Publicado no Diário dos Campos em 17 de novembro de 2015.
Com o
passar dos anos, cada vez mais me convenço de que a vida é mesmo uma escola
implacável, que nos cobra exemplarmente os nossos erros, e sobre eles persiste
até que demos mostra de algum aprendizado. Para usar exemplos bem próximos,
vamos falar do humilhante 7X1 para a seleção da Alemanha na copa de 2014, do
atentado ao Charlie Hebdo na França no começo deste ano e dos bárbaros
atentados dos últimos dias naquele mesmo país.
O
futebol é a paixão nacional, e um forte elemento na construção da identidade do
povo brasileiro. Através dele o brasileiro mostrou ser capaz de vencer, e foi
deixando para trás o complexo de vira-lata que o assolava. Foi um grande
empenho de muita gente trazer para o país a copa de 2014. Uma chance de
redimir-se da tragédia histórica do “maracanazo”, a derrota de 1950 para o
Uruguai de Ghiggia. E então, às vésperas da copa de 2014, orquestrou-se um
incompreensível coro “fora copa”. E na abertura do mais global dos eventos
esportivos, o único que literalmente para o planeta, até suas guerras e
acirradas disputas ideológicas, perpetrou-se o ato de supremo desrespeito, a
presidenta foi vaiada e ofendida. A vida logo tratou de admoestar os rebeldes:
foi imputado ao país um vergonhoso e histórico 7X1 perante a Alemanha,
reforçado ainda pelo 3X0 frente à Holanda. Passamos a ser uma vergonha naquilo
em que já fomos um orgulho.
No
início deste ano, o bárbaro atentado à revista Charlie Hebdo. Bárbaro e
injustificável, sem dúvida, mas alegaram os seus autores que faziam justiça às
ofensas publicadas pela revista aos ícones do islamismo. Será que teriam sido
os ofendidos que teriam perdido a medida das retaliações justificáveis, ou
teria sido a ofensora, a revista, que teria perdido a medida das ofensas? E
agora os ainda mais bárbaros atentados, supostamente em retaliação às posições
da França perante o Estado Islâmico e à acossada população árabe residente no
país de Le Pen. Nestes dois casos, parece-nos também que a vida anda a procurar
mostrar sua lógica implacável: o fanatismo de uns faz com que se tornem
perseguidos e combatidos por boa parte do mundo ocidental, a incompreensão, a
intolerância e a ofensa de outros fazem com que sejam alvo do ódio dos
primeiros.
Mas
estes exemplos nos conduzem ao Brasil de hoje. O país ainda pode ser
considerado, perante estas tragédias que vão pelo mundo, uma terra de
tolerância e convivência pacífica. Talvez herança de um povo que resulta da
miscigenação de raças. Mas é bom ficar alerta, pois parece que também por aqui
a incompreensão e a intolerância têm sido fomentadas, até os extremos do ódio
explosivo. Se não existem entre nós os ódios raciais, culturais, religiosos que
existem em outras partes do mundo, parece estar sendo cultivado entre nós o
ódio ideológico.
Aqueles
que estão fomentando tal ódio ideológico entre nós teriam para tanto muitas
razões. Receio principalmente a que talvez seja a principal e mais escondida delas,
e que não é doméstica: se o país não estiver dividido por algum tipo de ódio e
intolerância interna, ameaça ascender à grande nação que tem potencial de ser.
E isso assusta o arranjo mundial de poder, que não deseja novos concorrentes.
Mas os fomentadores do ódio e os que se deixam por ele levar não perdem por
esperar: logo a vida exercerá seu implacável poder de correção. A menos que
aprendamos antes.
Excelente seu modo de expor as ideias , sem paixão , totalmente imparcial .
ResponderExcluirParabéns desejo muito sucesso ! Abçs Su
Ação e reação, né?
ResponderExcluirA vida é mesmo uma escola!
Espero que o Brasil não precise aprender do jeito difícil :(
Achei muito bom todos deveriam ler.
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