Que
momento surrealista vive nosso país! Assistimos de um lado os congressistas
divididos, se apóiam ou não o pedido de cassação do presidente da câmara
federal, alvo de várias denúncias de corrupção e improbidade. Este, terceiro
homem na sucessão presidencial, em represália exerce o poder de desencadear
processo de impeachment contra a presidenta, também por supostas denúncias de
corrupção. Os parlamentares de oposição à presidenta querem que o processo de
impeachment seja moroso, para dar tempo de mobilizar as massas. Julgam
necessário percurso ao contrário daquele que cassou Collor, quando o
impeachment nasceu nas ruas e contagiou o congresso. Agora, seria necessário
tempo para ele sair do congresso e contagiar as massas nas ruas. E nesse meio
tempo, alguns empresários e dignidades do país apelam por um processo rápido,
pois o prolongamento da crise política seria um desastre para a já combalida
economia do país.
Vamos
refletir um pouco sobre este quadro. Primeiro, perguntemo-nos qual seria o
propósito destes dois protagonistas do momento, a presidenta do país e o presidente
da câmara. Qual a história de vida dos dois, quais as acusações que pesam sobre
cada um deles, em nome de quais ideais dedicam suas vidas? Aqui uma
dificuldade, discernir entre fatos e factoides, estes últimos quase sempre
criados para esconder os primeiros. Entre os factoides, aquele que circulou
pouco antes da eleição da presidenta, de que ela seria assassina do tempo de
militância contra o regime militar no Brasil. Só depois os fatos apareceram,
ela não foi assassina, mas foi um dos muitos jovens idealistas, corajosos e
inconformados com um regime ditatorial, este sim criminoso. Sobre as mentiras
que movem as massas, é bom lembrar também o estouro do cárcere de Abílio Diniz
na véspera da eleição de Collor. Os sequestradores, mostrados em cadeia de TV,
vestiam camisas do PT. Só muito depois se revelou que as camisas tinham sido
vestidas à força pelos agentes. Mas tudo isto esquecemos, uma característica
nossa é a débil memória, assim como é débil o nosso discernimento.
Qual é
o propósito, a razão de vida dos nossos dois protagonistas do momento? O
presidente da câmara, sua história parece apontar que seja alguém empenhado em
ter poder pessoal, eivado de atos de truculência, e altos valores em contas
bancárias na Suíça não declaradas. E a presidenta do país? Os pecados que lhe
imputam são de cegueira com atos de corrupção na Petrobras e no governo e uma
obstinada defesa e identidade com o PT, esse partido que a grande mídia
oligárquica está demonizando no Brasil, como pelo mundo se demoniza o
islamismo. Ora, brasileiros, vamos ter um mínimo de dignidade, e reconhecer que
sistemas corruptos são a alma do país. Em tudo, e há muito tempo, as propinas,
os subornos, os superfaturamentos, as gorjetas e as caixas-dois estão
presentes. Ou não é assim? E esta é uma sangria que drena as riquezas e a moral
do país, mas precisamos enfrentá-la com firmeza, e não com hipocrisia. Ou vamos
acreditar que os responsáveis são os bodes expiatórios que a mídia tenta nos
imputar? A mesma mídia que transmitiu ao vivo e em cadeia nacional os sequestradores
do Abílio Diniz com as camisetas do PT?
E qual
o propósito da presidenta? Ora, pois a meu ver, não existe propósito mais nobre
num ser humano que ter a coragem de dedicar sua vida em prol de causas em favor
da liberdade, como na época da ditadura militar, colocando em risco a própria
vida. E não existe propósito mais nobre que dedicar-se à busca da justiça
social e da soberania, que é a busca de um partido de trabalhadores, surgido de
lutas sindicais. E para tanto ter que sofrer o ataque e o desgaste de todas as
forças reacionárias empenhadas em manter nossa sociedade dividida entre
privilegiados e explorados.
Que
tremenda diferença entre nossos dois grandes protagonistas do momento! E o
papel dos políticos de oposição, das massas e da grande mídia oligárquica? A
oposição tem declarado que quer levar o impeachment do congresso (onde ele não
vingaria sob o abrigo da lei) para as ruas. A mídia certamente empenhar-se-á em
convencer as massas de que a presidenta é culpada de estar cercada por
improbidades e de pertencer ao partido dos trabalhadores. E as massas? Terão as
massas brasileiras alcançado algum grau de discernimento, terão superado sua
débil memória, terão alcançado alguma confiança na capacidade de agir em prol
da transformação de nossa perversa sociedade noutra mais justa, ética e
humanizada?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEnquanto a Rede globo de televisão mandar neste país, infelizmente vai ser assim. Espero que um dia isso possa acabar e que todos possam pensar com o seu próprio cérebro e não com o da globo.
ResponderExcluirQue grande diferença, mesmo! O nosso governo é realmente o reflexo da nossa sociedade: abismos de diferenças para todos os lados. Mas vejo muita gente pensando como a gente: no absurdo que é esse processo de impeachment. Qualquer coisa a gente vai pra rua também, oras! Fora Cunha!
ResponderExcluirParabéns Mário.
ResponderExcluirEstamos juntos!
Vida longa às Perrengas Princesinas!
Candeias.
Muito bom seu blog, parabéns pela iniciativa . abçs
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