Publicado no Diário dos Campos em 18/03/2017.
Na sexta-feira dia 10 de março, tivemos no Cine Teatro Ópera em Ponta Grossa uma reunião histórica. Por iniciativa de deputados da Assembleia Legislativa do Paraná, foi convocada audiência pública para discussão de nefasto projeto de lei que reduz drasticamente a APA – Área de Proteção Ambiental – da Escarpa Devoniana.
Na sexta-feira dia 10 de março, tivemos no Cine Teatro Ópera em Ponta Grossa uma reunião histórica. Por iniciativa de deputados da Assembleia Legislativa do Paraná, foi convocada audiência pública para discussão de nefasto projeto de lei que reduz drasticamente a APA – Área de Proteção Ambiental – da Escarpa Devoniana.
O teatro
ficou lotado, e fora dele, impedidos de entrar, centenas de pessoas
protestaram, ao longo de toda aquela manhã, pois queriam ter também direito de
participação e manifestação na audiência. A maioria destes que ficaram para
fora era de alunos e professores de universidades e escolas de ensino básico da
cidade. A maioria daqueles que estavam dentro do teatro era de proprietários
rurais e seus funcionários, que chegaram bem cedo de Jaguariaíva, Piraí do Sul,
Itaiacoca e outros locais, trazidos por ônibus fretados para tal finalidade, e
logo ocuparam as dependências do teatro.
Resumindo,
os que estavam dentro na sua maioria apoiavam a redução da APA, os que estavam
fora em sua maioria refutavam a redução. E os alunos gritavam este repúdio, e
pediam nova audiência, o que era escutado lá dentro até mesmo pelos que estavam
na mesa de direção dos trabalhos. Demonstravam inconformismo não só com o
despropósito do projeto de lei, mas também com as estratégias que foram
empregadas justamente com a finalidade de deixar de fora os que eram contrários
a ele.
Nada de
novo, estas são as usuais estratégias do patrimonialismo que não mede esforços
para fazer prevalecer seus interesses: mobilização de logística para trazer os
trabalhadores rurais num horário muito cedo; escolha de um local para ser
preenchido por esses trabalhadores, excluindo outros interessados; direção da
audiência por um deputado parcial, nitidamente identificado com os interesses
dos ruralistas; implacável segurança para facilitar que o teatro pudesse ser
ocupado pelos que tiveram condições de chegar muito mais cedo, excluindo da
audiência os contrários à redução da APA; encerramento da reunião muito antes do
previsto, de modo que o público não pôde fazer perguntas ou questionamentos.
Por muitos a reunião não foi considerada uma verdadeira audiência, pois não
permitiu o debate.
Mas nada
disso impediu que o encontro fosse histórico. Pelo número de pessoas que
reuniu, dentro e fora do teatro, pelos gritos de inconformismo, pela
repercussão na mídia. Hoje muito mais gente sabe o que é a APA, uma área
protegida mantenedora das condições de sustentação da vida saudável na região,
e qual sua finalidade, ambiental, social e econômica. E muito mais gente sabe
quem é quem, e quais comportamentos os proprietários rurais se permitem para
alcançar seus interesses.
Mas nesta
lição de vida que foi a audiência, há que se destacar algo notável: a infeliz
declaração de um deputado, justamente quem presidia a audiência. Ele
pronunciou-se na mesa e nos órgãos de comunicação afirmando que quem estava
reivindicando voz na parte de fora do teatro eram alunos baderneiros, e que
eles deveriam estar em sala de aula nas escolas e não gazeando e bagunçando na
audiência no teatro.
Que
tacanha concepção do que seja o ensino! E que triste manifestação de um membro
do legislativo! Se bem que todos saibam qual é o setor da sociedade que este
deputado está representando. E por isso mesmo, se vivêssemos uma sociedade
democrática, ele nunca deveria ter sido o indicado para presidir a audiência.
Será que
só os professores entendem que a melhor aula de sustentabilidade, civismo e cidadania
que nossos jovens poderiam ter seria justamente a participação numa audiência
como aquela, uma oportunidade rara?
Mas com
sua atitude, o deputado deu uma significativa contribuição para demonstrar como
pensam e agem alguns de nossos legisladores. Talvez tenhamos que agradecê-lo,
pois ele nos esclarece como deveremos utilizar nossos votos na próxima eleição.
Mário,
ResponderExcluirMando boas energias para continuar na luta...da defesa do meio ambiente e da voz ativa!
Abraços
Gláucia
Infelizmente parece que a maioria dos políticos pensa assim. Alunos com capacidade crítica e consciência são um perigo para a Nação.
ResponderExcluirQue bom que existem pessoas que lutam justamente contra esse pensamento tacanha. E você é uma delas! Tenho muito orgulho disso!
ResponderExcluirAs coisas vão mudar. Cedo ou tarde, elas vão! E os estudantes que ficaram pro lado de fora vão ser os que estarão mais por dentro!