Ponta Grossa protagoniza eventos que fazem pensar que a cidade, ou uma parte expressiva de sua população, andam a precisar de sessões no divã de Freud, para tentar exorcizar alguns arraigados atavismos. Entre estes eventos, alguns míticos, podemos mencionar: a cidade que negou o copo d’água ao beato João Maria, e que este em vingança teria amaldiçoado a ela e sua população; a única cidade do Brasil em que Guilherme Afif Domingos, um candidato inexpressivo de um partido inexpressivo, foi o primeiro colocado numa eleição presidencial fortemente polarizada entre dois candidatos, um fabricado pela mídia, outro representando a esquerda de origem popular; a cidade que tem uma associação de empresários que foi acionada pelo Ministério Público por ter proposto publicamente que beneficiários de programas sociais não pudessem votar; a mesma associação que vem a público reiteradamente apoiar o general que se manifestou na mídia a favor da volta da intervenção militar no país (a ditadura militar), o qual por este motivo foi afastado de suas funções pelos seus comandantes; a cidade da vereadora que simulou o próprio sequestro; a cidade cujo time de futebol só conseguiu sagrar-se campeão após um século de existência, e que no ano seguinte foi rebaixado à segunda divisão do campeonato estadual; e, agora, a cidade que organiza acolhida, manifestação e passeata em favor do candidato militar de terceiro escalão à presidência da república que se manifesta abertamente a favor da violência do aparato do Estado, do segregacionismo (homofobia, xenofobia, misoginia, etc.), diz que bandido bom é bandido morto, e outros absurdos que só demonstram quanto é rancoroso e não foi educado aprendendo valores civilizatórios.
O que acontece
com essa provinciana e amedrontada parcela da população de Ponta Grossa, que
embora talvez minoritária, é quem ainda prepondera na sociedade local,
dominando a mídia, elegendo seus representantes e controlando as decisões que
são tomadas na cidade? Talvez só mesmo Freud explique! Talvez o histórico de
pouso de tropeiros itinerantes, que sem raízes territoriais onde fincar a
identidade fincam-na nas ilusões da posse de bens e de posição social? Talvez a
herança de privilegiados sesmeiros que abocanhavam suas posses graças à
subserviência ao poder imperial? Talvez resquício dos tempos da escravidão, em
que casa grande e senzala eram mundos fendidos, assim como hoje pobres e
trabalhadores devem continuar a servir à sanha e ambição insaciável dos
proprietários e empreendedores? Talvez o assustado patrimonialismo de
proprietários rurais que temem ver a ascensão social e econômica de parcelas
maiores da população, limitando seus seculares privilégios? Talvez tudo isso
junto e algo mais?
Na verdade, a
vinda do candidato fascista e a calorosa receptividade que lhe é prometida por
parcela da população hão de ter seu significado em benefício da evolução da
consciência social e cívica da cidade. De acordo com os milenares princípios
filosóficos orientais, ainda muito mal compreendidos entre nós, um extremo, no
caso o retrocesso representado por tais bizarros eventos da elite econômica
ponta-grossense, é a semente do extremo oposto, no caso a evolução para uma
sociedade imbuída dos princípios de igualdade e solidariedade preponderando
sobre a desigualdade, a exclusão, o segregacionismo e a exploração do ser humano
pelo ser humano.
Evocando um
princípio bíblico, que deveria estar norteando todos os cristãos, que
constituem a maior religião do mundo, “bem aventurados os mansos e pacíficos,
pois eles herdarão a Terra”. Bem aventurados os que se empenham em concretizar
uma sociedade com justiça, solidariedade e inclusão social, pois eles
substituirão os que apregoam a violência e o segregacionismo.