domingo, 15 de abril de 2018

A riqueza da diferença



Vivemos um tempo em que as palavras tolerância, inclusão, alteridade, empatia e outras têm ganho muita expressão, justamente pelo recrudescimento de sentimentos e ações contrários ao que elas significam. Mas se refletirmos um pouco, a vida e a natureza já nos dão pistas seguras de caminhos que a humanidade deveria seguir para pacificar-se e harmonizar-se, e enfim canalizar seus enormes conhecimentos, recursos e tecnologias em prol da iluminação cultural e espiritual, e não de guerras, disputas e ódios, que só fazem acirrar.
Os ecossistemas já nos mostram o poder da diversidade. O clímax de uma biocenose, por exemplo uma floresta, seja ela amazônica, atlântica, de araucárias ou qualquer outra, só é alcançado quando condições favoráveis ao longo de tempo suficiente conseguem permitir que toda uma vasta comunidade de espécies, vegetais, animais, fungos, protistas e moneras, macro e micro-organismos, interaja de modo que cada uma contribua para o apogeu das demais. O mesmo se dá por exemplo no solo, ele só atinge sua fertilidade máxima com uma infindável coletividade de minúsculos seres que convivem numa cooperativa simbiose. E nos mares, rios e lagos o mesmo ensinamento: o equilíbrio e a evolução de toda a população dependem da interação das condições do meio e de inúmeras espécies vivas.
Já viram um plantio de araucárias? Em matas naturais, a araucária é uma árvore de grande porte, com robustos troncos e portentosos dosséis. Ela é a árvore mais majestosa, e sob sua generosa proteção desenvolve-se uma multiplicidade de outras árvores, muitas delas igualmente frondosas. Mas num plantio é muito diferente. Não existem outras espécies além das árvores plantadas, e estas são raquíticas, franzinas se comparadas com suas congêneres das matas naturais. Faltam-lhes os nutrientes que são liberados no solo graças à atividade das outras espécies. Assim são também os homens que desejam ver-se cercados senão por iguais. Falta-lhes grandeza, ficam incultos, pobres de ideias, de ideais e de sentimentos. Falta-lhes a compreensão de diversidade.
 Nós seres humanos parecemos ser uma espécie que ainda não aprendeu essa vital lição da natureza. Nosso impulso de predominar tem nos levado a comprometer tanto o meio ambiente que nos propicia as condições essenciais para a vida quanto as outras espécies que constituem conosco a vasta comunidade viva de nosso planeta nos tempos atuais. E, mais agravante, temos acirrado as desavenças e disputas entre nós mesmos seres humanos, seja pelo sempre renitente impulso de predominar, seja pelos instintos de repulsa e beligerância com o diferente, herdados de nossos ancestrais animais ainda completamente irracionais.
Uma metrópole cosmopolita qualquer do mundo, um aglomerado que congrega em sua população gentes vindas de diferentes lugares, povos e culturas, nos mostra, no ambiente artificial construído pelo ser humano, a riqueza da diversidade. A convivência com o diferente nos ensina que, ao contrário de nos ameaçar, ele nos enriquece. O convívio de raças, religiões, idiomas, alimentos, artes, sotaques, subjetividades e racionalidades diversas nos desarma de nossos preconceitos, e nos abre os olhos para quantos encantos estaríamos perdendo se nos víssemos privados desse edificante congraçamento. Numa grosseira comparação, seria como se tivéssemos que comer sempre a mesma comida, ver sempre o mesmo filme, ler o mesmo livro, escutar a mesma música... Ou ter sempre a mesma opinião.
Apesar dos conhecimentos e da sabedoria que já acumulamos ao longo de nossa história, ainda somos uma espécie muito jovem se pensarmos em escala de tempo de evolução do planeta Terra e da vida aqui encontrada, que se estende por bilhões de anos. O Homo sapiens tem apenas algumas dezenas de milhares de anos. Já somos capazes de destruir o planeta, mas ainda somos como adolescentes, não nos livramos de arraigados instintos primitivos de autopreservação da espécie, como a insegurança, a desconfiança, competitividade, agressividade e o segregacionismo de todo tipo.
Hoje o mundo está globalizado, a tecnologia e as facilidades de deslocamentos nos colocam em contato como nunca antes. Tal intercâmbio pressupõe que tenhamos maturidade e serenidade para saber interagir, respeitando e aprendendo com o diferente. Que sejamos capazes de tal interação, pacífica e compreensiva.

3 comentários:

  1. Cada vez mais vamos relembrando que sábio é observar e respeitar a natureza e suas lições.

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  2. Lindo texto, pai! Espero que possamos aprender essa lição da natureza logo, ou acabaremos como os desequilíbrios que acontecem nela...

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