Alegro-me
deveras de constatar a ACIPG – Associação Comercial, Industrial e Empresarial de
Ponta Grossa – engajar-se em campanha a
favor do voto consciente. Concluo que agora a prestigiosa associação estará ela
mesma esforçando-se por conscientizar-se das posições que tem abertamente
defendido na cidade.
Primeiro, a
posição de que os cidadãos que são beneficiários de programas sociais como o
Bolsa Família e outros não possam votar, pois sobre tais cidadãos poderia pesar
a acusação de compra de voto. Fico muito feliz de ver a associação repensar
esta assertiva por ela feita anos atrás. Até eu cheguei a pensar que, perante
tal ponto de vista, não teria legítimo direito de votar, pois participava de
projetos de pesquisa financiados pelo governo. Como beneficiário, era também
alguém propenso a querer dar meu voto ao governo que me beneficiava. E como eu,
também tantos outros beneficiários de programas governamentais, de crédito
rural, de casa própria, de financiamento de veículos, negócios, empreendimentos,
eletrodomésticos, não poderiam votar.
Depois, a
posição de que a proteção ambiental atravanca a produção e a economia. Essa
posição já havia sido fortemente defendida quando da criação das unidades de
conservação federais na região nos idos de 2005-2006, como o Parque Nacional
dos Campos Gerais. Mas foi nos ataques à Área de Proteção Ambiental da Escarpa
Devoniana, no ano passado, que a defesa dessa posição ganhou mais veemência. Entendo
que ao propor a conscientização, a associação está se propondo a refletir sobre
o papel das unidades de conservação, uma preocupação internacional prioritária.
Elas têm a função de preservar condições ecológicas e ambientais
imprescindíveis para proteger a vida no planeta, não só a biodiversidade que
nos cerca, mas a própria espécie humana, garantindo inclusive o equilíbrio
ecológico necessário para a manutenção da produtividade agrícola que nos
abastece de alimentos e outros recursos vitais.
A terceira
posição que espero que a associação esteja revendo em sua proposição de consciência
é a do anúncio da defesa da intervenção militar como solução para os problemas
atuais do Brasil. Quem faz tal defesa ou ignora História ou ignora o que sejam
valores civilizatórios. Quem acredita que intervenção militar seja diferente de
ditadura militar é de uma irremediável credulidade. Deveria conhecer melhor a
história da ditadura militar no Brasil, que começou como um golpe para salvar o
país. Deveria ler o livro “Brasil: nunca mais”, com prefácio do conceituado e saudoso Cardeal Dom
Paulo Evaristo Arns, uma expressão do Catolicismo no Brasil, para conhecer a
quais barbáries o estado de exceção pode conduzir. Barbáries que impõem
sequelas ao país até hoje, ainda não nos recuperamos da violenta repressão a
uma geração inteira de pensadores, de artistas, de nacionalistas, de idealistas, de homens
públicos com verdadeiro espírito democrático.
Confiante que
sou no poder da solidariedade e inclusão social, do senso de empatia e respeito
para com a natureza e dos princípios republicanos para a transformação da sociedade
de desacertos que vivemos hoje, saúdo a convocação da associação ao voto
consciente. Mas fico com a forte impressão que, se pensamos em uma sociedade
melhor, é ela, a associação, aquela que com mais urgência precisa fazer um severo exame de consciência.
Como sempre, um texto preciso. Compartilhando.
ResponderExcluirTomara que os integrantes da ACIPG leiam e reflitam.
ResponderExcluirBom dia Mário Sérgio. Não conheço as instituições de Ponta Grossa, mas quer me parecer que, por trás das posições da dita associação, esteja o voto Bolsonaro: bem ao feitio ... o que é lamentável, profundamente lamentável!!!!
ResponderExcluirNossa sociedade está doente.
ResponderExcluirMuito triste .
Acho que raras são as pessoas com consciência do outro.