpetuavam a civilização do recato e da hipocrisia.

Outros episódios marcam a história da ABL: entre eles, as eleições de Getúlio Vargas e José Sarney, o repúdio vindo de Sérgio Buarque de Holanda, Carlos Drummond de Andrade, Chico Buarque de Holanda ─ Prêmio Camões em 2019 ─ e o longo perrengue com Mario Quintana, que após ter sua candidatura recusada por três vezes, recusou ele mesmo o convite feito pela ABL. Alega-se que o conhecido Poeminho do contra do notável poeta gaúcho seja endereçado aos “imortais” da ABL: todos estes que aí estão/ atravancando meu caminho/ eles passarão/ eu passarinho!

As recentes eleições de Fernanda Montenegro e Gilberto Gil como imortais da ABL e os votos em Daniel Munduruku  parecem demonstrar que ela esteja se abrindo para expoentes da arte, da cultura e da militância, indo muito além da bajulação de ocasião demonstrada na “imortalização” de Getúlio, Sarney e outros, como o general Lyra Tavares, Roberto Marinho e Marco Maciel. Oxalá a ABL esteja finalmente incorporando o princípio expresso em frase do sociólogo ex-ministro da cultura João Luiz Silva “Juca” Ferreira: “Cultura não é uma questão de direita ou esquerda, mas de civilização ou barbárie”.

Possivelmente a abertura mostrada pela ABL decorra dos ares de intolerância que têm soprado nestes nossos tempos, que alertam para a imprescindibilidade da diversidade: compreender e aceitar o diferente é essencial para a sobrevivência da humanidade, e do que há de humano em cada um de nós. O impulso de endogenia, que pode ser comparado ao primordial instinto de sobrevivência, deve ser compensado pela capacidade de reconhecer e assimilar a riqueza da cultura, das virtudes do outro. A endogenia conduz ao nanismo e às atrofias. A inclusão faz prosperar; a xenofobia faz fenecer. A humanidade já superou o tempo de seus ancestrais vertebrados terrestres, os quase répteis pelicossáurios, quando o instinto de sobrevivência e a hostilidade com o diferente era essencial. Hoje, no mundo globalizado e superpovoado, essencial é a empatia, a solidariedade.

Mais que as universidades e os parlamentos, as academias de letras são agremiações imbuídas do desígnio cultural e artístico. Uma missão hoje revestida da amorosa obrigação de enternecer, incluir e expandir, e não segregar e elitizar; de conciliar e edificar, não irar e dividir; de enobrecer, e não amesquinhar.

O primeiro passo é abrir-se para o diferente; com ele vêm as novidades, as transformações. Elas escrevem o porvir.

 

domingo, 5 de dezembro de 2021

Teoria da conspiração ou servidão?

Em novembro de 2021 foi divulgada entrevista com John Kiriakou, ex-agente da CIA, com muitas denúncias sobre a Agência estadunidense. Uma delas, a declaração de que a colaboração secreta entre o governo dos EUA, a Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro é um excelente exemplo de interferência do Tio Sam em outros países, visando neles instalar governos que apóiem a imperialista agenda americana. Segundo o ex-agente, isso não é uma teoria da conspiração, é uma realidade. Antes, os áudios revelados pela “Vaza Jato” em 2019 já mencionavam que os procuradores da fraudulenta operação Lava Jato atribuíam à CIA o “presente” da prisão do ex-presidente Lula (ver o livro “Vaza Jato – os bastidores das reportagens que sacudiram o Brasil”, de Letícia Duarte, Mórula Editorial, 2021).

Kiriakou é um de muitos protagonistas que têm feito contundentes revelações sobre a nefasta ação dos EUA visando preservar seu papel de onipotência mundial, iniciado com a explosão das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki e consolidado com o fim da União Soviética e da guerra fria. Então por qual motivo, entre os cidadãos dos países vítimas da sabotagem estadunidense, estas denúncias ainda são vistas como fantasias inverossímeis?

Antes de Kiriakou, John Perkins, um “consultor econômico” internacional, revelou os esquemas de sabotagem de governos indesejáveis no livro “Confissões de um assassino econômico” (Cultrix, 2005), atualizadas no livro “Novas confissões de um assassino econômico” (Cultrix, 2018). Perkins revela como os assassinos econômicos agem para estrangular economicamente os países e seus governos, submetendo-os aos interesses estadunidenses. E como, caso não sejam bem sucedidos, entram em cena os “chacais”, os assassinos de fato.

Em 2013, o estadunidense Edward Snowden, ex-analista de sistemas da CIA e NSA, revelou aos jornais detalhes do sistema de vigilância global que os EUA exercem secretamente em todo o mundo. Desde então Snowden passou a ser caçado e ameaçado de morte, até encontrar exílio na Rússia.  Seu périplo é descrito nos livros “Sem lugar para se esconder” (Glenn Greenwald, Editora Primeira Pessoa, 2014) e “Eterna vigilância” (E. Snowdem, Editora Planeta, 2019).

Há também as revelações do jornalista australiano fundador do sítio “WeakLeaks”, Julian Assenge, atualmente encarcerado em Londres por ter divulgado, desde 2006, documentos secretos sobretudo sobre a ação dos EUA em países da África e Ásia. O “WeakLeaks” deu origem a livros e ao filme “O quinto poder” (direção de Bill Condon, 2013).

Em 1996 o jornalista estadunidense Gary Webb publicou uma série de artigos sob o título Dark alliance (aliança obscura). Em 1999 reuniu-os no livro denominado “A aliança obscura: a CIA, os contras e a explosão da cocaína e do crack” (tradução do título em inglês). Gary Webb foi encontrado morto em sua casa em 2004, “suicidado” com dois tiros na cabeça! O livro deu origem ao filme “O mensageiro” (direção de Michael Cuesta, 2014). Mais recentemente, o filme “Feito na América” (direção de Doug Liman, 2017) conta a história de traficante recrutado pela CIA, que remete às denúncias de Webb sobre o tráfico ilegal de drogas promovido pela Agência para financiar guerrilhas de oposição a governos eleitos na América Central, não submissos aos EUA.

Há ainda os livros do cientista político e historiador brasileiro Luiz Alberto Moniz Bandeira, repletos de farta documentação, que mostram como funciona o imperialismo na atualidade: “A segunda guerra fria - geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos” (2013, Editora Civilização Brasileira) e “A desordem mundial – o espectro da total dominação” (2016, Editora Civilização Brasileira).

Com tantas revelações documentadas, por qual motivo muitos ainda acreditam que os EUA sejam a pátria da liberdade, da justiça e dos direitos humanos? Será a força da propaganda e da doutrinação, que vai desde a produção hollywoodiana até o controle e as mentiras midiáticas, passando pelo mercado editorial? Será o “complexo de vira-lata” que ainda acomete boa parte dos povos explorados do mundo? Será o comodismo entranhado na natureza humana, que faz preferir a calmaria da submissão à turbulência da contestação? Será o secreto ou declarado desejo de fazer parte da elite que usufrui os privilégios da submissão de povos e países? Será a ignorância e a alienação que fazem crer que a exploração não existe? Será uma soma disso tudo e ainda mais outras razões?

A superação das desigualdades e injustiças do mundo atual depende dos injustiçados e explorados tomarem consciência de que o são, e assim indignar-se, e afinal decidirem organizar-se e lutar. Não serão os privilegiados e os alienados que vão engajar-se nas inadiáveis transformações.

A tarefa então é descobrir o meio de neutralizar tudo aquilo que nos faz preferir o comodismo, a servidão e a crença que tudo não passa de teoria da conspiração.