Publicado no Diário dos Campos em 29/03/2016
Cristo foi crucificado pela multidão. Homem simples que pregava o amor com firmeza, teve muitos admiradores e seguidores, e também uma multidão de detratores e ferozes adversários. Quando Pilatos lavou as mãos e entregou a sorte de Cristo às massas, estas escolheram salvar Barrabás, um notório salteador, homem do povo, pecador como as massas.
Cristo foi crucificado pela multidão. Homem simples que pregava o amor com firmeza, teve muitos admiradores e seguidores, e também uma multidão de detratores e ferozes adversários. Quando Pilatos lavou as mãos e entregou a sorte de Cristo às massas, estas escolheram salvar Barrabás, um notório salteador, homem do povo, pecador como as massas.
Quais
teriam sido as razões para a multidão condenar um homem santo e libertar um
notório bandido? Talvez pelo fato de as massas identificarem-se mais com este
último, com o qual compartilhava pecados da mesma natureza?
Ao
longo da história encontram-se muitos exemplos de homens e mulheres santos, ou
pelo menos com algumas notáveis boas intenções, sacrificados pelos seus
adversários. Joana D’Arc foi executada por rivais aos 19 anos, em 1431, por juntar
armas ao lado de causas populares e em prol da soberania da França frente aos
interesses ingleses, estrangeiros sempre dominadores.
Giordano
Bruno foi condenado pela inquisição por defender ideias consideradas heréticas,
como a evolução das espécies e a imensidão do universo. Foi queimado em Roma em
1600, porque era um homem capaz de ver a verdade à frente de seu tempo.
Gandhi,
apesar de também ter muitos seguidores entre as gentes simples, sem o querer
fazia inimigos desconhecidos. E por suas ideias libertadoras e pacifistas foi
assassinado na Índia em 1948.
Luther
King foi outro libertador. Teve a coragem de desafiar a arrogante e truculenta
hegemonia branca de sua época pregando igualdade racial sem violência. Coragem
que lhe valeu o apoio dos negros, e o ódio de segregacionistas brancos. Foi
assassinado em Memphis em 1968.
John
Lennon falava de amor e liberdade e sua linguagem era a música. Encantou
gerações de jovens que o idolatravam, mas também despertou inexplicáveis ódios.
Foi assassinado em 1980 em Nova Iorque.
Chico
Mendes foi outro homem simples que se dispôs a lutar pelos direitos dos
trabalhadores rurais e em defesa das matas do Acre. Utilizava a tática dos
empates, manifestações pacíficas em que os seringueiros defendiam as árvores
com os próprios corpos frente ao avanço das máquinas dos desmatamentos. Foi
assassinado com tiros de escopeta em dezembro de 1988.
Dorothy
Stang, religiosa estadunidense naturalizada brasileira, também atuava na Amazônia
junto a trabalhadores rurais, buscando defender seus direitos e a barrar grilagens
e desmatamentos ilegais. Foi assassinada numa estrada de terra no interior do
Pará numa manhã de fevereiro de 2005.
O traço
comum entre essas celebridades é o fato de terem sido assassinados por tentar
mudanças no mundo, seja lutando por maior justiça social ou maior amor entre os
seres humanos, seja defendendo a verdade e a natureza que alimentam o corpo e a
alma humana. E o verdadeiro amor inescapavelmente conduz à justiça. Talvez por
esse motivo tenham sido todos assassinados? Mas qual é essa razão, ou falta de
razão, que faz com que homens e mulheres que dedicam sua vida ao amor, à
verdade, à justiça social e à liberdade sejam odiados a ponto de serem
assassinados, e que os salteadores do povo sejam poupados?
Se temos alguma consciência, é bom que dediquemos uma
boa reflexão sobre isto. Estamos a celebrar o sacrifício de Cristo, que
aconteceu há cerca de 2000 anos. Mas estes nossos conturbados tempos têm também
suas celebridades idealistas que amealham ódios, e seus absolvidos salteadores
do povo.
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