sábado, 17 de fevereiro de 2018

Lula preso é justiça ou consumação do golpe?



Este texto é réplica ao texto Lula pode e deve ser preso publicado nos jornais Diário dos Campos e Jornal da Manhã de 10/02/18. Foi enviado aos jornais e não foi publicado no Diário dos Campos.
Semana passada jornais de Ponta Grossa estamparam opinião de advogado da cidade afirmando que Lula pode e deve ser preso. Opinião divergente tem um dos juristas de maior reconhecimento no mundo, o italiano Luigi Ferrajoli, que tem se manifestado sobre o julgamento de Lula. Ironicamente, o jurista italiano é um teórico renomado citado com frequência pelos procuradores acusadores de Lula na Lava Jato.
Segundo Ferrajoli o julgamento deu-se com impressionante parcialidade, só explicável pela finalidade de por fim aos governos democráticos de base popular de Lula e Dilma. O processo deu-se de forma inquisitorial, com o juiz, que deveria ser imparcial, assumindo nítido papel de acusador, destruindo o princípio básico da justiça. As evidências dessa parcialidade são: a espetacularização midiática e demonização de Lula alimentada por sucessivos pronunciamentos seletivos dos juízes, demonstrando hostilidade e pré-julgamento que justificariam rejeição dos magistrados; tendenciosa avaliação das delações premiadas, assumidas como verdadeiras ou falsas em função das hipóteses acusatórias; a simultaneidade com o juridicamente frágil impedimento de Dilma, os dois procedimentos com significado político de uma orquestrada operação de retrocesso democrático; a aceleração do processo de modo a impedir a participação de Lula nas eleições presidenciais.
Não bastasse a ilegitimidade dos juízes da Lava Jato que agem como tendenciosos acusadores, é bom lembrar que existem denúncias de que o juiz Sérgio Moro e outros tenham participado de treinamentos patrocinados pelos EUA  para que a justiça no Brasil viesse a funcionar de acordo com interesses do Tio Sam, principalmente no que diz respeito à política e aos recursos naturais do país, como o petróleo do pré-sal. A farda substituída pela toga. Formulam estas denúncias cientistas políticos respeitados no Brasil e no mundo, como Marilena Chauí e Jessé Souza.
Há analistas políticos que comparam o julgamento de Lula com os tribunais do Santo Ofício durante a inquisição na idade média: espetáculos em praça pública eram realizados para queimar o herege condenado de antemão, em nome do férreo poder da igreja. Hoje a mídia tem um alcance muito maior que a praça pública. Ela, com o judiciário, o legislativo e o executivo, estão conluiados para manter o poder no Brasil na mão de ambiciosos entreguistas, que estão rifando as riquezas do país e explorando e imbecilizando a população, matando nossos sonhos de soberania e democracia.
O verdadeiro golpe de estado no Brasil foi realizado pelos interesses de oligopólios e rentistas que não se conformaram com os governos populares que procuraram distribuir renda, promover justiça e inclusão social e tornar o Brasil um país soberano frente à hegemonia dos interesses internacionais controlados por EUA e União Europeia. O golpe destituiu a presidenta legitimamente eleita pela maioria da população e colocou em seu lugar um fantoche político que traiu o programa de governo com o qual se elegeu e atua desavergonhadamente em favor dos interesses da elite do dinheiro.
A mídia sim executou exemplarmente as táticas de condicionamento reflexo da população semelhantes àquelas utilizadas durante o nazismo, a ponto de grande parte da classe média passar a apoiar o golpe prejudicial a si mesma, que significa um retrocesso enorme nas possibilidades do país firmar-se como nação democrática, independente e com crescente justiça social. A demonização do Partido dos Trabalhadores, único partido popular que chegou ao poder no país, mostra isso. Como se os descalabros cometidos pelo PT e seus quadros não fossem cometidos também pelos outros partidos, por empresários, advogados, médicos, militares, e, infelizmente, por tanta gente neste nosso país.
Lula tem afirmado que vai ser candidato, independente do rumo de seu julgamento. Isso porque ele ainda aparece em primeiro nas pesquisas eleitorais. Ou seja, boa parte dos brasileiros não se deixou lograr pelas obstinadas táticas de imbecilização empregadas pelo conluio da elite do dinheiro.
Nem todos somos otários.