Semana
passada, quando da comemoração do Dia Internacional da Mulher (8 de março),
eventos singulares ocorreram em universidades do Paraná. Em Maringá, na UEM,
durante a solenidade de formatura, alunas formandas exibiram cartazes denunciando
assédio sexual. Em Ponta Grossa o DCE – Diretório Central dos Estudantes –
organizou a elaboração e fixação nos locais de estudo de cartazes com frases assediadoras
ditas por professores durante as aulas.
Na verdade
estas não são as primeiras denúncias de assédio nestas universidades e em
outras do Paraná e do Brasil. Agora as denúncias ganham maior intensidade e
repercussão graças aos casos de assédio envolvendo celebridades de Hollywood,
que ganharam o mundo. Não se trata de aumento de casos de assédio, mas de
coragem de denunciá-los, o que parecia muito mais difícil há pouco tempo atrás.
As frases
estampadas em cartazes na UEPG na última semana foram ditas em aula pelos
professores, e pareceriam pueris se comparadas com outras ditas pelos assediadores
às alunas quando não estão em público. E isto acontece dentro das
universidades, o ambiente em tese na vanguarda da sociedade, onde são formados
futuros técnicos, professores e cidadãos. O que esperar deles se seus
professores dão exemplos de vida de quem considera o assédio, moral e sexual,
como uma normalidade? O assédio é herança de uma sociedade arcaica, machista,
segregacionista e truculenta, que considera o abuso e a intimidação como
direitos dos que se situam hierarquicamente acima. Uma herança da escravidão e
do jugo.
Na UEPG, só para
citar um caso, há três anos alunas leram numa reunião carta de repúdio a
professores assediadores, sem citar quais seriam esses professores. Foram
violentamente refutadas pelos professores homens presentes, que diziam considerarem-se
todos acusados, uma vez que não eram nominados os destinatários da carta lida.
Isso diante da mudez das professoras presentes.
A leitura da
carta foi gravada pelos alunos, e apesar de não autorizada pelos professores, a
gravação logo foi postada no Youtube. Isso gerou enorme embaraço,
constrangimento e pronta reação da direção da Universidade, a postagem logo foi
retirada. Mas as ações que se seguiram não visaram apurar a denúncia feita
pelas alunas, mas sim abafar o caso. E assim foi feito. Mediante acordos entre
as alunas e a direção da Universidade, cujos conteúdos nunca foram divulgados,
o caso foi esquecido.
Este episódio
realça a importância da iniciativa do DCE atual de trazer à tona a delicada
questão do assédio e do abuso que ocorrem dentro da Universidade. É hora de um
basta, que signifique real sintonia com as questões de gênero e de igualdade de
direitos que estão a mobilizar mundialmente a sociedade. Não é possível que os
assediadores continuem achando que o assédio, o abuso e a truculência sejam
coisas normais do dia a dia, pois em todo lugar tem sido assim. Não é possível
as vítimas de assédio, abuso e truculência continuarem com medo de denunciar,
pois os denunciados supostamente são o poder, e têm condições de manipular
eventuais iniciativas para apurar acontecimentos. Não é possível que a direção
da Universidade continue a conduzir as denúncias de assédio com o objetivo de
abafá-las e ocultá-las.
Assédio é
crime. A impunidade perante um crime sinaliza com o consentimento para praticar
inúmeras outras infrações, éticas e administrativas, no dia a dia acadêmico. Isso
é omissão. Isso é inadmissível numa Universidade que assuma sua missão de
vanguarda, que se proponha a formar profissionais e cidadãos com as qualidades
que necessitamos para as colossais transformações que nossa sociedade, nosso
país, estão a demandar.
Ainda bem que estamos acordando para essas questões. L
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa Prof. Mário.
ResponderExcluirParabéns por mais essa iniciativa.
ResponderExcluirAgradeço por todas nós
E já está acontecendo de novo esse ano, segundo me informaram. Só lamento.
ResponderExcluirParabéns pela coragem!
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