sábado, 27 de maio de 2023

O povo unido jamais será vencido

 

O resultado das eleições de 2022 no Brasil ainda está para ser compreendido. Elegeu-se um governo federal oposto da grande maioria do congresso. A vitória de Lula, homem do povo de índole socialista, foi muito mais espetacular do que a diminuta diferença de votos sobre o então presidente derrotado faz supor. Lula venceu a máquina governista, até então nunca vencida, e também nunca tão tiranicamente utilizada para cabrestear votos. Lula venceu décadas de demonização do Partido dos Trabalhadores, e mais de um século de demonização dos partidos e movimentos populares, comandada pela grande mídia a serviço das elites. E venceu dez anos da mais grave lawfare que se conhece, a famigerada Lava Jato, disfarçada de operação contra a corrupção, que visou prender e impedir a eleição de Lula e outros quadros progressistas, sabotar empresas nacionais com projeção internacional ─ Petrobras, Eletronuclear, OAS, BRF, JBS, Embraer, Camargo Corrêa, Odebrecht e muitas outras ─ e entregar o Brasil a políticos mancomunados com a rapinagem econômica mundial.

O fenômeno Lula, talvez mais que o fenômeno Bolsonaro, está também ainda por ser compreendido e assimilado. Oposto ao significado da eleição de Lula é a composição majoritariamente neoliberal conservadora, fisiológica e clientelista, do congresso eleito. Que intrigante contradição! Seria ela resultado do carisma incomparável de Lula? Ou da forte rejeição a Bolsonaro? Ou um testemunho do poder da propaganda enganosa e da falência da democracia representativa, que conduzem ao voto manipulado? Ou um pouco de tudo isso e mais alguma coisa?

A consequência é que o embate entre o governo e o congresso, já evidente nestes primeiros meses de novo mandato, atravanca o movimento para que o Brasil volte a prosperar com mais justiça social e autonomia frente às pressões internacionais. Os imbróglios entre os três poderes da República para resolver impasses e decidir os caminhos a seguir acabam retardando, se não obstando, a adoção de medidas para tirar o país do retrocesso em que foi precipitado nos últimos anos. As CPI’s do golpe e do MST, a autonomia do Banco Central, o arcabouço fiscal, a política de preços dos combustíveis, os recursos para os programas sociais, a pesquisa de petróleo na foz do Amazonas, o esvaziamento dos ministérios voltados ao meio ambiente e aos direitos humanos são só alguns dos muitos imbróglios. O governo Lula está sob ataque constante.

E boa parte da população, mesmo os mais humildes e penalizados pela injustiça do sistema que vivemos, ainda não enxerga o retrocesso, ainda teme o comunismo e a baderna das esquerdas, fantasmais vírus psicocognitivos disseminados pela mídia reacionária, o “partido da elite”. A ignorância, o medo e o ódio são sistematicamente inoculados na população, de modo a conservá-la confusa, desunida e desmobilizada.

Uma conclusão do paradoxo do resultado das eleições é que a “democracia representativa” não está funcionando. A população não sabe de fato em quem está votando. Se soubesse, votaria no presidente socialista e no congresso com maioria que viesse a apoiar seu governo. Ou, hipótese nefasta, reelegeria o presidente escatológico e seu governo de destruição e entreguismo. O que parece incompreensível é a eleição de um presidente e de uma bancada majoritariamente contrária a ele.

Situação posta, agora é perguntar-se o que fazer para superar o conflito e pôr o país no rumo da prosperidade. Uma resposta possível é mobilizar a parcela da população que acredita em Lula e em sua proposta de um Brasil mais justo e soberano, para que o povo engajado manifeste-se como força de decisão do confuso embate entre os três poderes.

“O povo unido jamais será vencido”. É hora de encontrar os caminhos para a união do povo no rumo da emancipação do Brasil e dos brasileiros.

5 comentários:

  1. Perfeita e irretocável análise, Mário. A questão está posta. Para todos os humanistas, “ou se dá ou desce”, ou “se pega e não larga”!
    Pois, se assim não o for…

    Abraços,
    Candeias.

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  2. É preciso a gente ter sido completamente despolitizado, como eu mesma fui até não muito tempo atrás, para julgar esse fenômeno. Os eleitores acham necessário eleger alguém capaz de se opor a possíveis "desmandos" do próprio executivo que elegeu, ao contrário de estar lá como colaborador na implementação de suas medidas. Trata- se de não acreditar, não confiar, no próprio sistema democrático republicano. Esse fenômeno se chama despolitização, a meu ver.

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  3. Outra consideração que acho importante: eleitores de direita que elegeram Bolsonaram para não eleger petista, em 2018, mas não são necessariamente bolsonaristas, em 2022 fizeram o contrário. Não com a intenção de deixar Lula no poder por muito tempo. A estratégia lógica: eleger congressistas capazes de oporem a medidas que não lhes interessem e até de conduzirem um processo de impeachment contra Lula. Lula não seria eleito apenas com votos dos seus nichos eleitorais. A direita não bolsonarista elegeu Lula. O congresso ainda é o reflexo do antipetismo.

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  4. Descreveu tudo o que estamos vivendo com a maestria de sempre .

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  5. Essa mobilização seria possível não fosse a exaustão causada pela política genocida da extrema direita e suas garras midiáticas.

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