segunda-feira, 27 de julho de 2020

Confissões de um assassino econômico



Em 2016 o economista e consultor internacional estadunidense John Perkins publicou nos EUA o livro lançado no Brasil com o nome de “Novas confissões de um assassino econômico” (Cultrix, 2018). Ele dá continuidade a um primeiro livro sobre o tema, publicado em 2004.
O autor denuncia o que denomina corporatocracia e seu objetivo, o império global, ambos identificados com os EUA e sua ação no mundo. Ele mesmo teria atuado como assassino econômico na Indonésia, Equador, Colômbia, Panamá, Arábia Saudita, Irã, Iraque, Venezuela e outros países. As vítimas do assassinato são as nações possuidoras de recursos naturais essenciais para os EUA, sobretudo o petróleo, ou as nações que têm importância geopolítica estratégica para a almejada conquista da total dominação.
A forma de operar dos assassinos econômicos é bem definida: aliciar líderes desses países para entrar numa rede mundial de apoio aos EUA, convencê-los a contrair vultosos empréstimos para obras de infraestrutura, realizadas por empresas estadunidenses, enredá-los em uma teia de dívidas que assegura sua submissão e obediência aos interesses da corporatocracia. Em contrapartida, sustentam a liderança dos aliciados nos países subjugados, ainda que seja na forma de tirânicas ditaduras.
Quando a ação dos assassinos econômicos não é bem sucedida, entram em ação os que o autor denomina chacais. Os assassinos de fato. Mas os crimes não são reconhecíveis como tal, são “acidentes”. Foi o caso dos presidentes Jaime Roldós, do Equador, e Omar Torrijos, do Panamá, ambos mortos em acidentes aéreos em 1981. Os dois presidentes eram nacionalistas e contrapunham-se a interesses de petrolíferas estadunidenses no Equador e à soberania dos EUA no Canal do Panamá.
 No livro, John Perkins afirma que o anseio de império global estadunidense está alicerçado na doutrina do “Destino Manifesto”, crença comum entre os estadunidenses na primeira metade do Século XIX, que dizia serem os colonizadores eleitos de Deus, autorizados a exterminar os povos nativos e a subjugar a natureza na conquista do território. Hoje a doutrina expandiu-se, a conquista é global, bem expressa no lema “America First”.
Os livros de John Perkins não abordam o caso do Brasil. Mas sua leitura faz pensar que os acidentes aéreos que cá entre nós mataram Ulysses Guimarães em 1992, Eduardo Campos em 2014, Teori Zavascki em 2017, e mesmo o acidente rodoviário de Juscelino Kubitschek em 1976, possam não ter sido acidentes. Os quatro eram nacionalistas, sua ação contrapunha-se a interesses predatórios da corporatocracia no Brasil. Todos esses acidentes foram considerados suspeitos, foram investigados, mas não se logrou provar que fossem atentados. Da mesma forma que ocorreu com os “acidentes” de Jaime Roldós e Omar Torrijos em 1981.
Outra suposição que emerge da leitura dos livros de John Perkins: se Lula não tivesse sido preso e impedido de disputar as eleições de 2018, provavelmente hoje estaria morto, vítima de algum acidente.


quinta-feira, 2 de julho de 2020

A mentira tem perna curta; e braços longos.

Publicado no Jornal da Manhã em 17/07/2020.

A grande mídia agora se declara a serviço da democracia. Arrepende-se do erro que cometeu. Mas não tem dignidade de admitir o erro. Ao contrário, sempre cobra a autocrítica do PT. Quer que o PT, e as esquerdas, assumam a culpa pelos erros que cometeram, como se fossem eles os culpados pelo desgoverno e barbárie que vivemos hoje no Brasil.
Sim, o PT e as esquerdas erraram. Mas acertaram muito mais que erraram. Quem esconde e distorce isso, como o faz a grande mídia, mente. Por não aceitar uma sociedade com menos privilégios, mais inclusiva, mais lúcida e menos manipulável.
A grande mídia criou a criatura que fugiu de seu controle, e agora a afronta, sufoca-a com seus grandes braços. Um jogo de cena para continuar logrando o povo? Pois a criatura, que agora a grande mídia diz repudiar, faz exatamente aquilo que ela defende e deseja: avilta o trabalho e o trabalhador, privatiza serviços estratégicos (saúde, educação, segurança, saneamento, energia, aviação, etc.), loteia o patrimônio nacional, desdenha o meio ambiente, afrouxa a regulamentação da iniciativa privada, concentra renda e privilégios, isenta rentistas, imbeciliza a educação.
Há quem diga: “Não, a criatura que aí está destruindo o Brasil não era o candidato da grande mídia”. É verdade. Esse talvez tenha sido o mais espetacular erro da grande mídia. Ela não soube prever que estava criando o inqualificável fenômeno Bolsonaro: quando demonizou o PT e os governos de esquerda, quando apoiou o golpe contra o governo democrático eleito, quando louvou o governo fantoche ultraliberal de Temer, quando endeusou as distorções e mentiras da Lava Jato e a prisão de Lula, quando frustrou o sonho de uma sociedade mais justa e inclusiva. Acabou vítima de seu próprio erro, de seu próprio veneno.
Os resultados das urnas de 2018 mostraram duas coisas fundamentais: o poder de manipular o povo, fazendo-o votar na aberração travestida de novidade; e a recusa do povo logrado em escolher o candidato da grande mídia e de seu elitista sonho de plutocracia. Os grandes derrotados de 2018 foram a democracia e o PSDB.
Se a grande mídia agora vai assumir de fato o serviço à democracia, esta é uma alvissareira novidade. Mas a democracia que ela tem em mente será a mesma desejada pelo povo excluído? Que sonha com melhores condições de trabalho, salário e aposentadoria? Com um Estado forte, justo e nacionalista, que controle um setor privado voraz, entreguista, monarquista e escravocrata? E que inspire o orgulho de viver numa nação tão rica, por natureza e pela virtude de seu povo, como o é o Brasil?
Ou a grande mídia ainda é a porta-voz de arraigados instintos selvagens: o egoísmo, a ganância desmesurada? Eles impedem enxergar que a inclusão é o caminho para a superação de graves empecilhos sociais, ambientais e econômicos. Vencê-los seria galgar um degrau na escala civilizatória.
Oxalá seja a esta democracia que a grande mídia esteja declarando servir. Será que é?