Publicado no Jornal da Manhã em 10/11/2023
O plano diretor de Ponta Grossa, uma
cidade média de quase 400 mil habitantes, está sendo atacado por empreendedores
locais e os vereadores seus defensores. Alega-se que, tal como estão o código
de obras, o zoneamento e o uso do solo, investimentos estão sendo brecados,
empregos são perdidos, a prefeitura deixa de arrecadar IPTU.
Para que serve, enfim, o plano diretor? As
cidades são uma aglomeração anômala de gente, edificações e atividades. Quanto
mais cresce o ajuntamento de gente, ou seja, a população, mais são
imprescindíveis as regras que humanizem a convivência de tantas pessoas. Há
ainda fatores naturais a serem respeitados. É o caso das cidades ribeirinhas,
que têm que aprender a conviver com o mutável humor dos rios. É também o caso
de Ponta Grossa, uma cidade que ocupa espigões entre arroios divergentes, com
problemas ligados a encostas íngremes, abruptos contrastes de urbanização, abastecimento
e saneamento, fundos de vale caóticos, perimetrais e sistema viário muito
prejudicados; além de fatores históricos: uma cidade antiga, que cresceu demasiado
nas últimas décadas, mas tem ruas muito estreitas. Há quem diga que a cidade é
média, tem tráfego de cidade grande, motoristas e ruas de cidade pequena.
O plano diretor destina-se, em tese, a
estabelecer normas que melhorem a qualidade de vida da população, tanto mais
prejudicada quanto mais populosa for a cidade. Por esse motivo procuramos
compensar o estresse provocado pela vida urbana com o lazer na zona rural, ou no
contato com o mar, no litoral. O plano diretor não deve se destinar a atender
os interesses de incorporadores ou da prefeitura na sua arrecadação de
tributos. Se assim fosse, ele estaria sendo desvirtuado de sua função original.
Os incorporadores é que devem adaptar-se ao que estabelece o plano diretor. Que
projetem, por exemplo, edifícios menores, ou em locais onde não prejudiquem a
vizinhança. Não façam dos projetos de enormes edifícios uma competição de egos
dos projetistas, ou de lucros das empreiteiras. Grandes edifícios significam
empilhar muitas famílias numa área de terreno onde deveriam caber poucas. Esse
empilhamento traz problemas de saturação do tráfego, de aumento da poluição, de
abastecimento de água e energia, de saneamento, obstrui o sol, interfere na
circulação atmosférica, ecoa e aumenta os ruídos urbanos, implica custos de
aparelhamento do Corpo de Bombeiros e outros serviços públicos. Por isso é
preciso analisar com muito critério a incorporação de grandes edifícios. Não é
impedi-la, mas discipliná-la, de modo que os lucros das empreiteiras não
signifiquem prejuízo na vida dos moradores.
Querer adaptar o plano diretor aos
interesses dos incorporadores e à arrecadação da prefeitura é uma aberração, um
atentado ao discernimento. O certo é que os empreendedores e a administração
pública respeitem características naturais e históricas da cidade, com o
objetivo de melhorar a qualidade de vida da população. Se não for assim, será
dar prioridade ao lucro, ao dinheiro, e não ao ser humano que habita a cidade.
E quanto à geração de empregos, se o plano diretor for cumprido,
empreendimentos que o obedeçam continuarão a ser gerados, trabalhadores
continuarão a ser necessários.
Que Ponta Grossa, uma cidade em franco
crescimento, saiba progredir valorizando o ser humano e a qualidade de vida.
A LÓGICA INERENTE AO CAPITAL, DESCONHECE A RAZOABILIDADE DO SER HUMANO! O POVO SEM INSTRUÇÃO, VOTA NOS QUE LHES PROMETEM MIGALHAS, SEM ATENTAR PARA O FUTURO. TRISTE SINA...
ResponderExcluirConcordo com o Luciano. Uma pena darem prioridade ao lucro então a qualidade de vida. Prédios alocam mais pessoas mas roubam o sol das casas e no mais furtam a privacidade também.
ResponderExcluirInfelizmente dá desgosto acompanhar o plano diretor de PG, desde 2016, quando começaram suas tratativas. O poder público se curva diante do setor privado de forma bajuladora e servil.
ResponderExcluirExcelente matéria, professor. A cidade ficou "bonita" com tantos prédios altos, mas com altos custos que não são enxergados pela população. Custos que se escondem atrás da beleza, atrás do orgulho, e principalmente, atrás de lucros que não retornam para a coletividade, na forma de melhorias nas periferias, como saneamento, conservação de vias públicas, e mesmo com lazer mais próximo.
ResponderExcluirAssunto relevante. Merece ser tratado com muita responsabilidade pela gestão pública.
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