quarta-feira, 13 de abril de 2016

VCG - mesquinharia ou pirataria?

          A Viação Campos Gerais (VCG), empresa que detém o monopólio do transporte coletivo em Ponta Grossa, está impondo uma novidade que é um espantoso retrocesso: os alunos não têm mais direito à consagrada meia tarifa fora do restrito horário de suas aulas. Se têm aulas pela manhã, não têm direito à meia tarifa à tarde, se têm aulas à tarde, não têm direito pela manhã, se têm aulas à noite, não têm direito durante o dia.

          Mas o que significa esse retrocesso imposto pela empresa? Talvez signifique um esforço de aumentar seu lucro? Então teríamos de considerar que se tratasse de um caso de mesquinharia? Ou talvez signifique um esforço deliberado para prejudicar o desempenho escolar de nossos jovens provenientes das camadas mais carentes da população? E neste caso teríamos que considerar que se tratasse de uma pirataria, e assim sendo o que estaria sendo pilhado seria a educação de uma parte da juventude, a mais pobre, que está sendo preparada para conduzir nosso país?

          Seriam os dirigentes da VCG que inventaram este retrocesso pessoas que nunca frequentaram uma escola? Ou nunca precisaram utilizar o transporte coletivo? Não saberiam eles que, além do horário das aulas, os alunos, principalmente os dos ciclos superiores, no ensino médio e na universidade, também frequentam as bibliotecas para pesquisas e consultas, reúnem-se com colegas para estudar e elaborar trabalhos, participam de grupos de estudo e de iniciação científica, fazem estágios obrigatórios, assistem a encontros científicos, participam de centros acadêmicos estudantis e de atividades culturais ou sociais nas suas instituições de ensino?

          E as direções das instituições de ensino, principalmente das universidades e faculdades da cidade, qual seria seu papel perante tal retrocesso? No meu entender, as diretorias e reitorias, bem como o Núcleo Regional de Educação, deveriam estar questionando esta absurda imposição da empresa de ônibus. Já lhe basta o questionável privilégio do monopólio.

          E os estudantes penalizados com a proibição da meia tarifa? Bem, a estes meu conselho é que se organizem em suas entidades estudantis, centros acadêmicos, diretórios, e exijam a devolução do direito consagrado que lhes está sendo usurpado. Reivindiquem perante as direções das instituições de ensino cobrando-lhes um posicionamento diante da VCG, reivindiquem diretamente à VCG, reivindiquem perante a prefeitura, que é quem contrata a empresa de ônibus. E se isto não der resultados, manifestem-se perante a população, vão à rua dar visibilidade à usurpação de seus direitos e à improbidade da empresa de ônibus.

          Em outros locais do Brasil e do mundo a reivindicação hoje é pelo passe livre, e não pela meia tarifa. Já se pode considerar um atraso reivindicar a meia tarifa plena. Um atraso maior, beirando a ignorância, é o retrocesso de restringir a meia tarifa. A não ser que esteja prevalecendo o entendimento de que é necessário que a população mais pobre, aquela a quem faz diferença a tarifa do ônibus, tenha mesmo que ter a educação prejudicada, e tenha que permanecer na ignorância.

          Será este o caso?

Um comentário:

  1. Excelente texto, professor!!! Realmente é um retrocesso se pararmos pra pensar que estamos lutando por meia tarifa, enquanto em outros lugares do Brasil a discussão já é sobre passe livre. Jessica Gislaine

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