“Prazo de validade” e “vida útil” são conceitos que se
complementam e se confundem. Costumamos ver o prazo de validade mostrado, muito
acertadamente, para itens como alimentos, bebidas, remédios... Já vida útil é
menos óbvio e mostrado. Está embutido em tudo, na escova de dentes, na lâmpada,
no pneu e amortecedor do veículo, no celular...
Visto que tudo se transforma e acaba por distanciar-se da
adequação à função inicialmente prevista, estes conceitos têm lá sua justificativa.
Mas precisamos ter cuidado com eles, já que podem nos enganar. Se o prazo de
validade de um medicamento for subestimado, podemos acabar descartando um
remédio ainda ativo. Por outro lado, se for superestimado podemos acabar confiando
num remédio que já não funciona. Há que ter muito critério e honestidade para
determinar o prazo que mais dê segurança e economia ao usuário. Negligência ou
desonestidade podem desperdiçar o remédio ou agravar a doença.
Quanto à vida útil, mais fatores influenciam. O sistema econômico
que vivemos impõe que a vida útil dos bens, sejam escovas de dentes, lâmpadas,
automóveis ou celulares, seja curta. “Senão
─ dizem ─ o consumo cai, a fábrica vai à
falência, o desemprego provocaria agudas crises sociais”. O que é uma
inverdade, há vários setores carentes da sociedade ─ tais como saúde, educação,
cultura, lazer, justiça... ─ que poderiam absorver trabalhadores. Bens que
poderiam durar anos são feitos para durar meses. Ou, como na moda, que muda
todo ano, poderosas campanhas midiáticas induzem o consumidor a comprar um bem
para substituir um outro ainda em ótimas condições de uso, mas transformado em
“ultrapassado”.
Ampliando mais a ideia, os conceitos de prazo de validade e
vida útil aplicam-se também ao ser humano. A “expectativa de vida”, variável usada,
por exemplo, para definir a idade mínima para a aposentadoria, parece
corresponder ao prazo de validade dos bens materiais. A saúde do organismo e
dos órgãos que o mantêm funcionando parece corresponder à vida útil das coisas.
Há alguma correspondência entre os bens que consumimos e o nosso próprio ser.
Para o ser humano, entretanto, as implicações são outras, muito mais complexas.
É de se esperar que não se descartem pessoas que já não funcionam como quando
eram jovens. Nem que se as obrigue a terem bom desempenho por tempo
indeterminado. Mas estes são princípios éticos, muitas vezes esquecidos.
A manipulação do prazo de validade e da vida útil visando o
aumento do consumo tem muitas vítimas. Uma delas é o planeta Terra. Neste ano
de 2025, o “dia da sobrecarta da Terra”
─ ou “dia da pegada ecológica” ─ está
sendo calculado para 24 de julho. Ou seja, tudo o que o planeta pode produzir
de recursos naturais ao longo de todo este ano, até o dia 31 de dezembro, já
foi consumido pela humanidade até o dia 24 de julho. Desde então, ultrapassamos
o prazo de validade, ou a vida útil do planeta.
A vida útil do planeta encurta a cada ano, resultado da
insana sociedade consumista e desperdiçadora que vivemos. É bom lembrar: a
falência dos sistemas naturais vai afetar toda a humanidade, independente de
país, raça, credo ou classe social.
Refletir sobre o consumismo que vivemos é como administrar
o orçamento para não criarmos um débito impagável. A humanidade está trazendo
para o presente o prazo de validade do planeta Terra, que deveria estar milênios
no futuro.
Verdade, embora mais que refletir temos que diminuir
ResponderExcluiro desperdício , o consumismo e repassar aos mais jovens
como uma opção de vida.