quinta-feira, 24 de abril de 2025

Fraude no INSS e ataque à democracia

 Publicado no Jornal da Manhã em 25/04/2025.

As fraudes no INSS – Instituto Nacional do Seguro Social – reveladas estes dias – descontos indevidos de mensalidades de institutos, empréstimos consignados, etc. – nos deram uma boa mostra de como atacar a democracia. Democracia quer dizer poder, soberania para o povo. Quem a ataca é a plutocracia – o poder do dinheiro, dos ricos.

Fraude no INSS é um rastilho de pólvora que explode no bolso dos muitos aposentados, e de todos aqueles que têm um parente ou um amigo aposentado. É um tema de imediato interesse de grande parte da população brasileira, um apelo midiático estrondoso. Por esse motivo, nestes dias só se vê, na grande mídia, uma enganosa cumplicidade, explícita ou implícita, entre as fraudes lesivas e a culpa do próprio INSS, do Estado Brasileiro do qual ele faz parte, dos funcionários públicos, do governo Lula, do irmão de Lula, o sindicalista Frei Chico. Lembremos: o INSS é uma instituição garantidora de direitos do cidadão conquistados com muita luta, e que estão sob incessante ataque; o governo Lula é um governo que procura ser socialista, beneficiando o cidadão mais pobre. Esses não são interesses da plutocracia. Ela quer o Estado mínimo, com a única finalidade de financiar, com o dinheiro público, a recuperação das bancarrotas promovidas pelo mercado, o deus devorador por ela eleito como governo.

Os criminosos que cometeram a fraude no INSS são bandidos que têm que ser punidos. Sejam quem sejam. A superação da corrupção enraizada só acontecerá quando os corruptos pagarem por seus crimes. Mas atenção: corruptos, infelizmente, existem em todo lugar. É preciso identificá-los e inculpá-los, sem destruir as instituições que profanam. O erro é do corrupto, não do INSS nem do governo. Descrer do INSS ou do governo por causa dos corruptos seria como duvidar de todo o sistema de saúde porque ainda existem doenças.

A fraude revelada esta semana foi iniciada em 2019, todos sabem no governo de quem. E começou a ser investigada em 2023, todos sabem no governo de quem. Por isso o esforço da plutocracia – quer dizer, da grande mídia que ela controla – em ligá-la ao governo atual. A partir de 2023 o governo não é mais um fantoche da plutocracia, embora o Congresso Nacional, em sua maioria, ainda o seja. Não bastou à plutocracia insinuar que a fraude estava no coração do governo. Tentaram também insinuar que estava na família do Presidente. Frei Chico, irmão de Lula, é da direção de um dos sindicatos investigados pela Polícia Federal. O sindicato é investigado, Frei Chico não, nada pesa contra ele. De novo, uma instituição onde há corrupção não quer dizer que todos lá são corruptos. Mas isso não interessa à grande mídia, que logo fez parecer que a família de Lula é de corruptos. Como já tentou fazer antes, mas foi desmascarada.

A plutocracia está trabalhando incansavelmente visando 2026. Ela teme ser de novo derrotada nas urnas, teme ver de novo um executivo democrata dirigir o país. Vai usar todas as armas que possa comprar para convencer o eleitor que o lobo é um cordeiro.

domingo, 6 de abril de 2025

Dividir para dominar

 Publicado no Jornal da Manhã em 08/04/2025

Esse aforismo decerto tem sido praticado desde os tempos pré-históricos. Mas é ao longo da história conhecida da humanidade que se constata a eficácia dessa ancestral estratégia de dominação: dividir os povos dos territórios a serem dominados, insidiosamente lançando tribos contra tribos, povos contra povos, etnias contra etnias, religiões contra religiões, culturas contra culturas, homens contra mulheres... Atualmente, nacionalidades contra nacionalidades, classes sociais contra classes sociais, ideologias contra ideologias, até o clímax da cizânia, irmãos contra irmãos.

Certamente há na índole humana teimosos resquícios do instinto de competição e dominação, inerente à nossa natureza animal e sua sujeição aos princípios da sobrevivência e da seleção natural. Mas desde que nossa inteligência tomou ciência de que somos esses seres naturalmente competitivos, esse traço primitivo tem sido manipulado com o fim de dominar-nos. É assim para assanhar a ânsia de consumir da sôfrega civilização atual. Possuir é sobressair-se, ambicionar faz íntima ligação entre a posse de bens e a ostentação da supremacia dos dominadores. Tornamo-nos consumidores compulsivos, à mercê de quem lucra com nossa compulsão. E, vítimas da guerra cognitiva, competimos com nosso conterrâneo, nosso vizinho, nosso irmão. Um instinto tão forte que nos cega para a compreensão de que, alhures, alguém nos manipula, dividindo-nos, enfraquecendo-nos, enquanto nos controla e nos explora.

A fraqueza que nos é incutida não o é só na nação, na etnia, na classe socioeconômica. Manifesta-se também na tibieza do caráter. A guerra cognitiva é vitoriosa quando subjuga a mente do inimigo. Implanta nela a desinformação, a ignorância, o negacionismo, a intolerância, a segregação, o medo, o ódio, a incapacidade de refletir, de discernir, de dialogar, de ter sensibilidade e empatia. Os subjugados reagem como animais acuados.

Será que seremos capazes de quebrar esse ancestral arquétipo? Seremos capazes de perceber quantos fantasmas nos são imputados para que, amedrontados, transformemos nosso próximo num inimigo visceral? Desde a cuca que vem pegar a criança inquieta, monstro fictício inventado para assustá-la e controlá-la, até o apregoado perigo, não menos fictício, da outra ideologia, da outra religião, da outra cultura, são muitas maldosas criações para nos provocar medo, nos dividir e dominar.

Dominação não é só de um país sobre outros, como temos constatado hoje com a ânsia estadunidense de submeter hegemonicamente todo o mundo. Tão perversa e tão global quanto ela é a dominação econômica, num arranjo universal onde uma elite usufrui dos benefícios da riqueza produzida pelo trabalho de uma imensa maioria excluída e empobrecida.

Na verdade, todas as formas de dominação – territorial, cognitiva, econômica, racial, de gênero – estão ligadas. São múltiplas expressões do impulso primitivo único, agora manipulado por moderníssima tecnologia, com apurados métodos científicos.

Se quisermos escapar da dominação de quem nos divide, para alcançarmos a emancipação e a liberdade pessoal, e a soberania de nosso País, é essencial que deixemos de ter nossos instintos manipulados. Isso é possível. Basta cultivarmos e cuidarmos de nossos princípios e convicções – nossa cultura – com mais força que o nosso inimigo invisível da guerra cognitiva que já nos foi declarada.

Nossa consciência, desde que apelemos a ela, é muito mais poderosa que esse inimigo estranho que quer nos dominar.