Vivemos um
tempo em que as palavras tolerância, inclusão, alteridade, empatia e outras têm
ganho muita expressão, justamente pelo recrudescimento de sentimentos e ações
contrários ao que elas significam. Mas se refletirmos um pouco, a vida e a
natureza já nos dão pistas seguras de caminhos que a humanidade deveria seguir
para pacificar-se e harmonizar-se, e enfim canalizar seus enormes
conhecimentos, recursos e tecnologias em prol da iluminação cultural e
espiritual, e não de guerras, disputas e ódios, que só fazem acirrar.
Os
ecossistemas já nos mostram o poder da diversidade. O clímax de uma biocenose,
por exemplo uma floresta, seja ela amazônica, atlântica, de araucárias ou
qualquer outra, só é alcançado quando condições favoráveis ao longo de tempo
suficiente conseguem permitir que toda uma vasta comunidade de espécies,
vegetais, animais, fungos, protistas e moneras, macro e micro-organismos,
interaja de modo que cada uma contribua para o apogeu das demais. O mesmo se dá
por exemplo no solo, ele só atinge sua fertilidade máxima com uma infindável
coletividade de minúsculos seres que convivem numa cooperativa simbiose. E nos
mares, rios e lagos o mesmo ensinamento: o equilíbrio e a evolução de toda a
população dependem da interação das condições do meio e de inúmeras espécies
vivas.
Já viram um
plantio de araucárias? Em matas naturais, a araucária é uma árvore de grande
porte, com robustos troncos e portentosos dosséis. Ela é a árvore mais
majestosa, e sob sua generosa proteção desenvolve-se uma multiplicidade de
outras árvores, muitas delas igualmente frondosas. Mas num plantio é muito
diferente. Não existem outras espécies além das árvores plantadas, e estas são
raquíticas, franzinas se comparadas com suas congêneres das matas naturais. Faltam-lhes
os nutrientes que são liberados no solo graças à atividade das outras espécies.
Assim são também os homens que desejam ver-se cercados senão por iguais. Falta-lhes
grandeza, ficam incultos, pobres de ideias, de ideais e de sentimentos.
Falta-lhes a compreensão de diversidade.
Nós seres humanos parecemos ser uma espécie
que ainda não aprendeu essa vital lição da natureza. Nosso impulso de
predominar tem nos levado a comprometer tanto o meio ambiente que nos propicia
as condições essenciais para a vida quanto as outras espécies que constituem
conosco a vasta comunidade viva de nosso planeta nos tempos atuais. E, mais
agravante, temos acirrado as desavenças e disputas entre nós mesmos seres
humanos, seja pelo sempre renitente impulso de predominar, seja pelos instintos
de repulsa e beligerância com o diferente, herdados de nossos ancestrais
animais ainda completamente irracionais.
Uma metrópole
cosmopolita qualquer do mundo, um aglomerado que congrega em sua população
gentes vindas de diferentes lugares, povos e culturas, nos mostra, no ambiente
artificial construído pelo ser humano, a riqueza da diversidade. A convivência
com o diferente nos ensina que, ao contrário de nos ameaçar, ele nos enriquece.
O convívio de raças, religiões, idiomas, alimentos, artes, sotaques, subjetividades
e racionalidades diversas nos desarma de nossos preconceitos, e nos abre os
olhos para quantos encantos estaríamos perdendo se nos víssemos privados desse
edificante congraçamento. Numa grosseira comparação, seria como se tivéssemos
que comer sempre a mesma comida, ver sempre o mesmo filme, ler o mesmo livro,
escutar a mesma música... Ou ter sempre a mesma opinião.
Apesar dos
conhecimentos e da sabedoria que já acumulamos ao longo de nossa história,
ainda somos uma espécie muito jovem se pensarmos em escala de tempo de evolução
do planeta Terra e da vida aqui encontrada, que se estende por bilhões de anos.
O Homo sapiens tem apenas algumas
dezenas de milhares de anos. Já somos capazes de destruir o planeta, mas ainda
somos como adolescentes, não nos livramos de arraigados instintos primitivos de
autopreservação da espécie, como a insegurança, a desconfiança,
competitividade, agressividade e o segregacionismo de todo tipo.
Hoje o mundo
está globalizado, a tecnologia e as facilidades de deslocamentos nos colocam em
contato como nunca antes. Tal intercâmbio pressupõe que tenhamos maturidade e
serenidade para saber interagir, respeitando e aprendendo com o diferente. Que
sejamos capazes de tal interação, pacífica e compreensiva.
Belíssimo texto parabens .
ResponderExcluirCada vez mais vamos relembrando que sábio é observar e respeitar a natureza e suas lições.
ResponderExcluirLindo texto, pai! Espero que possamos aprender essa lição da natureza logo, ou acabaremos como os desequilíbrios que acontecem nela...
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