domingo, 31 de agosto de 2025

O Brasil está sob ataque

 Publicado no Jornal da Manhã em 03/09/2025.

O tarifaço de Trump, a investida contra o Pix, a desregulamentação das bigtechs, as medidas coercitivas contra autoridades e instituições brasileiras, a instalação de bases militares estadunidenses em países limítrofes, a cizânia fomentada pelo Tio Sam contra vizinhos com quem temos antigas parcerias comerciais e diplomáticas (Argentina, Paraguai, Venezuela) revelam que somos atacados. Por quais motivos? É o momento de refletir sobre isso, e de fazer um balanço de nossas forças e fraquezas, nossas riquezas e pobrezas.

O Brasil tem predicados que o credenciam a aspirar ser uma grande nação: território continental, abundância de água potável, minérios, petróleo, energia solar, biodiversidade, mares piscosos, solos agricultáveis, clima amigável na maior parte do país, abundante população que afiança estável mercado interno, boa infraestrutura já instalada, conflitos raciais, sociais e religiosos menores que em outros países, idioma único de Norte a Sul, uma produção de riqueza relevante, rica e diversificada cultura popular. Esses predicados são nossa riqueza. Mas temos também nossas fragilidades: uma das mais desiguais distribuições de renda no planeta, educação precária, conflitos ideológicos que se acirram, corrupção enraizada, falta de um sentido de nacionalismo e de autoestima – o “complexo de vira-lata” – que faz deslumbrar-se com o estrangeiro e desvalorizar o nacional. Estas são nossas pobrezas.

Por que não somos nem sombra de EUA, China, Rússia, Índia, países que não têm todos os mesmos predicados que o Brasil? Fala-se nos motivos históricos, que fomos território para exploração e não para verdadeira colonização, como talvez tivessem feito os expulsos holandeses e franceses. Ter sido o destino de degredados do império português, a mais longeva escravatura e monarquia nas Américas, a pátria de sucessivos golpes que derrubaram governos legítimos, são outras razões da peculiaridade do Brasil.

Diante da irrefreável avidez humana pela posse e usufruto de bens, os recursos que o planeta disponibiliza estão se mostrando escassos. Como resultado, a civilização atual está deixando cair a máscara da diplomacia e da convivência pacífica. Os países armam-se para defender-se do ataque estrangeiro, ou para subjugar os vizinhos menos armados. Nessa realidade, o Brasil, rico em recursos e pobre em defesa militar, passa a ser alvo predileto da rapinagem internacional.

Estamos na época das guerras cognitiva, jurídica, comercial e tecnológica. Antes de invadir um país com militares, é mais barato sangrá-lo e enfraquecê-lo, até subjugá-lo; os exércitos de especialistas não precisam sair da sede do invasor, de lá manipulam suas novas armas: desinformação, leis extraterritoriais, sanções econômicas, espionagem, chantagem. Crucial nesta nova modalidade de invasão é criar no país invadido as milícias de infiltrados, que vão trabalhar a favor do invasor.

Contra as armas do invasor nesta nova ordem mundial, a resistência do invadido depende de um atributo: discernimento. Que só pode ser cultivado com uma educação ampla e livre, que ensine a refletir e compreender. Sem isso, a população será presa fácil da guerra cognitiva, que cria fantasmas, ódios, discórdia, subserviência e elege farsantes vendilhões. A população lograda não é capaz de discernir quem é o real inimigo, confunde verdade com mentira, alia-se ao invasor.  Ou, desesperada, cai na depressão e no alheamento.

Há muitas frentes a lutar na resistência à guerra atual pela conquista de territórios ricos e de povos servis. Um requisito capital é a capacidade da população compreender, e assim colocar-se do lado certo na batalha.

domingo, 17 de agosto de 2025

Lei Magnitsky, o tiro no pé do imperialismo

 Publicado no Jornal da Manhã em 19/08/2025

Há ainda brasileiros que acreditam que a Lei Magnitsky dos EUA seja a favor da democracia e liberdade no mundo. Abra os olhos, patriota! Vamos usar discernimento e bom senso. Essa lei é outra legislação extraterritorial do império estadunidense, que visa submeter outros países a seus interesses. Leis que são usadas fora dos EUA, contra qualquer um, cidadão ou nação. O livro “A arapuca estadunidense: uma Lava Jato mundial” (F. Pierucci e M. Aron, Kotter Editorial, 2019) conta como uma dessas leis foi usada para que a General Electric engolisse a francesa Alstom, concorrente mundial na área de construção de usinas nucleares. Com suas leis desleais, os EUA distorcem, manipulam, ameaçam, chantageiam, espionam, torturam para favorecer seus interesses, econômicos ou geopolíticos, pelo mundo todo.

Não nos enganemos, os EUA não são a nação guardiã da democracia e da liberdade no mundo, que se arrogam ser. O “destino manifesto” faz os estadunidenses acreditarem que são predestinados a dominar o mundo, e azar daqueles que discordarem. As bombas de Hiroshima e Nagasaki – maior ato terrorista e genocida da História –, a imposição do dólar como moeda mundial, os golpes, as guerras, sanções e bloqueios impostos contra todos os governos insubmissos ao domínio do Tio Sam, o desvario atual de Trump, taxando inclusive países tidos como alinhados, mostram quem é a águia do Norte. Acuados ao perceber a decadência de seu império e a incontível tendência de multilateralismo no mundo, o antes hegemônico EUA desfaz-se da máscara de paladino da justiça, assume a nação guerreira e opressiva que sempre tentou disfarçar ser.

As punições via Lei Magnitsky de autoridades brasileiras – estas empenhadas em amenizar os efeitos do desgoverno que tentou desviar o Brasil para o autoritarismo, a submissão, o entreguismo e o negacionismo, desgoverno agora julgado pelos seus crimes contra a Constituição –, é outra mostra do desespero do império em decadência. Para tentar convencer que estão agindo em nome da democracia e da liberdade, os EUA contam com aliados de peso: a desinformação via mídias estadunidenses que eles impedem que sejam regulamentadas; os aliados entreguistas locais, cúmplices da rapinagem internacional; a ignorância negacionista imposta à população; o complexo de vira-lata de muitos brasileiros, que não conseguem enxergar o que significam as leis extraterritoriais como a Magnitsky. Traduzindo-as, elas querem dizer o seguinte: “Eu tenho poder militar, econômico e tecnológico, você não. Se você não me obedecer, eu tenho direito de usar meu poder contra você, da maneira que eu bem entender”.

As ações desesperadas do agonizante império hegemônico – não só as leis extraterritoriais, mas também as taxações, as guerras genocidas que patrocinam, os bloqueios e chantagens econômicas, o negacionismo com o aquecimento global e a emergência climática, a desfaçatez com as organizações, acordos e a diplomacia internacional – revelam, afinal, quem são os EUA. Caiu a máscara do império.

A população brasileira – e a mundial – está acordando para discernir quem é quem, e aprendendo a valorizar a soberania nacional, a verdadeira democracia e liberdade.

sábado, 9 de agosto de 2025

Caiu a máscara da hipocrisia

 Publicado no Jornal da Manhã em 12/08/2025.

Os EUA se arrogam ser a nação guardiã da democracia e da liberdade no mundo. Será? Vamos ver. Os EUA nasceram uma nação invasora. Foi assim que construiu seu território de oceano a oceano, tomando as terras do México. Isto depois de exterminar as nações indígenas, sob inspiração do “destino manifesto”, que faz o estadunidense acreditar que esteja predestinado a dominar o mundo. Foi assim durante a Segunda Guerra Mundial, quando esperou anos para engajar-se, agigantando suas indústrias de armas, enquanto Alemanha, Rússia, França, Itália e Inglaterra devastavam-se na Europa. Foi assim quando perpetrou o mais nefasto ato terrorista e genocida da História, as bombas de Hiroshima e Nagasaki. Foi assim quando, terminada a guerra, único grande país que saiu com seu território ileso do conflito, submeteu todas as nações do mundo ao jugo do dólar. Foi assim quando invadiu Coréia, Vietnã, Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria e conspirou golpes no Irã, Chile, Argentina, Brasil, Venezuela, Guatemala, Ucrânia e tantos outros, a pretexto de deter o fantasma do comunismo. Foi assim quando, impedido de invadir, embargou Cuba, Venezuela, Irã, Coréia do Norte, Rússia. Está sendo assim quando patrocina o genocídio na Palestina, a guerra na Ucrânia, o ataque ao Irã.

Agora, com o crescimento da China e a ameaça à cambaleante hegemonia estadunidense, o enlouquecido Trump já não inventa subterfúgios para extravasar a ânsia de dominação do destino manifesto: quer submeter todas as nações do mundo, alinhadas ou não, ao que resta de poderio econômico dos EUA. Organizações internacionais, acordos, alianças já não têm nenhum préstimo. Antes, tinham o préstimo de ludibriar, de mascarar. Já não é necessário ludibriar: as garras da águia são expostas com o indisfarçável intuito de ameaçar e subjugar. É o caos mundial, a desordem intencional, que visa a dominação.

Não se trata só de tentar salvar a decadente supremacia econômica e militar estadunidense, através do comércio privilegiado, da usurpação de recursos naturais, dos embargos, chantagens e tramas comerciais. Também está em jogo a supremacia ideológica do neoliberalismo concentrador de riquezas, contra o socialismo distributivo. Com as tecnologias atuais de informação e desinformação, aprofundou-se a crença do fantasma comunismo ameaçando o planeta. Este tem sido o falso pretexto, agora desmascarado, para invadir o mundo. A guerra cognitiva imbeciliza o senso comum: transforma estadistas em ladrões; milicianos em mitos messiânicos; sistemas econômicos que protegem super-ricos e multiplicam a pobreza em ilusão de liberdade e prosperidade; sistemas que visam a equidade zelada por Estados fortalecidos em mordaças à livre iniciativa...

Adentramos a era da desinformação e da ignorância. A educação, com tantos recursos tecnológicos que poderiam estar nutrindo uma nova civilização, está sendo manipulada para fomentar a intolerância, o medo, o ódio, a idiotice, a violência, a subserviência, a desesperança. A força da renovação e transcendência parece bloqueada pela força do reacionarismo e do obscurantismo.

Talvez essa reação ao progresso da humanidade seja algo natural: toda grande mudança encontra rejeição por parte de muitos. Mas a sina é evoluir. Tem sido assim ao longo da evolução das espécies no planeta. A barbárie que ora prospera é o que vai separar o joio do trigo, e fazer nascer o ser humano lúcido, consciente das fragilidades de si mesmo, de seu próximo e da pródiga natureza.

A superação da hipocrisia, ainda que seja pela indisfarçada assunção da prepotência, pode ser o ponto de inflexão da evolução da humanidade.