quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Impeachment ou golpe?

          Que momento surrealista vive nosso país! Assistimos de um lado os congressistas divididos, se apóiam ou não o pedido de cassação do presidente da câmara federal, alvo de várias denúncias de corrupção e improbidade. Este, terceiro homem na sucessão presidencial, em represália exerce o poder de desencadear processo de impeachment contra a presidenta, também por supostas denúncias de corrupção. Os parlamentares de oposição à presidenta querem que o processo de impeachment seja moroso, para dar tempo de mobilizar as massas. Julgam necessário percurso ao contrário daquele que cassou Collor, quando o impeachment nasceu nas ruas e contagiou o congresso. Agora, seria necessário tempo para ele sair do congresso e contagiar as massas nas ruas. E nesse meio tempo, alguns empresários e dignidades do país apelam por um processo rápido, pois o prolongamento da crise política seria um desastre para a já combalida economia do país.

          Vamos refletir um pouco sobre este quadro. Primeiro, perguntemo-nos qual seria o propósito destes dois protagonistas do momento, a presidenta do país e o presidente da câmara. Qual a história de vida dos dois, quais as acusações que pesam sobre cada um deles, em nome de quais ideais dedicam suas vidas? Aqui uma dificuldade, discernir entre fatos e factoides, estes últimos quase sempre criados para esconder os primeiros. Entre os factoides, aquele que circulou pouco antes da eleição da presidenta, de que ela seria assassina do tempo de militância contra o regime militar no Brasil. Só depois os fatos apareceram, ela não foi assassina, mas foi um dos muitos jovens idealistas, corajosos e inconformados com um regime ditatorial, este sim criminoso. Sobre as mentiras que movem as massas, é bom lembrar também o estouro do cárcere de Abílio Diniz na véspera da eleição de Collor. Os sequestradores, mostrados em cadeia de TV, vestiam camisas do PT. Só muito depois se revelou que as camisas tinham sido vestidas à força pelos agentes. Mas tudo isto esquecemos, uma característica nossa é a débil memória, assim como é débil o nosso discernimento.

          Qual é o propósito, a razão de vida dos nossos dois protagonistas do momento? O presidente da câmara, sua história parece apontar que seja alguém empenhado em ter poder pessoal, eivado de atos de truculência, e altos valores em contas bancárias na Suíça não declaradas. E a presidenta do país? Os pecados que lhe imputam são de cegueira com atos de corrupção na Petrobras e no governo e uma obstinada defesa e identidade com o PT, esse partido que a grande mídia oligárquica está demonizando no Brasil, como pelo mundo se demoniza o islamismo. Ora, brasileiros, vamos ter um mínimo de dignidade, e reconhecer que sistemas corruptos são a alma do país. Em tudo, e há muito tempo, as propinas, os subornos, os superfaturamentos, as gorjetas e as caixas-dois estão presentes. Ou não é assim? E esta é uma sangria que drena as riquezas e a moral do país, mas precisamos enfrentá-la com firmeza, e não com hipocrisia. Ou vamos acreditar que os responsáveis são os bodes expiatórios que a mídia tenta nos imputar? A mesma mídia que transmitiu ao vivo e em cadeia nacional os sequestradores do Abílio Diniz com as camisetas do PT?

          E qual o propósito da presidenta? Ora, pois a meu ver, não existe propósito mais nobre num ser humano que ter a coragem de dedicar sua vida em prol de causas em favor da liberdade, como na época da ditadura militar, colocando em risco a própria vida. E não existe propósito mais nobre que dedicar-se à busca da justiça social e da soberania, que é a busca de um partido de trabalhadores, surgido de lutas sindicais. E para tanto ter que sofrer o ataque e o desgaste de todas as forças reacionárias empenhadas em manter nossa sociedade dividida entre privilegiados e explorados.

          Que tremenda diferença entre nossos dois grandes protagonistas do momento! E o papel dos políticos de oposição, das massas e da grande mídia oligárquica? A oposição tem declarado que quer levar o impeachment do congresso (onde ele não vingaria sob o abrigo da lei) para as ruas. A mídia certamente empenhar-se-á em convencer as massas de que a presidenta é culpada de estar cercada por improbidades e de pertencer ao partido dos trabalhadores. E as massas? Terão as massas brasileiras alcançado algum grau de discernimento, terão superado sua débil memória, terão alcançado alguma confiança na capacidade de agir em prol da transformação de nossa perversa sociedade noutra mais justa, ética e humanizada?

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Enquanto a Rede globo de televisão mandar neste país, infelizmente vai ser assim. Espero que um dia isso possa acabar e que todos possam pensar com o seu próprio cérebro e não com o da globo.

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  3. Que grande diferença, mesmo! O nosso governo é realmente o reflexo da nossa sociedade: abismos de diferenças para todos os lados. Mas vejo muita gente pensando como a gente: no absurdo que é esse processo de impeachment. Qualquer coisa a gente vai pra rua também, oras! Fora Cunha!

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  4. Parabéns Mário.
    Estamos juntos!
    Vida longa às Perrengas Princesinas!

    Candeias.

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  5. Muito bom seu blog, parabéns pela iniciativa . abçs

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