A suada vitória nos acréscimos do Brasil sobre a Costa
Rica nesta copa nos faz lembrar o excelente livro “Veneno remédio: o futebol e
o Brasil” do interdisciplinar José Miguel Wisnik (professor de literatura,
músico, ensaísta). No livro, o autor discute a importância do futebol para a
construção da identidade e da autoestima do brasileiro, ajudando-nos a superar
o complexo de vira-lata aprofundado com o “maracanazo” de 1950, quando o time
do Uruguai calou um Maracanã lotado com perplexos cento e setenta mil
torcedores, vencendo com uma heróica virada sobre a seleção canarinha.
O que pouco se sabe no Brasil, o que é explicado pelo
escritor uruguaio Eduardo Galeano em seu livro “Espelhos: uma história quase
universal”, é que o time do Uruguai tinha motivos de sobra para superar-se e
vencer o favorito Brasil. Antes da copa os jogadores uruguaios tinham travado
uma batalha moral e judicial em seu país, em favor da profissionalização e de
contratos mais justos para os atletas. Tiveram de fazer greve e enfrentar a ganância
de dirigentes e empresários, e nessa luta urdiram a têmpera e a solidariedade
para vencer o Brasil naquela memorável final.
Contra a Costa Rica reapareceram alguns ecos daquela
final, ainda que bastante mudados. Enquanto o time do Brasil procurou,
principalmente com sua estrela maior, levar vantagem com simulações de faltas,
o resultado não apareceu. Quando, muito em função da pressão da proximidade do
fim da partida, as simulações deram lugar à garra e à objetividade, os
redentores gols enfim aconteceram. Simulações buscando vantagens ilegítimas
tornam o conjunto frouxo e ineficaz. A garra e a entrega trazem resultados.
Podemos fazer um paralelo entre essa angustiante partida
de futebol e a situação do país. Assim como o time brasileiro, cheio de craques
e com domínio do jogo mas com muitas oportunidades perdidas, o Brasil também
tem muito potencial, mas tem perdido as oportunidades para consolidar-se como
uma grande nação. Nossos potenciais são a nossa dimensão continental, as
imensas riquezas naturais, a mestiçagem de povos e culturas com relativamente
discretos conflitos, um único idioma, uma religião predominante, uma índole
inegavelmente pacífica e amistosa.
Nossos erros, que acabam por aniquilar os muitos
potenciais que temos, são também numerosos. O maior talvez seja a cegueira de
não saber jogar como equipe. O exagerado individualismo de muitos, que na busca
de satisfazer um egoísmo insaciável comprometem o desempenho do todo. Ao invés
de levarem adiante uma jogada de equipe que beneficiaria o coletivo, procuram a
glória e o proveito pessoal, e para isso não hesitam em simulações, fraudes,
farsas, e o pior, perdem a cabeça e começam a cometer violências e falcatruas escandalosas.
Pena que, no nosso caso, os juízes pareçam ser
irremediavelmente parciais e coniventes, e não contem com o auxílio de um
arbítrio supostamente menos tendencioso e suspeito, como o vídeo assistente dos juízes desta
copa.
Uma boa comparação, e realmente é uma pena que os nossos juízes sejam tendenciosos.
ResponderExcluirBrilhante analogia com a ajuda de dois craques do texto: Galeano e Wisnik. Bela crônica.
ResponderExcluirMas sera que um dia vamos virar o jogo e nosso povo vai sair vitorioso?
Carlos SA.