Quanto é suficiente? – o amor pelo dinheiro e a defesa da
vida boa é o título
de um livro dos irmãos britânicos Robert Skidelsky (economista) e Edward Skidelsky
(filósofo) publicado no Brasil em 2017. É leitura muito recomendável para quem
tem intenção de manter algum discernimento e lucidez neste nosso conturbado
mundo atual, em que o amor pelo dinheiro tem guiado a humanidade.
O livro começa
por diagnosticar como anda a economia no mundo, comparando dados de renda per
capita, distribuição de renda, qualidade de vida, satisfação com a vida e
felicidade. Nesta primeira parte, o livro mostra dados que levam a concluir que
a renda per capita no mundo todo é crescente, a renda encontra-se cada vez mais
concentrada, os índices de qualidade de vida mostram melhoras, mas a satisfação
e a felicidade pioram. É mencionada a insaciabilidade dos desejos humanos, que
junto com a necessidade de ostentação e a competitividade levam ao equívoco de
considerar que o possuir é a meta fundamental da vida.
Discute também
a inescapável redução da necessidade de mão de obra, substituída pela
tecnologia, nos processos produtivos atuais. E a importância de planejar a
redução da carga horária de trabalho visando evitar o desemprego e o ócio nocivo.
O livro define
“vida boa” como aquela que não é dedicada somente ao trabalho e ao consumo, mas
aquela que é vivida com satisfação, e que desejamos viver. Ela nos propicia
experiências estéticas, intelectuais, morais e éticas. Vida boa identifica-se
com bem estar, no sentido amplo do ser: orgânico, emocional, mental, moral,
espiritual.
Em seguida o
livro trata dos chamados “bens básicos” para a vida boa: saúde (no sentido amplo da palavra), segurança (no trabalho, na integridade pessoal, na liberdade de
pensamento, de credo, de deslocamento...), respeito
(de etnia, de cultura, de origem, de ideologia, de classe social...), personalidade (que vem com a educação, e
permite que cada um tenha plenas condições de avaliar com sabedoria e tomar
partido nos muitos impasses com que a vida nos confronta), harmonia com a natureza (fala-se em “ecologia profunda”, aquela em
que a compreensão utilitária da ecologia – o natural é para garantir-nos a vida
presente e futura – evolui para a ecologia profunda – todo o planeta, toda a
vida, tem um valor intrínseco que ultrapassa os interesses humanos, está no
mesmo nível de valor da vida humana), amizade
(incluindo-se aí os laços de família, mas indo muito além, para todas as
relações que englobam intensidade e afetuosidade) e lazer (aquelas atividades que nos trazem relaxamento, repouso e
crescimento que nos permitem refletir e aperfeiçoar nossa percepção do mundo e
de nós mesmos, melhorando nossa auto-estima e nossa afetuosidade).
E o livro
termina apontando saídas, pessoais e sociais, para a vida boa: normas gerais
que inibam a insaciabilidade dos desejos humanos (acumulação e consumo
exagerados); gestão responsável da substituição do trabalho pela tecnologia de
modo a propiciar o lazer saudável; distribuição equitativa da renda; sistema
educacional voltado para a formação de cidadãos conscientes e comprometidos com
a satisfação humana, e não para a satisfação do mercado; produção voltada para
necessidades locais, e não para o mercado mundial; sistema tributário incidente
sobre o consumo e não sobre renda; tributação diferenciada de ganhos rentistas,
altos salários, heranças e fortunas; controle da publicidade, de forma que o
consumo atenda mais a reais necessidades e não a necessidades criadas pela
propaganda.
A leitura do
livro inevitavelmente nos faz refletir sobre o momento que passamos no Brasil:
por aqui, a concentração de renda só faz aumentar, a tributação incide mais
sobre o trabalhador pobre do que sobre o rico especulador, a educação forma
para o mercado de trabalho, não para a vida cidadã.
E, principalmente, nos faz compreender que reformas necessárias para ajustar contas públicas devem objetivar prioritariamente o sistema de tributação, e não as leis trabalhistas e a aposentadoria.
E, principalmente, nos faz compreender que reformas necessárias para ajustar contas públicas devem objetivar prioritariamente o sistema de tributação, e não as leis trabalhistas e a aposentadoria.
Estamos muito
longe do que o livro preconiza como caminhos para a vida boa.
Espero que um dia a gente abra os olhos e siga o Conselho dos autores.
ResponderExcluirComo diria uma Grande Alma, muito tempo atrás:"que vejam e ouçam aqueles que tenham olhos de ver e ouvidos de ouvir"... Sigamos em busca da felicidade em harmonia com o Mundo Melhor!
ResponderExcluirQuero emprestado, quando estiver por aqui. Abraços!
ResponderExcluirSe houver tempo para isso , já que o homem transforma natureza em papel moeda , e como sabemos a natureza reage , acaba com tudo que pode lhe matar , e pior pra ela milhões de anos são nada
ResponderExcluirNosso modo de vida infelizmente não favorece parar pra o antigo e famoso "pensar na vida".
ResponderExcluirHavia um tempo, não muito distante, em que uma pessoa nascia escrava e quase sempre se conformava com isso. Mas isso mudou e por isso a violência se tornou algo normal, até banal em nossas vidas. E tem gente que ainda se surpreende com tanta violência. Sinais desse tempos de mudanças. Muito sofrimento ainda nos espera meu caro. Infelizmente. E assim caminha a humanidade. Abraços. Carlos SA
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