O resultado das eleições de 2022 no Brasil ainda
está para ser compreendido. Elegeu-se um governo federal oposto da grande
maioria do congresso. A vitória de Lula, homem do povo de índole socialista,
foi muito mais espetacular do que a diminuta diferença de votos sobre o então
presidente derrotado faz supor. Lula venceu a máquina governista, até então
nunca vencida, e também nunca tão tiranicamente utilizada para cabrestear
votos. Lula venceu décadas de demonização do Partido dos Trabalhadores, e mais
de um século de demonização dos partidos e movimentos populares, comandada pela
grande mídia a serviço das elites. E venceu dez anos da mais grave lawfare que se conhece, a famigerada
Lava Jato, disfarçada de operação contra a corrupção, que visou prender e
impedir a eleição de Lula e outros quadros progressistas, sabotar empresas nacionais
com projeção internacional ─ Petrobras, Eletronuclear, OAS, BRF, JBS, Embraer,
Camargo Corrêa, Odebrecht e muitas outras ─ e entregar o Brasil a políticos
mancomunados com a rapinagem econômica mundial.
O fenômeno Lula, talvez mais que o fenômeno Bolsonaro, está também ainda por ser compreendido e assimilado. Oposto ao significado da eleição de Lula é a composição majoritariamente neoliberal conservadora, fisiológica e clientelista, do congresso eleito. Que intrigante contradição! Seria ela resultado do carisma incomparável de Lula? Ou da forte rejeição a Bolsonaro? Ou um testemunho do poder da propaganda enganosa e da falência da democracia representativa, que conduzem ao voto manipulado? Ou um pouco de tudo isso e mais alguma coisa?
A consequência é que o embate entre o governo e o congresso,
já evidente nestes primeiros meses de novo mandato, atravanca o movimento para
que o Brasil volte a prosperar com mais justiça social e autonomia frente às
pressões internacionais. Os imbróglios entre os três poderes da República para
resolver impasses e decidir os caminhos a seguir acabam retardando, se não
obstando, a adoção de medidas para tirar o país do retrocesso em que foi precipitado
nos últimos anos. As CPI’s do golpe e do MST, a autonomia do Banco Central, o
arcabouço fiscal, a política de preços dos combustíveis, os recursos para os
programas sociais, a pesquisa de petróleo na foz do Amazonas, o esvaziamento dos
ministérios voltados ao meio ambiente e aos direitos humanos são só alguns dos
muitos imbróglios. O governo Lula está sob ataque constante.
E boa parte da população, mesmo os mais humildes e
penalizados pela injustiça do sistema que vivemos, ainda não enxerga o
retrocesso, ainda teme o comunismo e a baderna das esquerdas, fantasmais vírus psicocognitivos
disseminados pela mídia reacionária, o “partido da elite”. A ignorância, o medo
e o ódio são sistematicamente inoculados na população, de modo a conservá-la
confusa, desunida e desmobilizada.
Uma conclusão do paradoxo do resultado das eleições
é que a “democracia representativa” não está funcionando. A população não sabe
de fato em quem está votando. Se soubesse, votaria no presidente socialista e
no congresso com maioria que viesse a apoiar seu governo. Ou, hipótese nefasta,
reelegeria o presidente escatológico e seu governo de destruição e entreguismo.
O que parece incompreensível é a eleição de um presidente e de uma bancada
majoritariamente contrária a ele.
Situação posta, agora é perguntar-se o que fazer
para superar o conflito e pôr o país no rumo da prosperidade. Uma resposta
possível é mobilizar a parcela da população que acredita em Lula e em sua
proposta de um Brasil mais justo e soberano, para que o povo engajado
manifeste-se como força de decisão do confuso embate entre os três poderes.
“O povo unido jamais será vencido”. É hora de
encontrar os caminhos para a união do povo no rumo da emancipação do Brasil e
dos brasileiros.