O livro O tao da libertação (Mark Hathaway e
Leonardo Boff com prefácio de Fritjof Capra, Editora Vozes, 2012), no capítulo
sobre cosmogênese, trata dos conceitos de diferenciação, autopoiesis e
comunhão. Estes três conceitos parecem fundamentais nos dias de hoje em que no
Brasil e no mundo constata-se retrocesso de valores civilizatórios e
democráticos. Andamos confundindo estadistas, que se dedicam à justiça e
inclusão social e à soberania frente a tirânicos poderes hegemônicos globais,
com oportunistas, que se dedicam a satisfazer inconfessáveis ambições e
atavismos pessoais, os quais muitas vezes incluem o serviço à tirania internacional
ou à insânia pessoal. Estamos confundindo esclarecimento e entendimento com
manipulação e ilusão. Estamos confundindo valores civilizatórios, tais como tolerância e solidariedade, com posturas que desagregam a sociedade, como segregação, intolerância e violência.
Segundo os
autores do livro, o cosmos já nos mostra, numa macroescala, os significados dos
três conceitos: diferenciação é o
momento do big-bang, quando a energia concentrada num ponto expande-se e começa
a diferenciar-se nos inúmeros mundos que conhecemos hoje; autopoiesis é a evolução dos mundos em suas singularidades, tal
como a Terra, que por bilhões de anos tem evoluído para ter hoje as extraordinárias
condições para dar suporte à vida como a conhecemos; comunhão é o colapso previsto pelos astrofísicos no chamado
big-crunch, quando todo o universo voltará a contrair-se. O cosmos também
viveria ciclos, ou “respiraria”, como noite e dia, verão e inverno, glaciais e
interglaciais, expiração e inspiração, os batimentos cardíacos... Mas os
conceitos também são aplicáveis à natureza humana, a como evoluímos como
pessoas e como espécie.
Diferenciação
seria então a nossa individuação, quando passamos a ter personalidade própria,
e deixamos de ser gado tangível, ou massa de manobra. A rebeldia talvez seja o
primeiro sinal da diferenciação, é bom que cuidemos de entender que um jovem
rebelde mostra sinais de que está evoluindo para além da mesmice das massas amorfas,
é bom que saibamos orientá-lo para avançar para os conceitos seguintes. A
diferenciação, ou individuação, é essencial para que comecemos a ser capazes de
refletir sobre as trocas que vivenciamos entre nosso interior e o exterior.
Passamos a ser mais críticos, passamos a pensar, passamos a discernir.
Autopoiesis ou
autopoesia é o passo seguinte. É a construção da poesia em si mesmo. Poesia no
sentido de sensibilidade, reconhecimento e valorização do belo e do sublime, evolução
da sabedoria e força interior, fortalecimento e
aperfeiçoamento do caráter alcançado na diferenciação. É quando
construímos nossa identidade, nossa subjetividade, nos organizamos
interiormente através de valores e condutas harmoniosas e edificantes.
Comunhão começa
quando, com a maturação da autopoiesis, conseguimos sair de nós mesmos e
estabelecemos a empatia com o que nos cerca, os outros seres humanos que são o
nosso próximo, os outros seres vivos do planeta, o planeta que é nosso lar e nos supre tudo que necessitamos para viver. O início da comunhão nos torna
mais tolerantes, mais compreensivos, mais generosos, mais responsáveis, conosco
mesmo, com a diversidade de seres humanos tão desiguais com quem compartilhamos
este momento na existência do planeta, com animais e plantas, com as águas, os
solos, as florestas, o ar que respiramos... Tão quimérico quanto imaginar o
big-crunch da cosmogênese, seria imaginar onde nos levará o clímax da comunhão.
Talvez o congraçamento das almas numa única alma iluminada, como é a crença de
algumas religiões orientais.
Deveríamos
refletir sobre os conceitos de diferenciação, autopoiesis e comunhão. Quanto já
conseguimos nos diferenciar, isto é, quanto já deixamos de ser como gado
tangido? Quem estaria hoje a nos tanger? Talvez a grande mídia, talvez as
fake-news que incorporamos e replicamos sem um mínimo de discernimento? Talvez
simplesmente um consenso construído sabe-se lá por qual soma de agentes que têm
o propósito de nos manipular?
E como anda a
nossa autopoieisis, que poderíamos traduzir como a nossa
educação, a nossa cultura, o cultivo de valores civilizatórios e generosos que
nos ampliem e melhorem nossa visão de mundo e de humanidade?
Parece que
estes três conceitos estão contidos nas mensagens que nos foram trazidas pelos
grandes missionários das religiões do mundo. Cristo teria dito “amar ao próximo
como a ti mesmo, e a Deus sobre todas as coisas”. É possível que não estejamos
sabendo amar nem a nós mesmos, quanto mais ao próximo. Quanto a Deus, visto que
mesmo os teólogos divergem sobre quem seja, podemos admitir que ele esteja
manifesto na Natureza, no Universo. Está manifesto também nesta maravilhosa
singularidade que é o planeta Terra. Como temos cuidado dela?
Sem dúvida , a única forma de encontrar Deus é a atraves da natureza , que como sabemos procura o equilíbrio , o caminho do meio
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