Sexta-feira, 14 de junho de 2019 pela manhã, dia nacional
de manifestações contra a reforma da previdência e outras diabruras do governo
do presidente que reconhece que não nasceu para o cargo que ocupa. Em Ponta
Grossa a manifestação foi marcada para o espaço em frente da Igreja dos Polacos
(Igreja Sagrado Coração de Jesus), na Praça Barão de Guaraúna. Um local
costumeiro de concentração nas manifestações, dali as passeatas seguem em
marcha pela Av. Vicente Machado, artéria nervosa da cidade, até o terminal
central de ônibus, junto ao Parque Ambiental.
A frente da igreja é um lugar bem adequado para as
concentrações. Ampla escadaria serve de anfiteatro para os manifestantes. Mas
não naquela sexta-feira. Ao lá chegarem, as escadarias estavam cercadas com
aquelas fitas plásticas amarelas de isolamento, enquanto dois funcionários
armados de esfregões e uma mangueira pressurizada realizavam a lavagem dos
degraus.
O povo foi chegando e ocupando a praça e as calçadas ao
lado da escadaria, a concentração ocorreu normalmente. Os degraus interditados seriam
uma facilidade, mas não eram essenciais. Mas ficava evidente que aquela lavagem
era um proposital empecilho, cuja eficácia um jovem padre de batina vinha
conferir de tempos em tempos. Ao mesmo tempo que verificava a bandeira nacional
extemporaneamente hasteada no frontal da igreja. Pobre jovem padre. Se ele se
transportasse para a época de Cristo estaria então ao lado dos invasores
romanos ou dos fariseus com eles conluiados para a tirania do povo.
Mas a ocorrência mais marcante aconteceu quando a
multidão já começava a deslocar-se para a marcha ao longo da Vicente Machado. Aquele
aglomerado, eloquente mas pacífico, parece ter sido demasiado para os nervos do
funcionário que manejava a mangueira pressurizada. Inesperadamente e sem motivo
aparente mirou-a nas costas de moças que se afastavam, alvejando-as com o jato
d’água. Possivelmente um arroubo de agressividade inspirado nos delirantes
gestos disseminados pelo desatinado presidente e seus asseclas.
O lavador logo se arrependeu de seu acesso, mas ele já
fora suficiente para a revolta dos até então pacíficos manifestantes. Ele foi alvo
de uma chuva de xingamentos e desqualificações. Ainda bem que se conteve, não
voltou a levantar o jato d’água contra o povo indignado. Se o fizesse a paz da
manifestação não teria resistido.
O jovem padre que zelava pela interdição da escadaria e o
lavador armado com o jato d’água são fiéis símbolos dos desvarios de nossa
sociedade. O que pensará o jovem padre do Papa Francisco, que se dedica a
tentar fazer a contraditória Igreja Católica voltar-se para o povo simples? O
que se passará no íntimo do lavador para, covardemente, descontrolar-se e
agredir pelas costas as manifestantes?
Parece bastar uma simples manifestação popular em nome de
seus direitos para desencadear reações inesperadas e despertar os demônios que
teimam povoar a natureza humana.
É preciso exorcizar esses demônios.
Nos tempos da ditadura militar tínhamos as vezes mais medo do guardinha da esquina que se não fosse com sua cara, poderia lhe causar problemas do que com os generais que estavam distantes em seus gabinetes com ar condicionado e todas as mordomias. Sei que um só se sente "importante e poderoso" por causa do outro. Estamos vivendo um revival daqueles tempos escuros. Há que se ter muita tranquilidade mas ser firme e forte pra enfrentar essas pequenas provocações. Abs Carlos SA
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