Nunca
se ouviu falar tanto de crise no Brasil. Talvez só na Alemanha nazista tenha
sido tão colocado em prática o princípio de que uma inverdade incansavelmente
repetida passa a ser percebida como uma verdade. Falava-se na crise do governo
Dilma, agora fala-se no governo interino que vai tirar o país da crise. Será?
O
governo interino já vai mostrando a que veio: mudanças na aposentadoria,
arrochando os direitos dos trabalhadores; aumento de impostos; desvinculação de
orçamentos, ou seja, diminuição das verbas, para saúde, educação, moradia e
outros setores básicos; o ato falho, depois remediado, de extinguir o
Ministério da Cultura (acabar com a educação e a cultura é o caminho para
manter as massas ignorantes e manipuláveis); a indicação de um ministro expoente
do governo interino que é flagrado afirmando que é preciso acabar com as
investigações contra a corrupção, e que diante das câmeras nega descaradamente
suas afirmações; as declarações de intenção de privatização de setores
estratégicos que, pelo menos em parte, ainda resistem estatais, como educação,
saneamento, energia e petróleo; as afirmações sobre mudança de leis
trabalhistas em prejuízo dos trabalhadores... Até onde vai esta lista de deslealdades
com o país e seu povo?
E o
pior, o governo interino age de uma forma que não lhe cabe outra expressão que
não golpe, ou, como dizem alguns, um monumental retrocesso. Alguns não querem
que a palavra “golpe” seja utilizada. Mas como é possível que um
vice-presidente que foi eleito com um programa de governo, ao ser alçado
interinamente à presidência passa a praticar o programa de governo da ala que
perdeu as eleições? Onde está o caráter desse vice-presidente, e de todos que o
apóiam, ao contrariar o resultado das eleições aproveitando-se de um momento de
governo interino que poderá deixar de existir em algumas semanas?
E o que
está por trás do golpe? Historiadores já têm insistido que o Brasil, país que
por mais tempo manteve o regime escravocrata, ainda não conseguiu emergir do
abismo social entre casa grande e senzala. A maior parte de nossas elites
econômicas, sociais e culturais comporta-se como senhores de engenho que
consideram o país sua propriedade, e não abrem mão do “direito” de explorar e oprimir aqueles que consideram pertencentes à senzala, ou seja, o povo. São
elites atrasadas, que ainda não perceberam que as sociedades mais equitativas
têm menos conflitos, menos crimes, mais harmonia e qualidade de vida, e nelas
todos saem beneficiados.
E a
propalada crise? A crise é resultado de uma sabotagem também colossal. A
começar pela grande mídia, que repete o bordão crise a todo instante, que
manipula informações em favor de uma parcialidade assustadora. Não é exagero a
expressão “massacre midiático” que se tornou comum nos últimos anos. E a elite
econômica faz sua parte. Fiel ao seu apego à casa grande, não deseja ver a
ascensão econômica e social da senzala. Não apóia o governo que age em nome
dessa ascensão. Boicota investimentos produtivos, promove o desemprego,
propicia a inflação e o retrocesso também no crescimento econômico do país.
Criou-se a crise para justificar o golpe. E o golpe,
onde nos levará?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aos leitores do blog que desejarem postar comentários, pedimos que se identifiquem. Poderão não ser postados comentários sem identificação.