Outro dia vi
na web a imperdível entrevista de João Luiz Silva (Juca) Ferreira no programa
Voz Ativa de Belo Horizonte. Uma frase marcante da entrevista: ─ “Cultura e
arte não dividem entre direita e esquerda, dividem entre civilização e
barbárie”.
Nessa
entrevista discute-se, entre outros temas, se pichação é arte, já que o grafite sim é considerado
arte, ele que tem semelhanças (e diferenças!) com o picho. Discussão polêmica.
Na entrevista, na verdade também um debate, entre os entrevistadores/debatedores
havia os defensores e os opositores do picho como arte. O próprio Juca Ferreira
declara que é necessária uma negociação ainda não ocorrida entre os vários
protagonistas da questão, pichador, pichado e o cidadão, uma vez que existem
nítidos conflitos envolvidos.
Sem dúvida é
uma questão delicada. Morador de São Paulo quatro décadas atrás, vi o picho
pouco a pouco disseminar-se pela cidade, até transformar ruas de bairros
inteiros, imputando-lhes um visual caótico, indecifrável, agressivo e
degradante. As pichações agrediam o anteparo que preexistia e o senso estético.
E agrediam-se entre si, competindo e devorando-se umas às outras. E parece-me
que o mesmo fenômeno está a acontecer em Ponta Grossa atualmente.
Sem dúvida o
picho tem alguns atributos muito singulares. Primeiro, é uma forma de
expressão, possivelmente de quem tem dificuldades de encontrar outras formas de
expressão. Segundo, é uma forma de transgressão. E, como diz uma respeitada e
estimada amiga, ─ “Transgredir é preciso.” Sem uma saudável transgressão
estagnaríamos na mesmice. Mas só transgredir não basta. Para evoluir é preciso
também o diálogo, a empatia, que nos permitem discernir qual é a transgressão
benéfica. Terceiro, o picho é também desrespeito. Estranha pelo seu hermetismo,
degrada o que lá existia antes de ser pichado, às vezes um monumento, uma
edificação histórica tombada, ou simplesmente uma parede que o proprietário
zeloso acabou de pintar.
Aí surge o
conflito não solucionado. Haverá solução? Ou será que o conflito, e as
inevitáveis transformações que ele naturalmente gera, é preferível a uma
solução, uma concertação?
Creio ser essa
a ausência de entendimento a que Juca Ferreira se refere. Atrevo-me uma opinião
a respeito, opinião de quem não é da área de arte nem comunicação. Constato
que a ausência de entendimento, em todas as áreas, prospera no mundo atual em
que atuam forças hegemônicas globalizadas que pressionam para uma uniformização
de conceitos e expressões. Isto sufoca e
gera consequente resistência, revolta, competição, desrespeito e agressão.
O que
distingue a espécie humana das demais espécies é a suposta capacidade de refinada
reflexão e comunicação. Mas parece que cada dia estamos exercitando menos esta
capacidade. Não só no campo da expressão, como é o caso do picho. Mas também da
cor da pele, do gênero, da classe social, do lugar de origem, do time de
futebol, da ideologia, do partido político...
Quem é o intolerante e tirânico? Quem picha ou quem condena
o picho?
Como sempre, um bom debate!
ResponderExcluirUma boa a pergunta sobre a intolerância e a tirania. Ambos estão errado pois um tá julgando o outro. E é aí que tudo começa.
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