Publicado no Jornal da Manhã em 30/09/2025.
Os crimes, organizados em quadrilhas especializadas ou
mesmo os ditos “crimes comuns”, parecem estar aumentando descontrolados,
engolindo as instituições e os cidadãos. De quantos golpes e armadilhas
precisamos escapar todo dia? Quanto o Governo gasta tentando desbaratar
quadrilhas sofisticadas entranhadas no comércio, nas igrejas, no poder público?
Com o auxílio das novas tecnologias, os crimes estão cada vez mais engenhosos e
ousados: rouba-se dos aposentados, dos consumidores, dos internautas, dos
correntistas, dos viajantes, dos distraídos...
Por que acontece este surto de criminalidade e logro?
Estará a humanidade sob efeito de alguma energia maligna universal, de fonte desconhecida?
Por algum motivo os preceitos éticos estão falhando, e deixando escapar
impulsos primitivos que conduzem à desfaçatez, à violência, ao ódio, à ambição
e ao crime. O contrato social já não está funcionando. Há transgressores
demais, a sociedade não dá conta de controlar a crescente criminalidade.
Qual seria esse motivo que está subvertendo a moral e
esgarçando o tecido social? É frequente escutarmos: “tem a ver com a educação”. De fato, a educação formal parece estar
regredindo. O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 aponta que a proporção
de estudantes com aprendizagem adequada em Língua Portuguesa e Matemática caiu
de 8,3% em 2013 para 7,7% em 2023. Só estas duas disciplinas não traduzem o que
seja a formação de um cidadão, mas podemos refletir a partir delas. Vale
lembrar que são estas disciplinas que têm sido privilegiadas nos sistemas
educacionais neoliberais atuais, que priorizam a formação de um trabalhador
acrítico, em detrimento de um cidadão crítico.
Os dados do Anuário são trágicos: até nas duas disciplinas enfatizadas
pelo ensino neoliberal estamos regredindo! E as porcentagens de estudantes
“adequados” são desastrosas. Estes dados confirmam aqueles divulgados em maio
passado, de que só 35% dos adultos no Brasil são considerados alfabetizados
plenos (dados do Indicador de Alfabetismo Funcional da UNICEF). Em resumo, na
educação estamos retrocedendo.
Enquanto a educação no Brasil anda para trás, os cérebros
brilhantes são exportados: não tivemos, nos últimos anos, programas sólidos de
apoio à pesquisa científica, tanto nas áreas tecnológicas quanto nas humanas,
estas incluindo a educação. Os cérebros brilhantes vão buscar colocação no
exterior, onde programas consolidados garantem pesquisas consequentes.
Só a crise educacional, e o resultante afrouxamento da
formação do cidadão, não explicam o surto de criminalidade. O que acontece hoje
com a sociedade, a religião, a família, no desenvolvimento dos valores que
distinguem o criminoso do homem de bem?
A sociedade vive a era do neoliberalismo, que pode ser
assim sintetizado: dinheiro, individualismo, competitividade, lucro,
amoralidade. Consequência: disseminação da pobreza, concentração da riqueza,
crises sociais, injustiça, revolta e ... criminalidade. Ela significa desforra,
sobrevivência, crença na impunidade. A religião e a família não resistem à
pressão do bordão neoliberal: elas acabam repetindo e reforçando os mantras
para vencer a qualquer custo.
Todos nós somos portadores de um lado sagrado e de outro
diabólico. Estamos vivendo a era em que incentivamos o diabólico. Onde vai nos
levar isso?