sábado, 4 de abril de 2020

Pandemia: Deus escreve certo por linhas tortas



O Mestre contemplava a imensidão e as maravilhas do universo quando, de novo, aquele pontinho azul de brilho especial atraiu-lhe a atenção. Ao mesmo tempo que se destacava pela beleza, ele emitia uma vibração desarmônica, que a sensibilidade do Mestre logo fez captar. Ele, como sempre fazia, dirigiu-se ao seu obsequioso assistente:
─ Pedro, aquele pontinho azul, é mesmo aquele planeta maravilhoso que estou pensando?
─ É sim, Mestre, é a Terra! Aquele milagre único no universo que projetamos nos mínimos detalhes pra que pudesse ter um tipo muito especial de vida. E mais, pra que a vida pudesse evoluir de uma forma fantástica ao longo do tempo, desenvolvendo inteligência, sonhando com alcançar um nível de sabedoria que os igualasse a seus criadores. A Terra tem maravilhas únicas, pra encantar o espírito dos seres vivos que por lá vivem. Os oceanos, as matas, os rios e suas cachoeiras, as montanhas nevadas, as nevascas que cobrem tudo de branco, o outono que avermelha os bosques, os arrebóis que pintam os céus de rubro, as noites sem lua que escancaram a galáxia luminosa, as noites de lua cheia que cobrem a Terra de um brilho práteo, as chuvas que tudo lavam e tudo dessedentam, as primaveras que pintam de colorido as campinas e as matas, as árvores generosas que se carregam de frutos apetitosos, os pássaros canoros que encantam e surpreendem com seus gorjeios... São incontáveis benesses colocadas lá naquele planeta que é uma joia única.
─ Mas me parece que as coisas não andam muito bem por lá? Sinto uma vibração destoante.
─ Pois é, Mestre, a evolução das espécies é sempre aquele processo um tanto imprevisível, com avanços e retrocessos. E às vezes é necessária uma extinção pra desviar de um caminho errado e viabilizar outros mais promissores. Lá na Terra isso já aconteceu várias vezes, mas nunca antes com a inteligência, o gênio inventivo, tão evoluído quanto agora.
─ Lembro-me bem. Já tivemos que cobrir todo o planeta com gelo, várias vezes. E também fizemos cair lá aquele meteorito.
─ Pois é. Mas a espécie que domina a Terra atualmente, que alcançou a inteligência e a engenhosidade, ainda não alcançou a sabedoria e o discernimento. Não conseguem enxergar os milagres do planeta, estão ameaçando-os gravemente. Não conseguem evoluir do egoísmo pra solidariedade. Muitas vezes até mesmo em família há desavenças sangrentas. Guerras de conquista, mortandades, escravidão, miséria, fome, doenças são crueldades comuns, em nome do domínio de uns sobre os outros, em nome de um acúmulo desigual, desnecessário, dos bens que o generoso planeta e o dom da inteligência lhes ofertam. Há muitos que não atinam que há mais que o necessário pro bem estar de todos. Estão comprometendo o planeta, e se destruindo.
─ Nossa, quanta cegueira! É isso a vibração nervosa que sinto vinda de lá!
─ A vibração é a ganância compulsiva, que ainda comanda a espécie atualmente dominante, a humanidade. Que é inteligente, mas prepotente e ignorante.
─ Mas outras vezes já interferimos pra tentar reconduzi-los ao caminho do despertar da sabedoria e da solidariedade, não foi Pedro?
─ Sim, ao longo da História temos interferido, dentro do que nos permite o princípio do livre arbítrio. Foram inúmeras pragas, desastres naturais. O planeta funciona como um grande e complexo organismo vivo, quando uma única espécie ultrapassa os limites de tolerância, o todo responde. Agora estão às voltas com uma nova praga que se espalhou por toda a população humana do planeta.
─ Vai exterminá-los?
─ Ainda não. Só vai alertá-los. É uma tentativa de fazê-los enxergar que a ganância não pode estar à frente do respeito à vida e ao planeta. Se não aprenderem desta vez, da próxima o planeta pode descartá-los definitivamente, e investir na evolução de outra espécie, que se mostre mais sensata.
─ Então é isso, Pedro. De fato, a humanidade está vivendo sua adolescência. Lembro que os fizemos à nossa semelhança, não foi? Está confusa, insegura. Também já fomos assim, há uns treze bilhões de anos atrás. Mas é ela que tem que escolher seu caminho. Torço pra que faça uma boa escolha. São filhos ainda desatinados, mas promissores.

4 comentários:

  1. Como qualquer adolescência, não está sendo fácil, e vai determinar muito quem vamos ser no futuro.

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  2. Poético e esperançoso!
    Digno de vc sempre tão generoso.
    Mas eu discordo.

    Na minha opinião caso esse diálogo se desse não seria possível permitir que essa espécie continuasse destruindo toda a criação.

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  3. Pra mim é um mistério (ainda) como se da a atuação desse Poder divino. Que ele existe e atua é evidente, mas os planos e caminhos que ele usa, não estão ao meu alcance. A minha tendência é sempre confiar que, como diz aquele ensinamento "DEUS FAZ TUDO PELO MELHOR".
    E bola pra frente.
    abs.
    Carlos SA

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  4. Mário san, depois de tantas guerras localizadas, depois de 2 grandes guerras, da ida do homem à Lua, às grandes viagens interplanetárias, seria possível a Humanidade estar ainda na adolescência? O problema, talvez localizado, é que parte da Humanidade vive, ou revive, uma Idade das Trevas, como algumas partes do planeta, que não me atrevo a dizer onde, mas, que avanços já foram alcançados, e que talvez já não estejamos na adolescência ... se não, quando eu me for, não terei presenciado nada além da adolescência deste mundo? Muito pouco para uma existência ...

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