Todo verdadeiro professor, que na sua
formação em licenciatura aprendeu pedagogia, psicologia da educação, didática,
viu que o ensino transformador, emancipador e libertador é inclusivo e
universal. Ele não exclui, não segrega aqueles que, por pontos de vista míopes,
identifica “desajustados”. Os “desajustados” podem, na verdade, ser os
inconformados, capazes de, adultos, tornarem-se os cidadãos aptos a ajudar a corrigir
a caótica civilização que estamos vivendo atualmente, marcada por guerras,
crises ambientais, midiáticas, sanitárias, econômicas, sociais. A História está cheia de jovens “desajustados”, que depois revelaram-se talentos das artes e das
ciências.
Embora o Brasil tenha tido alguns dos
maiores mestres do ensino emancipador reconhecidos mundialmente ─ Anália
Franco, Anísio Teixeira, Paulo Freire, Êda Luiz, entre outros ─, nosso ensino
vive, principalmente nos dias atuais, profunda crise. Darcy Ribeiro, outro
eminente antropólogo e educador brasileiro, cunhou a frase “A crise da educação no Brasil não
é uma crise: é projeto”. Ele, como todos os verdadeiros educadores, enxergava
que a educação é o caminho para a emancipação do povo e do país ─ uma educação
de qualidade para todos, priorizando o intelecto e o julgamento, e não a
memorização e o adestramento. Verdadeiros educadores dedicam-se a formar cidadãos
plenos, capazes de pensar, e não simples cumpridores de tarefas, metas e
ordens.
Já foi afirmado por analistas
internacionais que o Brasil, junto com EUA, China, Rússia e Índia, é um dos
cinco países do mundo credenciados a serem superpotências, pelo tamanho de sua
população, grandeza territorial, riquezas naturais, infraestrutura instalada e
valor do PIB. Mas falta ao nosso país um requisito essencial: a educação
eficaz. Esse requisito que nos falta não é casual, não é uma crise passageira:
é um projeto, cuidadosa e longamente planejado e executado, para que nunca nos emancipemos e
deixemos de ser uma colônia explorada para nos tornarmos um novo polo de prosperidade no planeta, a rivalizar com os polos que querem ser
hegemônicos.
Diante desse quadro, as escolas
cívico-militares, programa iniciado durante os governos passados que significaram
o maior golpe da História contra a emancipação do Brasil, representam uma
traição do ensino emancipador. É o clímax do projeto de sabotagem e
desconstrução do país, que já ameaçou tornar-se uma das maiores potências
mundiais. Quais as vantagens que os professores favoráveis à militarização
estão enxergando? Estão se equivocando, acreditando que militarizar é o caminho
para superar a crise? Ou visam vantagens e ganhos pessoais? Estariam, assim,
traindo o que aprenderam na sua formação de professores?
Militares são treinados para obedecer
ordens, cegamente. Já os cidadãos plenos são aqueles que avaliam, julgam, são
capazes de questionar, de transgredir. E, assim, de corrigir rumos. Sim,
militares talvez sejam ainda necessários, até para a segurança do país. Mas o
caminho para formá-los não é interferir em escolas já instaladas, segregando
para outras escolas os jovens que não têm a vocação militar.
Perfeito!!!
ResponderExcluirSem dúvida só os mal intencionados ou néscios podem endossar um projeto deste jaez. Escola não combina com adestramento militar.
ResponderExcluirMais uma crônica lúcida e pragmática. Concordo com você.
ResponderExcluirConcordo plenamente!
ResponderExcluirNão sou, nem de longe, especialista no assunto, mas analisando números, o percentual de
ResponderExcluircrianças e jovens formados por escolas cívico-militares é muito pequeno para que causem um
impacto na situação brasileira como um todo.
Uma coisa é certa: o que esteve aí nos últimos 25 anos não está funcionando, como
comprovam as recentes análises, nas quais o Brasil vai de mal a pior.
Sou genro e esposo de professoras. Minha esposa lecionou no Mackenzie por 40 anos. Nesses
anos, sempre a ajudei a corrigir provas das turmas de administração, inglês e educação física.
Hoje arrependo-me de não ter feito um compêndio de absurdos escritos por alunos em
quantidade vertiginosamente crescente ao longo dessas décadas. E estamos falando de uma
escola prestigiada! Imagine o resto...
É preciso mudar. Mas o problema não são as escolas cívico militares.
100% de acordo!
ResponderExcluirSim, queremos escolas que possibilitem o pensar livre.
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