quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Os cinco problemas do Brasil


Poderíamos dizer que os cinco problemas que estão nos fazendo crer que abalam o Brasil sejam a corrupção, o ódio, o complexo de vira-latas, nossa colonização predatória, a história de país escravocrata e exterminador de indígenas. Com certeza todos estes fatores contribuem para o que somos hoje como povo e nação. A corrupção arraigada corrói nossas riquezas e nossa moral. O ódio gera a desunião que impede a solidariedade para o progresso. O tão falado complexo de vira-latas faz-nos sempre almejar o ideal estrangeiro. A colonização predatória, que nos fez quintal rapinado até que para cá veio em fuga a família real portuguesa, nos fez um país sem alma. A prolongada escravatura e a extinção dos indígenas só reforçaram os traços mais primitivos, segregacionistas e cruéis da índole humana.
Alguns desses fatores demandam reflexão. No momento vivemos um surto de ódio sem precedentes, inimaginável para o antes tido como cordial povo brasileiro. O país da miscigenação de raças deveria ser um exemplo de tolerância. Mas não. Ódio entre ideologias, entre classes sociais, entre nordestinos e sulistas, entre os de pele clara ou escura, entre as opções de gênero, religião ou time de futebol. Nunca as diferenças foram tão demonizadas. Carece relembrar como foi, e porque foi, acirrado esse ódio tão generalizado. Convém lembrar que o ódio, ao longo da História, tem sido a arma principal dos dominadores para subjugar os dominados. “Dividir para conquistar”. No Brasil há décadas vem-se cultivando a semente do ódio. Durante a ditadura militar jovens idealistas e nacionalistas cujo crime era pensar e se manifestar eram tachados de subversivos, fazia-se crer que eram o mal da nação. Hoje a mão de ferro dos militares foi substituída pela grande mídia, pelo whatsapp e as mentiras, tantas vezes repetidas que viram verdade. Nunca antes apelou-se tanto para o reflexo condicionado, que obtém respostas irrefletidas tanto de cães de laboratório quanto de mães de família e cidadãos de bem.
Mas os cinco verdadeiros problemas do Brasil são outros. São o petróleo, os minérios, a água potável, a biodiversidade e os solos agricultáveis. Não há riqueza igual no planeta reunida num único país. E essa riqueza gera cobiça dos poderosos. Que não querem ver seu poder ameaçado, e investem pesado para que por aqui nunca prospere uma nação com o povo unido em torno do ideal de justiça social e soberania. Fomentam o ódio, a corrupção, a mentira, a confusão e a divisão. A velha fórmula dividir para conquistar ainda funciona muito bem, renovada com as fantásticas novas tecnologias de informação. Elas evoluíram muito mais rapidamente que nossa capacidade de assimilá-las judiciosamente.
Se sonhamos despertar do berço esplêndido e nos tornarmos uma nação justa, próspera, livre, soberana, antes temos que despertar para quais são os verdadeiros problemas do Brasil.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

O grande erro do PT

Publicado no Jornal da Manhã em 11/10/2018.

Durante a campanha eleitoral, martelou-se a ideia de que a disputa estava polarizada entre o extremo radicalismo da esquerda e o radicalismo extremo do fascismo. E agora, após os resultados do primeiro turno há quem desesperadamente entenda que estamos entre o bolivarianismo e o nazismo.
Mesmo antes, mais agudamente desde 2013, o PT tem sido estigmatizado como o partido da corrupção. Vamos voltar a 1989, quase trinta anos atrás. Na primeira eleição direta pós-ditadura, Lula surpreendentemente chegou ao segundo turno, e ameaçava ganhar as eleições do caçador de marajás criado pela Globo, Fernando Collor. Na semana que antecedeu a decisão do segundo turno vários acontecimentos: o uso passional dos depoimentos de uma ressentida e rancorosa ex-companheira de Lula; a vergonhosa edição do debate Lula X Collor pela Globo beneficiando o caçador de marajás; o estouro do cativeiro de Abílio Diniz na véspera da votação transmitido em rede nacional em tempo real, os sequestradores vestindo camisetas do PT. Só anos mais tarde reconheceram-se as provas de que as camisetas foram criminosamente impostas aos sequestradores, que não tinham nada a ver com o partido. E que a Globo manipulou o debate, e que a ex-companheira era uma irremediável ressentida.
Ou seja, mesmo antes da pecha de partido da corrupção, o PT há muito tempo vem sendo demonizado. Tentaram antes imputar-lhe a pecha de partido dos terroristas e sequestradores, que não colou. E a pecha de único partido da corrupção só colou pelo incomensurável empenho midiático e judicial de exaltar os malfeitos de quadros do PT e esconder aqueles de todos os outros partidos, que igualmente os cometem. Porque infelizmente a corrupção é um ingrediente inescapável da sórdida política brasileira.
A demonização do PT não terminou. Quem não viu Adélio Bispo, o agressor do atentado a Jair Bolsonaro, legalmente considerado perturbado e fanático, vestindo camiseta vermelha quando foi transferido de presídio na semana que antecedeu o primeiro turno? Não conseguiram provar, embora tenham muito tentado, ligação do agressor com o PT, então enfiaram-lhe a camiseta vermelha, um apelo subliminar sem palavras a reflexos condicionados que têm sido inculcados a décadas.
E ligar o PT ao risco do Brasil virar uma Venezuela parece-me a apoteose do desvario dos comportamentos condicionados e dos consensos construídos que por muito tempo serão objeto de estudo de cientistas políticos, psicólogos e sociólogos. O Brasil e a Venezuela têm sim algumas coisas em comum. A primeira delas é terem grandes reservas de petróleo, a principal fonte de energia e matéria prima mundial, e cujo controle está na mão de transnacionais que não toleram qualquer ameaça a seu cartel. A segunda é que os dois países tiveram governos que ousaram sonhar com a soberania nacional, inclusive sobre suas reservas petrolíferas. Mas comparar o PT com o que se passa na Venezuela é uma cegueira só explicável pela facilidade com que o ser humano, tal como os cães de Pavlov, é controlado pelos estímulos repetitivos e pelo reflexo condicionado.
O grande erro do PT é ser o Partido dos Trabalhadores, que nasceu de lutas sindicais, e não capitula abrir mão dos princípios de inclusão e justiça social e soberania nacional. Se ele fosse o Partido do Mercado, o Partido da Hipocrisia, o Partido do Fisiologismo, o Partido Camaleão, o Partido de Aluguel, o Partido da Elite Entreguista, não teria sido vítima de tão agudo e continuado esforço de demonização.
Esse esforço de demonização criou o fenômeno Bolsonaro. Agora os criadores desse fenômeno parecem estar confusos, assustados com sua criatura.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Extremistas radicais



Nesta campanha eleitoral, temos ouvido muito: não é possível ficarmos só com o radical extremismo do fascismo versus o extremismo radical do petismo. É preciso uma terceira via, urgente, pelo bem do Brasil!
Qual é o conceito de extremismo que está sendo aplicado aqui? Antes de refletirmos sobre o extremismo das duas alternativas que parecem estar se consolidando como preferências nas pesquisas eleitorais, vamos nos deter sobre outros extremismos.
No mundo, fala-se no extremismo de terroristas que derrubam prédios, explodem bombas em templos e mercados, atropelam multidões com caminhões desembestados. E que falar de nações que explodem bombas pulverizando cidades inteiras, com suas escolas, seus hospitais, seus templos, toda a sua população civil, parte dela engajada em causas pacifistas e humanitárias? Que falar de nações que com o falso argumento de repressão a armas de destruição em massa invadem e destroem países de cultura milenar com a real finalidade de apoderar-se da principal matéria prima do mundo atual, o petróleo? Que falar de nações que, se não pelo uso das armas, mas com a manipulação da mídia e com doutrinação ideológica compra mercenários e sabotadores infiltrados e interferem no destino de outras nações impondo-lhes governos subservientes ao interesse de lobbies transnacionais em prejuízo das populações e soberania locais?
No contexto brasileiro, fala-se de partidos radicais. Os partidos de esquerda seriam, de acordo com consenso construído pela grande mídia, todos eles radicais. Então que falar dos partidos fisiológicos, que não têm ideologia, ou têm como única ideologia o manter-se no poder, custe o que custar à população, às instituições e ao conceito de ética do país? Que falar dos partidos que adoram o deus mercado, e em sua idolatria sacrificam o povo simples, as empresas e os recursos naturais do país, e a soberania nacional?
Sobre as duas alternativas que estão se consolidando para as próximas eleições: qual o extremismo do PT? Ou extremismo é confundido com os casos de denúncia de corrupção, e o querer manter-se no poder? Então neste caso todos os partidos são igualmente extremistas, nenhum deles escapa das duas acusações. Talvez com a diferença que o PT disputa o poder no voto. Enquanto outros partidos usam campanhas midiáticas insidiosas, odiosas, mentirosas, que estigmatizam, enganam e dividem o país. Ou o extremismo condenável é querer dar oportunidades para o povo simples? E o candidato intolerante, autoritário, truculento e armamentista? Qual o seu extremismo? Acho que a este as manifestações do último sábado dia 29 de setembro no Brasil e no mundo dão já uma boa resposta. Apesar da grande mídia ter-se bastante esforçado para esconder essas manifestações.
A opinião sobre o que seja extremismo radical é criada pela grande mídia, que cumpre seu papel de formadora de consenso utilizando-se das estratégias que são cientificamente pesquisadas e que já foram reveladas e esmiuçadas por diversos pensadores, entre eles o filósofo estadunidense Noam Chomski em seu livro “Controle da mídia – os espetaculares feitos da propaganda” (Graphia Editorial, 2003).
É preciso que aprendamos a pensar por nós mesmos se não quisermos ser como gado tangido, com nossas opiniões manipuladas por uma ciência que se especializa em construir consensos que interessam aos poderosos que dominam o mundo e submetem os países destinados a serem eternas colônias fornecedoras de matérias primas. É preciso que nossa opinião fundamente-se no nosso discernimento, e não em conceitos estranhos e absurdos que nos são inculcados. Como o conceito do que seja extremismo, que está sendo tão evocado no momento.