Corria o ano de 1992. As prioridades de
exploração de petróleo no Brasil já eram as bacias da Plataforma Continental,
mas o pré-sal ainda era desconhecido. O saudoso Professor Armando Márcio
Coimbra, do curso de Geologia da USP, conduzia uma excursão com alunos de
graduação e alguns orientandos pós-graduandos ao Recôncavo Baiano. Visitamos
muitos afloramentos que mostravam rochas sedimentares e estruturas geológicas,
poços de petróleo em perfuração ou em produção, laboratórios, gabinetes e
depósitos da Petrobras.
Nos afloramentos aprendíamos sedimentologia, faciologia,
estratigrafia, geologia estrutural, tudo voltado às condições de acumulação do
petróleo: as rochas produtoras, os reservatórios, as estruturas confinantes. O
Armando Muzambinho, com seu inesquecível jeito de mineiro matreiro, já naquele
tempo nos dava aulas que nos ensinavam os encadeamentos dos fatores
responsáveis pela formação dos indícios que conseguíamos observar, e de como
podíamos utilizá-los para interpretações e previsões. Ressaltava que tudo era
um efeito dominó, uma circunstância influenciava outra, cada uma com seus
respectivos produtos: as rochas, fósseis, estruturas que podíamos ver.
Iniciava-nos no holismo da interdisciplinaridade.
Nos poços em perfuração ou em produção, pudemos
conhecer, além da Geologia de poço, um pouco de algo que estava além: os
equipamentos, a Engenharia, a logística, o pessoal técnico. Um encadeamento de
operações e funções que o professor não cansava de lembrar: ─ É tudo um efeito
dominó, uma etapa depende da outra. ─ E por lá vimos também o óleo cru, o ouro
negro que movimenta a intrincada e insensata civilização atual.
Nos laboratórios e gabinetes da Petrobras
mostravam-nos como a tecnologia, já naquele tempo, auxiliava na integração dos
dados de superfície e dos poços com a finalidade de interpretar possíveis
acumulações de hidrocarbonetos e orientar novas perfurações. Eram sofisticados
programas computacionais onde os dados eram compilados em 3D e modelagens indicavam
a localização de novos alvos a serem prospectados. Ali também o Muzambinho nos
alertava que era tudo um efeito dominó: os dados compilados um a um produziam
os resultados esperados.
Mas talvez a melhor demonstração da
importância que o Armando tentava nos revelar do tal efeito dominó tenha acontecido
mesmo é na última etapa daquela excursão. Fomos visitar um depósito da Petrobras
na Cidade Baixa em Salvador, era como se fosse um museu com amostras de
afloramento e de subsuperfície de rochas das unidades estratigráficas da Bacia
do Recôncavo e de outras bacias continentais e costeiras do Brasil. Num amplo
barracão-depósito encontravam-se muitas amostras, em bancadas acompanhando as
laterais e numa grande bancada centralizada. Uma longa prateleira a meia altura
ocupava três das paredes do barracão. Nela, estavam cuidadosamente colocadas em
pé, lado a lado, diagonalmente para quem olhava para a parede, placas retangulares
de amostras de rochas obtidas pelo cuidadoso e uniforme corte de testemunhos de
sondagem. Uma belíssima coleção, impecavelmente arranjada.
Um dos orientandos do Armando, justamente o
mais curioso, não se contentou de observar essas amostras perigosamente
dispostas: teve de tocá-las. Não deu outra: uma das placas tombou, desencadeou
um inesquecível efeito dominó, que rapidamente propagou-se pelas três
prateleiras. Azar maior: a amostra tombada era justamente uma das primeiras de
uma das pontas da prateleira. O orientando, quando se deu conta do desastre,
chegou a sair correndo atrás das amostras que tombavam disparadas, tentando
detê-las. Elas correram mais rápidas. Ele não as alcançou.
Concluída num instante a derrubada das
amostras, o prejuízo não foi pouco. Muitas caíram no chão, partiram-se. O
silêncio e o estarrecimento dominavam o ambiente, todos se entreolhavam, imóveis
miravam o embasbacado orientando, o professor, a paralisada geóloga da
Petrobras que estava a nos guiar. Ela, superado o estupor momentâneo, procurou abrandar
a situação: ─ Não foi nada não, temos cópia das amostras; um estagiário vai
recolocá-las no lugar.
O Muzambinho não perdeu a ocasião: ─ Tudo
bem, mas viram agora a importância do efeito dominó?
Hahaha... mas não era esse o dominó a que o Muzambinho se referia.... só falta dar o nome ao boi...
ResponderExcluirHahaha
ResponderExcluirDe fato é importante calcular os riscos do efeito domingo.
Bom final de semana para você