Sonhos projetam a realidade. Que tal sonhar que extraímos
as lições da crise que vivemos, acentuada nos últimos meses pela pandemia do
coronavírus? Mas vale ressaltar que a pandemia parece ser só o clímax de uma
crise da nossa civilização que vem se arrastando há décadas, com as tragédias
ambientais e o aquecimento global (desde meados do Século XX), as guerras de
recursos como petróleo, minérios e água (intensificadas nas últimas décadas),
colapsos financeiros e econômicos (2008), sórdida manipulação e deturpação da
informação (escancarada com o Brexit, Trump, Bolsonaro...), enfraquecimento de
democracias, e, enfim, a pandemia do novo coronavírus.
Ainda é cedo, mas já é possível ensaiar algumas lições
fundamentais:
- sistemas econômicos que visam a concentração de renda ao
custo da exclusão social, colocando o mercado sobre a vida, não têm
estabilidade, deflagram tensões sociais, ambientais, econômicas insustentáveis
que desembocam em conflitos insolúveis;
- o Estado precisa ter força suficiente para conter a
animalidade ainda remanescente na natureza humana; e precisa ter meios de
garantir que seja democrático, e não venha a cair nas mãos de ditadores e de
poderes ditatoriais;
- a educação, a cultura, as artes têm que ser prioridades;
povo sem educação, sem discernimento e sem sensibilidade é vítima fácil de
tiranos oportunistas, que são amiúde inescrupulosos e hábeis na manipulação das
massas via mídias servis; um povo esclarecido não permitirá que lhe usurpem a
democracia e a liberdade;
- povos e nações precisam comprometer-se com a paz;
findas as guerras, a humanidade poderá dedicar-se a promover a inclusão social
da imensidão de excluídos, popularizar a saúde, a educação, a cultura, as artes,
a justiça, a moradia digna, o lazer saudável, a ciência, a espiritualidade;
- o ser humano precisa assumir a responsabilidade com o
planeta Terra, a vida em todas as suas formas, os sistemas naturais, o uso
consciente dos recursos que nos são vitais e mais que suficientes se soubermos
utilizá-los com equidade e parcimônia; a Terra é um milagre único, que temos
que aprender a respeitar e a zelar;
- há que se desenvolver a religiosidade, a espiritualidade,
justamente para superar a animalidade remanescente na natureza humana e
alimentar o que já nos germina de divino; a igreja tem de deixar de ser um
instrumento de dominação, de segregação e de comércio; a verdadeira religião deve
retomar a intenção de despertar, de emancipar, de iluminar, de religar a alma
humana com o divino que a transcende;
- a religiosidade e a espiritualidade farão a humanidade
mais fraterna, solidária, sabedora do significado da igualdade, da liberdade e
do zelo com o planeta.
Estas prementes lições não são nenhuma novidade. Vêm nos
sendo ensinadas há milênios. Talvez a única novidade seja a eloquência da
pandemia, que parece querer nos fazer um ultimato:
─ Ou aprendem agora, ou a natureza e o planeta não se responsabilizam
pelas consequências.