terça-feira, 18 de abril de 2017

O equívoco do cidadão brasileiro – retrocesso não!

Este texto foi escrito como réplica a texto exaltando as medidas implementadas pelo governo atual, publicado no espaço do leitor de jornal da cidade de Ponta Grossa, no qual o autor identificava-se como um "cidadão brasileiro". Embora enviada mais de uma vez para publicação no mesmo espaço do jornal, esta réplica não foi publicada.

O cidadão brasileiro médio constrói sua opinião na televisão. O Jornal Nacional e o Fantástico são o lastro de suas informações. Então sai às ruas de verde e amarelo, ou engaja-se em estrondosos panelaços, clamando pela derrubada do governo democraticamente eleito. Não se dá conta, mas a chamada grande mídia, a televisão e também jornalões e seus portais na web, replicados numa incompreensível enxurrada de disparates nas redes sociais, vão alimentando no cidadão brasileiro aversão raivosa que chega ao ódio de tudo que possa significar a ideologia do partido do governo deposto. Esquecem que é um partido surgido de lutas sindicais e que de fato é dos trabalhadores.

Não satisfeito, o cidadão brasileiro apóia as reformas em curso pelo novo governo. Quais têm sido estas reformas? A PEC do teto, que congela investimentos em infraestrutura e serviços sociais a pretexto de saldar o enorme déficit público. A reforma do ensino que prioriza disciplinas cognitivas em relação a disciplinas reflexivas, a pretexto de melhorar o nível da educação. A “escola sem partido”, que impede professores de emitirem opinião própria, a pretexto de um ensino imparcial. A reforma trabalhista, que suprime direitos do trabalhador frente aos patrões, a pretexto de legalizar situações já praticadas. A reforma da previdência, que pretende reduzir benefícios e aumentar a contribuição, a pretexto de saldar um alegado insaldável rombo. A defesa de projetos de lei como a anistia à caixa dois nas campanhas, a pretexto da governabilidade.

Mas precisamos questionar a lógica que produz tal opinião construída pelo massacre midiático. A começar do ódio que está sendo nutrido em relação ao Partido dos Trabalhadores e seus governantes. Sim, cometeram erros e frustraram muitos brasileiros que sonham com o Brasil que deixe de ser o país do futuro e se torne a grande nação que nosso rico território e nosso solidário povo mestiço nos destinam a ser. Reconhecer estes erros e corrigi-los é imprescindível. Mas não vamos jogar no lixo os acertos que sempre são acompanhados por erros. Um governo que priorizou os direitos dos trabalhadores, a população pobre, e que procurou tornar o Brasil um país soberano frente a uma rapinagem local e internacional cada vez mais voraz, não pode ser julgado somente pelos erros de não ter tido a capacidade de quebrar seculares estruturas corruptas e interesses espúrios enraizados no poder econômico e na política do país e do mundo. O cidadão deve perguntar-se: qual o motivo da demonização das ideologias que se colocam em prol das classes trabalhadoras e da soberania do país? A quem esta demonização interessa?

Outros questionamentos que precisam ser feitos. Qual o real motivo do imenso déficit público utilizado como pretexto para a PEC do teto? Seriam despesas justas ou seriam os juros escorchantes, que são a maior rubrica de despesas do país, pagos a uma elite financeira que a cada ano que passa fica mais rica, e o povo mais pobre?

E os indicadores que mostram que a cada ano estamos piores em educação, e que são o pretexto da reforma do ensino? Estamos piores porque não sabemos matemática e português, ou porque as disciplinas reflexivas, que formam jovens críticos e questionadores, têm sido propositalmente negligenciadas? O que, junto com a conjuntura caótica, tem desmotivado nossos jovens a se tornarem profissionais bem sucedidos pelo caminho da sólida formação profissional? E qual a finalidade da “escola sem partido”, a não ser o empobrecimento do debate franco que ajuda a fortalecer a cidadania e o engajamento?

E a reforma trabalhista, que privilegia interesses de patrões em detrimento do direito do trabalhador, este sempre a parte mais vulnerável nas negociações? E o alegado rombo da previdência, mas que juristas e economistas alertam que se trata de um rombo forjado, pois a Constituição Cidadã de 1988 estabelece como fontes de recurso do sistema previdenciário arrecadações que nos são cobradas que têm sido sistematicamente desviadas para outros setores do governo?

Para não nos equivocarmos, precisamos refletir. E não sermos presas do reflexo condicionado, que nos faz reagir irracionalmente a estímulos que nos manipulam. Este é o princípio utilizado pelos que só pensam nos próprios ganhos e tentam frear a caminhada do país ao futuro.