domingo, 18 de agosto de 2019

Amazônia: um míssil apontado contra o Brasil?

Publicado no Jornal da Manhã em 20/08/2019.

O primeiro alvo atingido seria o Brasil. Depois a Humanidade toda, o planeta Terra.
Muito se tem discutido sobre a importância da proteção da Amazônia. Mas questões essenciais têm sido deixadas de lado.
Sim, a Amazônia é fundamental para o equilíbrio do clima mundial. Sua devastação implicaria em liberar carbono e outros gases estufa num montante que o planeta talvez não consiga suportar sem drásticas mudanças climáticas.
Sim, a Amazônia, e as terras indígenas demarcadas, são fundamentais para mostrar-nos que, ao longo de nossa História de devastadores conquistadores, fomos capazes de aprender algo. Que é necessário garantir ao que ainda resta dos povos originários territórios em que eles consigam preservar sua cultura. E procurar aprender com eles. O uso de ervas medicinais e outras benesses naturais, como conviver em harmonia com a floresta e a natureza, como cultivar uma espiritualidade que fortalece a grandeza da alma humana. A chamada etnociência, que a ciência convencional está aprendendo a valorizar.
Sim, a Amazônia é fundamental pelo que possa ocultar de minérios ainda não descobertos, que poderão ser essenciais num futuro próximo. Mas estamos longe de aprender a ponderar sobre a exequibilidade de explorar esses recursos sem comprometer a floresta. Estamos longe de ter a sobriedade para saber avaliar o que nos é mais vital: os recursos que o subsolo pode esconder ou o suporte para a sobrevivência que a mata já nos revelou.
Sim, a Amazônia é essencial pela sua incomparável biodiversidade, da qual ainda pouco conhecemos os préstimos ambientais operados para o resto do mundo. A floresta com certeza encerra um patrimônio genético que poderá nos revelar aplicações inestimáveis para a Humanidade e para o planeta.
Mas por outros motivos talvez mais essenciais a Amazônia precisa ser preservada. Ela é a fonte dos chamados “rios voadores”. São correntes de ar de grandes altitudes que trazem da floresta a umidade que transforma boa parte do Brasil (no Centro-Oeste, Sudeste e Sul) em áreas férteis, quando nas mesmas latitudes no restante do mundo ocorrem desertos, por conta de circulações atmosféricas que controlam o clima do planeta. Devastar a Amazônia seria secar os rios voadores, seria mais catastrófico que bombardear o Brasil como numa guerra de destruição total.
Uma vez devastada, para quê serviria a Amazônia? Pecuária? Cultivo? Os solos da floresta são os chamados latossolos, solos muito antigos e por isso empobrecidos em nutrientes. A exuberante floresta subsiste graças à reciclagem da matéria orgânica, e os nutrientes nela contidos, que provém da própria renovação da mata. Folhas, galhos, troncos formam a serapilheira que cobre o chão da mata, decompõem-se e são imediatamente reincorporados nas novas plantas que crescem. Ao mesmo tempo, a serapilheira preserva a umidade do solo e o protege da erosão. Desmatar, e o pior, queimar, é quebrar este delicado ciclo, e condenar os solos à erosão e à infertilidade.
Enfim, não perceber a essencialidade da preservação da Amazônia demonstra uma imbecilidade só concebível por uma estupidez sem tamanho, ou por uma sôfrega ambição que não consegue deixar ver além do próprio nariz. Essa imbecilidade é a mão que dispara o míssil de destruição contra o Brasil e o planeta.


quinta-feira, 15 de agosto de 2019

“As guerras do Brasil” e o resgate da História



“As guerras do Brasil” é o título de uma minissérie documentário da Netflix que deve ser vista por todos os brasileiros. São cinco episódios curtos, que nos apresentam pontos de vista que não correspondem à História oficial sobre cinco temas: a colonização e o massacre dos povos originários (os indígenas); a escravidão e o massacre dos negros; a Guerra do Paraguai; a revolução de 1930 que marcou o fim da “República Velha”; a “universidade do crime”, como é chamada a formação de falanges e comandos de criminosos no sistema previdenciário em vigor no país. A seguir algumas passagens desses episódios.
Sobre os povos originários, cuja população poderia chegar a quarenta milhões, e que até hoje chamamos de índios, que para os colonizadores povoariam as Índias, o documentário nos relata como foram vítimas até de inéditas guerras biológicas, dizimados pela varíola e outras doenças propositalmente disseminadas. E o papel dos bandeirantes, heróis oficiais que na verdade eram mercenários cruéis a serviço de inescrupulosos e ambiciosos poderosos.
Sobre a guerra aos negros trazidos da África, o documentário relata o esforço de exterminar os quilombos que se formaram após a “invasão” holandesa, que chegaram a reunir dezenas de milhares de negros foragidos e livres em bem organizadas comunidades. Os negros, essenciais para a economia da cana de açúcar, não eram considerados gente, mas animais de serviço.
Sobre a Guerra do Paraguai, episódio que me pareceu que poderia ter sido melhor esclarecido, nos relata o papel do Brasil ao dar início à guerra, quando interveio no governo do Uruguai. E a obstinação em prosseguir a guerra contra um país já destruído e com uma resistência enfraquecida liderada por um tirano ensandecido. O que não nos explica é o interesse da Inglaterra em deflagrar uma guerra que ao mesmo tempo lhe abriu rentáveis mercados de armas e equipamentos e aniquilou um país que ameaçava emancipar-se e atrapalhar-lhe interesses econômicos e geopolíticos.
Sobre a revolução de 1930, o documentário relata o movimento tenentista que a antecedeu, iniciado em 1922 com a “revolta do Forte de Copacabana”, quando dezoito verdadeiros heróis enfrentaram milhares de soldados num embate simbólico. Os dezoito mártires protestavam contra as fraudes eleitorais e a política viciada dominada por oligarquias que desprezavam o país e o povo. Foram massacrados, mas seu heroísmo iniciou o movimento tenentista que muito contribuiu para o fim da “república velha”.
O episódio “universidade do crime” nos relata a história da origem das falanges e comandos do crime organizado, que dos presídios alastrou-se para as periferias pobres, as polícias e a política. É uma história que vai muito além dos presídios e dos crimes comuns.
Todos os episódios parecem transmitir-nos uma única mensagem: as guerras do Brasil permanecem declaradas nos dias de hoje. Não se trata de luta de classes, mas guerra de classes. Uma guerra de mais de quinhentos anos.

domingo, 4 de agosto de 2019

Você que apoia (ou apoiou) Bolsonaro e a Lava Jato:



- Percebeu que na economia o Brasil está andando para trás, empregos e salários estão encolhendo, e são eles que movem a economia?
- Percebeu que as antes grandes empresas brasileiras, Petrobras, construtoras, aeronáutica, alimentícias, estão sendo sangradas e loteadas graças a acusações de corrupção que acontecem em todo o mundo, mas nos outros países são resolvidas com acordos sigilosos que não esfacelam nem as empresas nem os países?
- Percebeu que a justiça no Brasil nunca antes esteve tão desacreditada, com tantas evidências de facciosismo e iniquidade?
- Percebeu que o país, que já foi símbolo para o mundo de alegria, amizade, prosperidade, soberania, hoje aparece como piada, uma nação desgovernada, com crescente violência e criminalidade, vassala de interesses estrangeiros imperialistas?
- Percebeu que, além das empresas esfaceladas, o desmatamento avança, os agrotóxicos são liberados, crimes hediondos ficam sem solução, o ódio e a discriminação nunca estiveram tão manifestos?
- Percebeu que a Amazônia está sendo tratada como uma virgem a ser deflorada (ou estuprada?) por madeireiros e mineradores, e quem assim a trata parece ignorar que ela é essencial para o equilíbrio ambiental no Brasil?
- Percebeu que a desfaçatez é a atitude perante o desmatamento indiscriminado da Amazônia, embora ele seja mais catastrófico que bombardear o resto do Brasil tal como em uma guerra, pois é a floresta que, com os "rios voadores" que dela provêm, transforma áreas no Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país que deveriam ser desertos em áreas úmidas e férteis?
- Percebeu que temas essenciais para um povo prosperar, educação, cultura, direitos humanos, pesquisa científica, justiça, liberdade de expressão, têm sido negligenciados e proscritos, como o foram nos piores regimes de terror da História?
- Percebeu que o país nunca esteve tão dividido, com estados da federação e regiões inteiras contestando imposições desatinadas do governo federal?
- Percebeu que nunca entre nós se acreditou tanto em teorias obscurantistas, que nos países evoluídos já foram ultrapassadas na Idade Média?
- Percebeu que a miséria cresce a olhos vistos, nos moradores de rua, no desemprego, no afrouxamento dos direitos trabalhistas, no encolhimento da aposentadoria, e que a concentração de renda cresce, em nome de um ilusório crescimento que não acontece?
- Percebeu que nunca antes a opção religiosa foi tão influente na política e em outros setores essenciais da vida pública, acabando com o denominado estado laico?
Não percebeu? Então está na hora de acordar. Tudo isto é parte de um bem articulado plano de entregar o Brasil, e seus imensos recursos naturais, energéticos e a posição geopolítica estratégica, aos tirânicos poderes hegemônicos do planeta, que visam definitivamente transformar o Brasil em seu quintal.
E você está colaborando para isso. Não é só sua culpa, pois um colossal massacre midiático é utilizado para manipular a percepção e opinião dos brasileiros. Esse massacre também conspira para entregar nosso país aos interesses estrangeiros.
Mas você ainda pode redimir-se. Corrija-se!