Trata-se de uma doença que aflige todo o mundo, uma
verdadeira pandemia. Parece que não há ninguém imune, ela contamina todos, com
maior ou menor gravidade. É a disseminação do vírus da irracionalidade. Os
sintomas são a incapacidade de discernir, a falta de concentração para poder
refletir, a impulsividade que leva a um surto de intolerância, ódio e
violência. Um verdadeiro distúrbio psicótico. O infectado torna-se um perigoso
desmiolado.
O vírus parece ser universal, acomete todo tipo de
gente: pobres, ricos, homens, mulheres, brancos, negros, evangélicos,
católicos, heteros, homos, europeus, gringos, analfabetos, doutores, bandidos,
juízes, psicopatas, seus filhos... Ninguém escapa. Parece existir uma
correlação entre o local de moradia e a contaminação. Quem está mais exposto ao
sol do Nordeste é menos vulnerável. Ainda se discute se é mesmo o sol ou algum
outro motivo, como a fibra de caráter forjada na luta constante contra
adversidades ambientais.
Há gente da saúde dizendo que o vírus é
oportunista. Ele se aproveita da debilitação do hospedeiro contaminado, antes
já enfraquecido por outros fatores. Há uma grande procura de quais sejam estes
outros fatores, mas as opiniões são ainda muito contraditórias. Alguns dizem
que está no DNA do infectado. Outros falam dos hábitos de higiene, até do
número de idas ao sanitário a cada semana. Parece que a retenção de excrementos
acabaria subindo à cabeça. Há quem diga ainda que tudo depende da educação do
contaminado. Suposição pouco crível, pois vê-se muitos doutores da saúde e
juízes togados acometidos com muito mais gravidade que gente muito simples. O
que tem feito que se suspeite que a alimentação também influencie: quanto mais
fartamente alimentado o cidadão, mais ele é vulnerável ao contágio e a sintomas
mais agudos.
Médicos mais antigos, aqueles dos tempos do médico
da família, dizem que se trata de uma doença dos tempos modernos. Não que não
existisse antes, mas seus sintomas eram relativamente muito mais brandos,
compensados por uma ética que preponderava. Perguntados, estes velhos clínicos
afirmam que antes as cabeças das pessoas não eram tão conspurcadas por fatores
predisponentes: Coca Cola, celular, fake
news, Hollywood, Steve Bannon, inteligência artificial, mercado de capitais,
depressão profunda, ansiolíticos... Esses velhos médicos dizem que os sintomas
se agravaram porque a civilização atual é um caos ruidoso que atordoa o juízo
das pessoas, que já não sabem o que seja justiça, liberdade, solidariedade.
Outros ainda lembram as experiências de Ivan
Pavlov, do final do século XIX, que mostraram como, num cão, é possível
condicionar uma reação orgânica e mental através da repetida associação de um
estímulo com um fato, mesmo que depois de um tempo o fato deixe de existir; não
é mais um fato, é uma farsa. Pavlov associou o som de uma sineta com a oferta
de alimento para o cão. Depois dessas experiências, associou-se nazismo com
vitória, judeus com bandidos, bomba atômica com justiça, EUA com democracia,
comunista com comedor de criança, palestino com terrorista, consumo com
felicidade...
O vírus da irracionalidade encontrou campo fértil
para propagar-se.
Ótima abordagem Mario, é bom pararmos para refletir sobre esse assunto. Imagino que, com o uso da inteligência artificial, é como se as pessoas usassem um "HD externo" que vai atrofiando o cérebro e formando seres irracionais controlados por mecanismos ditos "inteligentes".
ResponderExcluirTambém me parece.
ExcluirHaja psicológico para tanta irracionalidade.
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