Durante a campanha eleitoral, martelou-se a ideia de que
a disputa estava polarizada entre o extremo radicalismo da esquerda e o
radicalismo extremo do fascismo. E agora, após os resultados do primeiro turno
há quem desesperadamente entenda que estamos entre o bolivarianismo e o
nazismo.
Mesmo antes, mais agudamente desde 2013, o PT tem sido
estigmatizado como o partido da corrupção. Vamos voltar a 1989, quase trinta
anos atrás. Na primeira eleição direta pós-ditadura, Lula surpreendentemente
chegou ao segundo turno, e ameaçava ganhar as eleições do caçador de marajás
criado pela Globo, Fernando Collor. Na semana que antecedeu a decisão do
segundo turno vários acontecimentos: o uso passional dos depoimentos de uma
ressentida e rancorosa ex-companheira de Lula; a vergonhosa edição do debate
Lula X Collor pela Globo beneficiando o caçador de marajás; o estouro do
cativeiro de Abílio Diniz na véspera da votação transmitido em rede nacional em
tempo real, os sequestradores vestindo camisetas do PT. Só anos mais tarde
reconheceram-se as provas de que as camisetas foram criminosamente impostas aos
sequestradores, que não tinham nada a ver com o partido. E que a Globo
manipulou o debate, e que a ex-companheira era uma irremediável ressentida.
Ou seja, mesmo antes da pecha de partido
da corrupção, o PT há muito tempo vem sendo demonizado. Tentaram antes
imputar-lhe a pecha de partido dos terroristas e sequestradores, que não colou.
E a pecha de único partido da corrupção só colou pelo incomensurável empenho
midiático e judicial de exaltar os malfeitos de quadros do PT e esconder
aqueles de todos os outros partidos, que igualmente os cometem. Porque
infelizmente a corrupção é um ingrediente inescapável da sórdida política
brasileira.
A demonização do PT não terminou. Quem não viu Adélio
Bispo, o agressor do atentado a Jair Bolsonaro, legalmente considerado
perturbado e fanático, vestindo camiseta vermelha quando foi transferido de
presídio na semana que antecedeu o primeiro turno? Não conseguiram provar, embora
tenham muito tentado, ligação do agressor com o PT, então enfiaram-lhe a
camiseta vermelha, um apelo subliminar sem palavras a reflexos condicionados
que têm sido inculcados a décadas.
E ligar o PT ao risco do Brasil virar uma Venezuela
parece-me a apoteose do desvario dos comportamentos condicionados e dos
consensos construídos que por muito tempo serão objeto de estudo de cientistas
políticos, psicólogos e sociólogos. O Brasil e a Venezuela têm sim algumas
coisas em comum. A primeira delas é terem grandes reservas de petróleo, a
principal fonte de energia e matéria prima mundial, e cujo controle está na mão
de transnacionais que não toleram qualquer ameaça a seu cartel. A segunda é que
os dois países tiveram governos que ousaram sonhar com a soberania nacional,
inclusive sobre suas reservas petrolíferas. Mas comparar o PT com o que se
passa na Venezuela é uma cegueira só explicável pela facilidade com que o ser
humano, tal como os cães de Pavlov, é controlado pelos estímulos repetitivos e
pelo reflexo condicionado.
O grande erro do PT é ser o Partido dos Trabalhadores,
que nasceu de lutas sindicais, e não capitula abrir mão dos princípios de
inclusão e justiça social e soberania nacional. Se ele fosse o Partido do Mercado, o Partido da
Hipocrisia, o Partido do Fisiologismo, o Partido Camaleão, o Partido de Aluguel, o Partido da Elite
Entreguista, não teria sido vítima de tão agudo e continuado esforço de
demonização.
Esse esforço de demonização criou o fenômeno Bolsonaro.
Agora os criadores desse fenômeno parecem estar confusos, assustados com sua
criatura.
Brilhante Mário.
ResponderExcluirCom sua alma de um "simples" poeta, humanista e guerreiro incansável pela Verdade e Justiça, atingiu de morte o coração do Grande Engodo Nacional, que ainda sequestra esta Nação.
Orgulho de te ler.
Grande Mário Sérgio, muito bom! Essa demonizacão também é, ou tão somente o é, contra a esquerda seja ela quem estiver no poder...como você bem diz, tomara q tenhamos força popular e espiritual para superar este momento e fazer uma limonada...com açúcar. Paulo Facin
ResponderExcluirMuito lúcido o texto Mario.
ResponderExcluirForte abraço
Almir