─ Pedro, que comoção é aquela que estou sentindo naquele
planeta miraculoso que criamos para experiências... como é mesmo o nome?
─ Terra, Mestre.
─ Isso, isso, a Terra. Onde colocamos benesses sem fim e aquelas
almas recalcitrantes recolhidas por todo o universo que ainda tinham muito que
aprender. É de lá que vem essa energia que estou sentindo que destoa de todo o cosmos?
─ É de lá mesmo Mestre.
─ O que se passa por lá? Alguma catástrofe natural?
Alguma convulsão daquelas almas, que pelo que já vimos vivem a meter-se em
guerras e conflitos?
─ É a copa do mundo de futebol, Mestre. Seleções dos
países enfrentam-se, a vitoriosa é a campeã mundial de futebol. Acontece a cada
quatro anos.
─ Mas, futebol?! Não é aquele esporte jogado até por
moleques descalços e famintos de periferias miseráveis, em campos de terra ou
areia nas várzeas ou nas praias? A bola às vezes improvisada com trapos e
trastes velhos?
─ Isso mesmo. Justamente por isso tornou-se um esporte
mundial, praticado por todos. A copa do mundo é o único evento esportivo que
para todo o planeta. Todos a acompanham, até mesmo os países cujas seleções não
chegam a classificar-se para o certame, que é muito disputado. Mas hoje em dia
mudou muito. Continuam acontecendo peladas nas praias e várzeas como antes, é
lá que aparecem os talentosos. Mas os craques são negociados a peso de ouro. Fortunas
incalculáveis giram em torno dos clubes, das seleções, dos campeonatos e dos
direitos de imagem.
─ Então é isso! E essa vibração que senti é em
consequência de algum confronto especial?
─ Sim, foi uma partida em que jogou o Brasil, lembra-se? Aquele
país que o Mestre propositalmente abençoou dentro daquele planeta já abençoado,
mas que não vinha dando certo por causa dos desacertos de seu povo e dos
dirigentes por ele escolhidos? Pois o Brasil já foi uma potência no futebol. Dizem
especialistas que o esporte foi o responsável por erradicar um certo complexo
de vira-lata que acometia aquele povo peculiar. O adversário do Brasil desta
vez foi a Bélgica, dos chamados diabos vermelhos, um país da Europa. E eles venceram
o Brasil. Foi um jogo disputado, mas os diabos vermelhos souberam se impor.
Marcaram o primeiro gol meio casualmente, e então o time do Brasil abalou-se,
desestruturou-se. Quase levou outros gols logo em seguida.
─ Óxi! Até no futebol essa concorrência... Nós tramamos
para emancipar aquele país e seu povo, e vêm os diabos vermelhos e os derrotam?
─ Pois é! O Brasil vem sofrendo derrotas amargas. Há
quatro anos a copa foi lá no país, e sofreram uma humilhante derrota dentro de
casa, para adversários que eram tidos até então como fregueses históricos...
─ Estou me lembrando disso. Não foi quando nosso
Departamento de Compensação de Iniquidades teve de interferir, por conta de uma
grosseria sem precedentes para com a presidenta, a primeira mulher eleita para
governar o país?
─ Isso mesmo Mestre. Sua memória está melhorando com
aquelas rezas de Santa Luzia e as infusões de alho com losna.
─ Mas diga-me, como o Brasil que já foi uma potência no
futebol anda sofrendo essas derrotas? Desta vez nosso Departamento de
Compensação de Iniquidades não interferiu. Ou interferiu?
─ Não foi preciso, Mestre. O time pareceu encarnar a
frouxidão do povo do país diante de adversidades recentes que têm acontecido
por lá. Aquela grosseria com a presidenta eleita na copa anterior foi só um
detalhe. Muita coisa tem acontecido desde então. Sabe aquelas benesses todas
com as quais abençoamos aquele país continente? Os solos férteis, a água
abundante, os rios e a energia hidrelétrica, os minérios, o petróleo e tantas
outras coisas? Pois os brasileiros não estão zelando por elas. Estão deixando
oportunistas inescrupulosos que usurparam o poder entregarem as riquezas do
país a poderosos e corruptores interesses internacionais.
─ Uma pena, Pedro. Mas já prevíamos isso não é? Não foi
por esse motivo que colocamos juntos no mesmo país benesses naturais e um povo
ainda com muito a aprender?
─ Sim, foi isso mesmo. Foi proposital. Uma experiência.
─ Torço para que essa experiência dê certo! E aquele povo
aprenda que é no caráter que praticamos no dia a dia que se forja o caráter
para as grandes batalhas.
Achei ótimo, tomara que a população brasileira possa fazer uma reflexão sobre essas questões.
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