Publicado no Jornal da Manhã em 03/09/2025.
O tarifaço de Trump, a investida contra o Pix, a desregulamentação
das bigtechs, as medidas coercitivas
contra autoridades e instituições brasileiras, a instalação de bases militares
estadunidenses em países limítrofes, a cizânia fomentada pelo Tio Sam contra
vizinhos com quem temos antigas parcerias comerciais e diplomáticas (Argentina,
Paraguai, Venezuela) revelam que somos atacados. Por quais motivos? É o momento
de refletir sobre isso, e de fazer um balanço de nossas forças e fraquezas,
nossas riquezas e pobrezas.
O Brasil tem predicados que o credenciam a aspirar
ser uma grande nação: território continental, abundância de água potável,
minérios, petróleo, energia solar, biodiversidade, mares piscosos, solos
agricultáveis, clima amigável na maior parte do país, abundante população que afiança
estável mercado interno, boa infraestrutura já instalada, conflitos raciais,
sociais e religiosos menores que em outros países, idioma único de Norte a Sul,
uma produção de riqueza relevante, rica e diversificada cultura popular. Esses
predicados são nossa riqueza. Mas temos também nossas fragilidades: uma das
mais desiguais distribuições de renda no planeta, educação precária, conflitos
ideológicos que se acirram, corrupção enraizada, falta de um sentido de
nacionalismo e de autoestima – o “complexo de vira-lata” – que faz
deslumbrar-se com o estrangeiro e desvalorizar o nacional. Estas são nossas
pobrezas.
Por que não somos nem sombra de EUA, China, Rússia,
Índia, países que não têm todos os mesmos predicados que o Brasil? Fala-se nos
motivos históricos, que fomos território para exploração e não para verdadeira
colonização, como talvez tivessem feito os expulsos holandeses e franceses. Ter
sido o destino de degredados do império português, a mais longeva escravatura e
monarquia nas Américas, a pátria de sucessivos golpes que derrubaram governos
legítimos, são outras razões da peculiaridade do Brasil.
Diante da irrefreável avidez humana pela posse e
usufruto de bens, os recursos que o planeta disponibiliza estão se mostrando
escassos. Como resultado, a civilização atual está deixando cair a máscara da
diplomacia e da convivência pacífica. Os países armam-se para defender-se do
ataque estrangeiro, ou para subjugar os vizinhos menos armados. Nessa
realidade, o Brasil, rico em recursos e pobre em defesa militar, passa a ser
alvo predileto da rapinagem internacional.
Estamos na época das guerras cognitiva, jurídica,
comercial e tecnológica. Antes de invadir um país com militares, é mais barato
sangrá-lo e enfraquecê-lo, até subjugá-lo; os exércitos de especialistas não
precisam sair da sede do invasor, de lá manipulam suas novas armas:
desinformação, leis extraterritoriais, sanções econômicas, espionagem,
chantagem. Crucial nesta nova modalidade de invasão é criar no país invadido as
milícias de infiltrados, que vão trabalhar a favor do invasor.
Contra as armas do invasor nesta nova ordem
mundial, a resistência do invadido depende de um atributo: discernimento. Que
só pode ser cultivado com uma educação ampla e livre, que ensine a refletir e
compreender. Sem isso, a população será presa fácil da guerra cognitiva, que
cria fantasmas, ódios, discórdia, subserviência e elege farsantes vendilhões. A
população lograda não é capaz de discernir quem é o real inimigo, confunde
verdade com mentira, alia-se ao invasor.
Ou, desesperada, cai na depressão e no alheamento.
Há muitas frentes a lutar na resistência à guerra
atual pela conquista de territórios ricos e de povos servis. Um requisito capital
é a capacidade da população compreender, e assim colocar-se do lado certo na
batalha.
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