terça-feira, 13 de março de 2018

Assédio na Universidade

Publicado no Diário dos Campos em 17/03/2018
Semana passada, quando da comemoração do Dia Internacional da Mulher (8 de março), eventos singulares ocorreram em universidades do Paraná. Em Maringá, na UEM, durante a solenidade de formatura, alunas formandas exibiram cartazes denunciando assédio sexual. Em Ponta Grossa o DCE – Diretório Central dos Estudantes – organizou a elaboração e fixação nos locais de estudo de cartazes com frases assediadoras ditas por professores durante as aulas.
Na verdade estas não são as primeiras denúncias de assédio nestas universidades e em outras do Paraná e do Brasil. Agora as denúncias ganham maior intensidade e repercussão graças aos casos de assédio envolvendo celebridades de Hollywood, que ganharam o mundo. Não se trata de aumento de casos de assédio, mas de coragem de denunciá-los, o que parecia muito mais difícil há pouco tempo atrás.
As frases estampadas em cartazes na UEPG na última semana foram ditas em aula pelos professores, e pareceriam pueris se comparadas com outras ditas pelos assediadores às alunas quando não estão em público. E isto acontece dentro das universidades, o ambiente em tese na vanguarda da sociedade, onde são formados futuros técnicos, professores e cidadãos. O que esperar deles se seus professores dão exemplos de vida de quem considera o assédio, moral e sexual, como uma normalidade? O assédio é herança de uma sociedade arcaica, machista, segregacionista e truculenta, que considera o abuso e a intimidação como direitos dos que se situam hierarquicamente acima. Uma herança da escravidão e do jugo.
Na UEPG, só para citar um caso, há três anos alunas leram numa reunião carta de repúdio a professores assediadores, sem citar quais seriam esses professores. Foram violentamente refutadas pelos professores homens presentes, que diziam considerarem-se todos acusados, uma vez que não eram nominados os destinatários da carta lida. Isso diante da mudez das professoras presentes.
A leitura da carta foi gravada pelos alunos, e apesar de não autorizada pelos professores, a gravação logo foi postada no Youtube. Isso gerou enorme embaraço, constrangimento e pronta reação da direção da Universidade, a postagem logo foi retirada. Mas as ações que se seguiram não visaram apurar a denúncia feita pelas alunas, mas sim abafar o caso. E assim foi feito. Mediante acordos entre as alunas e a direção da Universidade, cujos conteúdos nunca foram divulgados, o caso foi esquecido.
Este episódio realça a importância da iniciativa do DCE atual de trazer à tona a delicada questão do assédio e do abuso que ocorrem dentro da Universidade. É hora de um basta, que signifique real sintonia com as questões de gênero e de igualdade de direitos que estão a mobilizar mundialmente a sociedade. Não é possível que os assediadores continuem achando que o assédio, o abuso e a truculência sejam coisas normais do dia a dia, pois em todo lugar tem sido assim. Não é possível as vítimas de assédio, abuso e truculência continuarem com medo de denunciar, pois os denunciados supostamente são o poder, e têm condições de manipular eventuais iniciativas para apurar acontecimentos. Não é possível que a direção da Universidade continue a conduzir as denúncias de assédio com o objetivo de abafá-las e ocultá-las.
Assédio é crime. A impunidade perante um crime sinaliza com o consentimento para praticar inúmeras outras infrações, éticas e administrativas, no dia a dia acadêmico. Isso é omissão. Isso é inadmissível numa Universidade que assuma sua missão de vanguarda, que se proponha a formar profissionais e cidadãos com as qualidades que necessitamos para as colossais transformações que nossa sociedade, nosso país, estão a demandar.

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