quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Cavalos soltos no campus

Recorrentemente, bandos de cavalos reaparecem no campus. Aparentemente, isso acontece em certas épocas, em que conjunções telúricas ou mesmo astrológicas emanam energias esdrúxulas, que estremecem a frágil harmonia entre os viventes.

Nestes dias reapareceu um bando de cavalos por lá. Apesar dos avisos que sua presença ali é ilegal, e sujeita os responsáveis a legislação que prevê multas e até prisão. Mas o bando pasta impunemente pelos gramados do campus, perambula livremente, alheio ao que um cavalo não pode compreender: sua liberdade coloca em risco aqueles que trabalham, estudam ou visitam o campus. Um lugar especial, que tem uma missão louvável: ensinar profissões e formar cidadãos. Às vezes, os quadrúpedes atravancam as vias de acesso do campus, não conseguem atinar que sua presença ali pode causar transtornos e até acidentes fatais.

O bando está sempre junto, os cavalos comportam-se de uma maneira uniformizada, parecem pertencer a um único dono. Este é o verdadeiro responsável pelo crime da presença dos cavalos soltos, embaraçando a liberdade de ir e vir dos usuários do campus, provocando o risco de acidentes e intimidando aqueles que eventualmente não estão habituados a lidar com cavalos.

Outro dia, presenciamos um episódio significativo: uma professora, tentando acessar seu local de trabalho, deu com um bando de cavalos bloqueando o portão que obrigatoriamente teria que atravessar. Ela aproximou-se cuidadosa, tentou evitar qualquer reação dos animais, que pastavam pelo gramado bem à frente do portão. Teve paciência de esperar, até que lhe pareceu que poderia ultrapassar o portão sem provocar os quadrúpedes. Mas assim que tentou abrir o portão, eles vieram em direção a ela. Não se poderia dizer qual era a intenção dos equinos, se era curiosidade a respeito daquela professora, se era uma reação agressiva a um humano que lhes invadia o pasto. Intimidada, a professora teve que recuar, esperar que os cavalos se cansassem do interesse nela, fossem enfim pastar na grama mais viçosa que ainda restava um pouco além, ou atendessem a um chamado do líder do bando, que já se afastara, um tanto enciumado por momentaneamente ter a atenção da manada desviada de si para aquela intrusa professora.

Sabe-se que, cuidados com compreensão e amorosidade, os cavalos são dóceis e retribuem os bons tratos, interagindo inteligentemente com seus donos ou treinadores. O problema é justamente este: às vezes os treinadores são menos dóceis e amistosos que seus animais. Também é assim com os cães, que diferentemente dos cavalos, na maioria das vezes não são animais de trabalho, mas sim de companhia.

Por esse motivo, pobres cavalos! Estão sujeitos a recolhimento em enclausurantes abrigos do poder público, até que seus donos, verdadeiros responsáveis pelas contravenções, arquem com as penalidades cabíveis e libertem os animais.

Aos usuários do campus, cuidado ao encontrar o bando de cavalos. Eles podem comportar-se como uma inconformada e ressentida manada. Mas lembrem-se, eles têm um potencial de compreensão e docilidade igual ao dos humanos ordinários. Se estão agressivos, é por culpa de seus donos e treinadores. Paciência, compreensão e bons tratos deverão resgatá-los da passageira asneira.

2 comentários:

  1. Carlos Mendes Fontes Neto10 de novembro de 2022 às 17:25

    Ótimas colocações. Os donos destes animais costumam se comportar agressivamente contra qualquer ação que vise coibir a irregular invasão do Campus

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  2. Encaixar assim me deu acesso de riso. Não fosse trágico seria cômico.
    Não acredito que possam ser apaziguado pois no íntimo se identificam com o dono ou os donos.

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