sexta-feira, 16 de junho de 2017

Esperança

Publicado no Diário dos Campos em 15/06/2017

O Brasil é um país singular, talvez por este motivo tenhamos tanta dificuldade de deixar de ser o país do futuro para nos tornarmos uma nação do presente, com justiça, qualidade de vida e soberania. Temos uma dimensão continental, um povo miscigenado, o que, se não chega a eliminar segregações, muito às reduz em comparação com outros países, somos riquíssimos do ponto de vista de recursos e maravilhas naturais, nosso povo fala uma única língua e tem índole alegre, amistosa, pacífica e otimista. 

Mas sabemos muito bem que virtudes despertam a cobiça e a inveja. Por isso, é preciso saber proteger as virtudes. É possível que em primeiro lugar, neste momento que vive o país, seja necessário proteger a índole amistosa, pacífica e otimista de nosso povo. Estas virtudes serão essenciais para que possamos defender as demais.

A índole amistosa e pacífica parece andar estremecida pela polarização em torno de escolhas ideológicas e partidárias. É antiga a máxima de que com amigos não devemos discutir religião, futebol e política. Mas agora diferenças de opinião sobre política resultam em inimizades e mesmo hostilidades e agressões. Se refletirmos desapaixonadamente, constatamos que erros e acertos existem nas várias tendências políticas e partidárias, mas como nunca antes lados opostos acusam-se mutuamente de corruptos, bandidos e entreguistas, ao mesmo tempo em que se consideram donos da verdade e da santidade. O que teria conduzido o povo amistoso e pacífico a essa agressividade? Estaríamos sendo vítimas da disseminação de uma planejada discórdia, atendendo ao aforismo “dividir para governar”? E, se assim for, quem quer nos governar?

A alegria e o otimismo do povo brasileiro parecem também estar em crise, junto com a índole amistosa e pacífica. Um dos indícios da falta de confiança no país tem sido demonstrado pelos jovens talentosos e idealistas, que se qualificam profissionalmente em nossas universidades. Assim que obtêm o diploma, cogitam obter colocação profissional em Portugal, no Canadá, na Inglaterra, na Austrália... Dizem que o Brasil não oferece bons postos de trabalho, e, principalmente, o país não oferece perspectivas de um futuro seguro no que concerne ao trabalho, à justiça, à dignidade, à liberdade... E assim preferem ir-se embora.

Já houve época, lá pelos anos 1960-70, que jovens talentosos e idealistas abandonavam o país. Naquele tempo, exilar-se era questão de sobrevivência. Se ficassem, não poderiam manifestar suas ideias, não poderiam nem conversar sobre elas, sob risco de serem tachados de terroristas subversivos, e serem presos, torturados e até “atropelados” ou “suicidados”. Até os dias atuais ainda pagamos tributo àqueles sombrios tempos, pois muitas das mentes mais brilhantes do país ou evadiram-se para não mais voltar, ou foram caladas, ou calaram-se sob o peso de traumas inimagináveis. E deixaram um vácuo de idealismo humanista e patriótico que influencia até hoje as novas gerações.

Agora as razões para a desesperança no país são outras. Não é possível acreditar na construção de uma nação com os poderes todos tão corrompidos. Se não encontrarmos um caminho para que a ética e a solidariedade voltem a orientar os brasileiros, povo e autoridades, em breve o país estará entregue a uma quadrilha enraizada no poder e seus vassalos.

3 comentários:

  1. Caro Mario Sergio: Gostei do seu texto. Tenho comigo que o que falta ao Brasil é uma liderança apartidaria que consiga unir pessoas de boa vontade. Fico pensando em lideres como Nelson Mandela, Martin Luther King, Mahatma Ghandi, gente com grande força de convicções capaz de colocar a bandeira da Paz acima de qualquer discordia. Gente que enfrentaria qualquer inimigo mesmo que em seu saldo no inicio parecesse ser de fraqueza ou derrota. O ultimo brasileiro que lenbro aqui que fez um trabalho gigante como necessitamos foi o Betinho. Abraços.

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  2. Meu amigo Mário Sérgio, o caminho da ética para orientar os brasileiros, felizmente, já existe - Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e vários outros homens corajosos e honrados estão arriscando suas vidas para dar o exemplo!!!
    Caro Carlos Sa Silva Barros, não precisa apelar para nomes estrangeiros (como se não houvessem grandes exemplos nacionais), além dos que citei acima, da atualidade, nossa história pode revelar grandes personalidades!

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  3. Mário. Um executivo participante de uma reunião em Gramado falou uma coisa que fixei e considerei verdade e que digo com outras palavras. Temos de deixar de ver a televisão e continuar fazer o nosso trabalho com honestidade, produtividade, etc... para não sermos influenciados por este grupo que está dirigindo o nosso País que nós não somos iguais e somos maioria. Infelizmente não sei transcrever toda a entrevista.

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