Publicado no Jornal da Manhã em 09/09/2020.
Outdoors na cidade
de Ponta Grossa assinados pelo Sindicato Rural e Associação de Ministros
Evangélicos dizem: “Estatais em 2015: 22 bilhões de prejuízo. Estatais em 2019:
109 bilhões de lucro”. Ao mesmo tempo, a Assembleia Legislativa do Paraná
declara-se preocupada com a venda de subsidiárias da Petrobras no estado, com
previsão de relevante queda no ICMS e corte de milhares de empregos. Convém
refletir sobre a relação entre os dois fatos.
O mau desempenho em
2015 deveu-se principalmente à Petrobras, a maior estatal brasileira. Ela estava
no auge da sabotagem imputada às empresas brasileiras desde as delações
premiadas da Lava Jato. Sobre isto, é útil a leitura do artigo “Conspiração e
corrupção: uma hipótese muito provável” de José Luis Fiori e William Nozaki,
publicado no Le Monde Diplomatique Brasil em 30 de julho último (https://diplomatique.org.br/conspiracao-e-corrupcao-uma-hipotese-muito-provavel/). O artigo esclarece como o suposto
combate à corrupção está sendo usado para destruir grandes empresas brasileiras
(não só as estatais) e perpetuar o papel do Brasil como colônia fornecedora de
commodities, sobretudo o petróleo.
O alegado “bom
desempenho” de 2019 também é devido à Petrobras. O lucro veio da venda de
partes da antes gigante brasileira. A Petrobras está sendo desmontada.
Esta é a lógica do
governo ultraliberal: contam os lucros, e não seus impactos econômicos e
sociais, nem a soberania do país. Quem apóia esta lógica, como o Sindicato
Rural e a AME o fazem ao publicar os enganosos outdoors na cidade, é cúmplice
da permanência do país num estágio de submissão, exclusão e desigualdade social
que só traz mais conflitos, insegurança e atraso. A discrepância social no
Brasil já é abismal. Apoiar medidas que a agravam é uma desumana temeridade, um
arroubo dos insaciáveis gananciosos ávidos de vantagens pessoais.
O governo
ultraliberal atual, que chegou ao poder graças à ingerência externa via
cooptação de parte do Estado e da disseminação de mentiras, está tentando maquiar
as contas do país com medidas que só prejudicam a população trabalhadora, e
favorecem interesses transnacionais: congelamento do investimento em educação,
saúde, pesquisa, cultura, infraestrutura, programas sociais e dos salários do
funcionalismo (mas não de políticos, militares e judiciário), uberização do
trabalho, novas taxações, aumento de tarifas, restrições à aposentadoria, venda
das estatais, etc. Enquanto protela mudanças vitais, como a taxação de
rentistas e fortunas, a revisão do imposto de renda e dos benefícios da elite.
Há outras
considerações a fazer quando se fala em lucro das estatais. Guilherme Estrella,
ex-presidente da Petrobras, alerta que a contratação de uma plataforma de
exploração de petróleo em estaleiros brasileiros custava mais caro que comprar
a mesma plataforma de um estaleiro na Ásia. Porque lá eles usam mão de obra
quase escrava, e no Brasil as plataformas eram fabricadas por operários com
direitos trabalhistas, resultando num encadeamento de benefícios econômicos e
sociais.
Mas isso ficou para
trás.
Excelente Mario. É preciso sempre botar a boca no trombone. Mas a Petrobras também serviu pra negócios escusos em outros governos. É sempre bom lembrar.
ResponderExcluirabs.
Gostei muito do texto. Uma pena que menos de 0,5% das pessoas no Brasil tenham compreensão do que está dizendo. Tempos difíceis.com é a sorte que o país vai abraçar.
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