Este texto foi escrito como réplica a texto exaltando as medidas implementadas pelo governo atual, publicado no espaço do leitor de jornal da cidade de Ponta Grossa, no qual o autor identificava-se como um "cidadão brasileiro". Embora enviada mais de uma vez para publicação no mesmo espaço do jornal, esta réplica não foi publicada.
O cidadão
brasileiro médio constrói sua opinião na televisão. O Jornal Nacional e o
Fantástico são o lastro de suas informações. Então sai às ruas de verde e
amarelo, ou engaja-se em estrondosos panelaços, clamando pela derrubada do
governo democraticamente eleito. Não se dá conta, mas a chamada grande mídia, a
televisão e também jornalões e seus portais na web, replicados numa
incompreensível enxurrada de disparates nas redes sociais, vão alimentando no cidadão
brasileiro aversão raivosa que chega ao ódio de tudo que possa significar a
ideologia do partido do governo deposto. Esquecem que é um partido surgido de
lutas sindicais e que de fato é dos trabalhadores.
Não
satisfeito, o cidadão brasileiro apóia as reformas em curso pelo novo governo.
Quais têm sido estas reformas? A PEC do teto, que congela investimentos em
infraestrutura e serviços sociais a pretexto de saldar o enorme déficit
público. A reforma do ensino que prioriza disciplinas cognitivas em relação a
disciplinas reflexivas, a pretexto de melhorar o nível da educação. A “escola
sem partido”, que impede professores de emitirem opinião própria, a pretexto de
um ensino imparcial. A reforma trabalhista, que suprime direitos do trabalhador
frente aos patrões, a pretexto de legalizar situações já praticadas. A reforma
da previdência, que pretende reduzir benefícios e aumentar a contribuição, a
pretexto de saldar um alegado insaldável rombo. A defesa de projetos de lei
como a anistia à caixa dois nas campanhas, a pretexto da governabilidade.
Mas
precisamos questionar a lógica que produz tal opinião construída pelo massacre
midiático. A começar do ódio que está sendo nutrido em relação ao Partido dos
Trabalhadores e seus governantes. Sim, cometeram erros e frustraram muitos
brasileiros que sonham com o Brasil que deixe de ser o país do futuro e se
torne a grande nação que nosso rico território e nosso solidário povo mestiço
nos destinam a ser. Reconhecer estes erros e corrigi-los é imprescindível. Mas
não vamos jogar no lixo os acertos que sempre são acompanhados por erros. Um
governo que priorizou os direitos dos trabalhadores, a população pobre, e que
procurou tornar o Brasil um país soberano frente a uma rapinagem local e
internacional cada vez mais voraz, não pode ser julgado somente pelos erros de
não ter tido a capacidade de quebrar seculares estruturas corruptas e
interesses espúrios enraizados no poder econômico e na política do país e do
mundo. O cidadão deve perguntar-se: qual o motivo da demonização das ideologias
que se colocam em prol das classes trabalhadoras e da soberania do país? A quem
esta demonização interessa?
Outros
questionamentos que precisam ser feitos. Qual o real motivo do imenso déficit
público utilizado como pretexto para a PEC do teto? Seriam despesas justas ou
seriam os juros escorchantes, que são a maior rubrica de despesas do país,
pagos a uma elite financeira que a cada ano que passa fica mais rica, e o povo
mais pobre?
E os
indicadores que mostram que a cada ano estamos piores em educação, e que são o
pretexto da reforma do ensino? Estamos piores porque não sabemos matemática e
português, ou porque as disciplinas reflexivas, que formam jovens críticos e
questionadores, têm sido propositalmente negligenciadas? O que, junto com a
conjuntura caótica, tem desmotivado nossos jovens a se tornarem profissionais
bem sucedidos pelo caminho da sólida formação profissional? E qual a finalidade
da “escola sem partido”, a não ser o empobrecimento do debate franco que ajuda
a fortalecer a cidadania e o engajamento?
E a
reforma trabalhista, que privilegia interesses de patrões em detrimento do
direito do trabalhador, este sempre a parte mais vulnerável nas negociações? E
o alegado rombo da previdência, mas que juristas e economistas alertam que se
trata de um rombo forjado, pois a Constituição Cidadã de 1988 estabelece como
fontes de recurso do sistema previdenciário arrecadações que nos são cobradas
que têm sido sistematicamente desviadas para outros setores do governo?
Para não
nos equivocarmos, precisamos refletir. E não sermos presas do reflexo
condicionado, que nos faz reagir irracionalmente a estímulos que nos manipulam.
Este é o princípio utilizado pelos que só pensam nos próprios ganhos e tentam
frear a caminhada do país ao futuro.
Se ainda houvesse imprensa livre, o texto seria publicado. Como só temos panfletos ideológicos que passam longe do debate sobre o espaço público, não publicam. Aí o texto vem para a internet, o mundo todos vem para a internet, e os panfletos ideológicos que acham que são imprensa ficam lá, acabando.
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