Diante da
chuva de denúncias de atos ilícitos envolvendo as maiores autoridades do país,
de governantes, do legislativo e do judiciário, algumas dúvidas emergem: são
todos iguais, farinha do mesmo saco? Não se pode mais confiar em ninguém? O que
será do Brasil? O que podemos fazer por nós e pelo país? Não há mais esperança?
Perguntamo-nos
se, seja qual for o partido, seja qual for a ideologia, seja qual for o cargo,
seja qual for a origem e os eleitores, são todos ou corruptos de nascença, ou
corruptíveis pelo sistema político degenerado que se instalou no país.
Há as chamadas
pedaladas fiscais, o superfaturamento de obras, as propinas de empresas, o uso
de verbas ilícitas nos caixas dois e três de campanhas eleitorais, o suborno de
governantes, políticos e juízes para compra de decisões, a arapongagem (escuta
ilegal), os desvios de verbas públicas... São muitos crimes! Há como distinguir
quais os mais ou menos desprezíveis? Mas, por certo, todos são crimes, e todos
têm que ser firmemente combatidos.
Mas talvez existam
níveis de criminalidade mais nefastos. Entre eles, o de julgar que seres
humanos não sejam iguais, que sempre haverá um grande rebanho de párias inferiores,
que precisam ser sacrificados em nome da satisfação dos desejos dos
privilegiados das castas nobres. Os praticantes deste crime são segregacionistas,
intolerantes com diferenças de raça, religião, cultura, sexo, ideologia, classe
social...
Ele
confunde-se com o crime da soberba, com o próximo, com animais e plantas, com a
nação, com o planeta. Este crime resulta da falta de percepção do mundo para
além de si mesmo. Resulta de um exacerbado egocentrismo, que gera não só a
ambição insaciável, mas também a falta de princípios éticos, a falta de
fidelidade a um ideal, a um grupo ou família, a um programa de partido, a um
país. Os praticantes deste tipo de crime são capazes de assaltar os cofres
públicos, envenenar alimentos, sabotar a merenda escolar, falsificar
medicamentos, enganar os eleitores e amigos, empobrecer os pobres e enriquecer
os ricos, contaminar as águas e o ar, exaurir os solos, ameaçar a
biodiversidade, lotear empresas, terras e o patrimônio natural do país.
Será que hoje
em dia todas as autoridades têm cometido os mesmos tipos de crimes? Talvez uma
maneira de discernir entre os tantos erros e crimes que têm sido cometidos é
procurar enxergar quem tem cometido os crimes de discriminação social, de
entrega dos bens e riquezas do país e de disseminação da desesperança.
Não pode haver
crime pior do que o da desesperança. Há que cultivar a esperança para evoluir
no sentido da justiça social, da soberania, da liberdade, da qualidade de vida,
da solidariedade, da alegria de viver e do aprofundamento da cultura, da arte e
da sensibilidade. É isto que têm pregado os profetas das religiões, que temos
venerado ao longo dos milênios, mas cujos ensinamentos resistimos assimilar.
Entre os
tantos crimes que têm sido cometidos nos tempos atuais, é imprescindível saber discernir.
Há entre eles erros que são passíveis de correção. Errar é humano, e mais
humano é reconhecer o erro e procurar corrigi-lo.
Mas a índole de
semear desesperança e acomodação para amealhar proveito próprio, este é um
crime que tem que ser vencido com firme luta. A luta pela esperança. Luta por
mudança, que se alcança com discernimento e engajamento.
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