sexta-feira, 12 de outubro de 2018

O grande erro do PT

Publicado no Jornal da Manhã em 11/10/2018.

Durante a campanha eleitoral, martelou-se a ideia de que a disputa estava polarizada entre o extremo radicalismo da esquerda e o radicalismo extremo do fascismo. E agora, após os resultados do primeiro turno há quem desesperadamente entenda que estamos entre o bolivarianismo e o nazismo.
Mesmo antes, mais agudamente desde 2013, o PT tem sido estigmatizado como o partido da corrupção. Vamos voltar a 1989, quase trinta anos atrás. Na primeira eleição direta pós-ditadura, Lula surpreendentemente chegou ao segundo turno, e ameaçava ganhar as eleições do caçador de marajás criado pela Globo, Fernando Collor. Na semana que antecedeu a decisão do segundo turno vários acontecimentos: o uso passional dos depoimentos de uma ressentida e rancorosa ex-companheira de Lula; a vergonhosa edição do debate Lula X Collor pela Globo beneficiando o caçador de marajás; o estouro do cativeiro de Abílio Diniz na véspera da votação transmitido em rede nacional em tempo real, os sequestradores vestindo camisetas do PT. Só anos mais tarde reconheceram-se as provas de que as camisetas foram criminosamente impostas aos sequestradores, que não tinham nada a ver com o partido. E que a Globo manipulou o debate, e que a ex-companheira era uma irremediável ressentida.
Ou seja, mesmo antes da pecha de partido da corrupção, o PT há muito tempo vem sendo demonizado. Tentaram antes imputar-lhe a pecha de partido dos terroristas e sequestradores, que não colou. E a pecha de único partido da corrupção só colou pelo incomensurável empenho midiático e judicial de exaltar os malfeitos de quadros do PT e esconder aqueles de todos os outros partidos, que igualmente os cometem. Porque infelizmente a corrupção é um ingrediente inescapável da sórdida política brasileira.
A demonização do PT não terminou. Quem não viu Adélio Bispo, o agressor do atentado a Jair Bolsonaro, legalmente considerado perturbado e fanático, vestindo camiseta vermelha quando foi transferido de presídio na semana que antecedeu o primeiro turno? Não conseguiram provar, embora tenham muito tentado, ligação do agressor com o PT, então enfiaram-lhe a camiseta vermelha, um apelo subliminar sem palavras a reflexos condicionados que têm sido inculcados a décadas.
E ligar o PT ao risco do Brasil virar uma Venezuela parece-me a apoteose do desvario dos comportamentos condicionados e dos consensos construídos que por muito tempo serão objeto de estudo de cientistas políticos, psicólogos e sociólogos. O Brasil e a Venezuela têm sim algumas coisas em comum. A primeira delas é terem grandes reservas de petróleo, a principal fonte de energia e matéria prima mundial, e cujo controle está na mão de transnacionais que não toleram qualquer ameaça a seu cartel. A segunda é que os dois países tiveram governos que ousaram sonhar com a soberania nacional, inclusive sobre suas reservas petrolíferas. Mas comparar o PT com o que se passa na Venezuela é uma cegueira só explicável pela facilidade com que o ser humano, tal como os cães de Pavlov, é controlado pelos estímulos repetitivos e pelo reflexo condicionado.
O grande erro do PT é ser o Partido dos Trabalhadores, que nasceu de lutas sindicais, e não capitula abrir mão dos princípios de inclusão e justiça social e soberania nacional. Se ele fosse o Partido do Mercado, o Partido da Hipocrisia, o Partido do Fisiologismo, o Partido Camaleão, o Partido de Aluguel, o Partido da Elite Entreguista, não teria sido vítima de tão agudo e continuado esforço de demonização.
Esse esforço de demonização criou o fenômeno Bolsonaro. Agora os criadores desse fenômeno parecem estar confusos, assustados com sua criatura.

3 comentários:

  1. Brilhante Mário.
    Com sua alma de um "simples" poeta, humanista e guerreiro incansável pela Verdade e Justiça, atingiu de morte o coração do Grande Engodo Nacional, que ainda sequestra esta Nação.
    Orgulho de te ler.

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  2. Grande Mário Sérgio, muito bom! Essa demonizacão também é, ou tão somente o é, contra a esquerda seja ela quem estiver no poder...como você bem diz, tomara q tenhamos força popular e espiritual para superar este momento e fazer uma limonada...com açúcar. Paulo Facin

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  3. Muito lúcido o texto Mario.
    Forte abraço
    Almir

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